CONTO VI

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~Conto VI: O porão sinistro~

A minha família decidiu que iríamos passar as férias numa serra, para termos contacto com a natureza. Para isto alugámos uma pequena e antiga casa segura numa pequena área plana da montanha, para ficarmos durante duas semanas.

No andar térreo a casa tinha uma sala de estar, uma casa-de-banho e a cozinha. Os quartos eram no andar de cima e havia ainda um porão, no andar debaixo do térreo, que era usado apenas como depósito de coisas velhas, contendo um sofá, armários, caixas fechadas, móveis velhos e outras coisas sem muita importância.O primeiro dia nesta casa passou-se de forma tranquila: passeámos pela aldeia perto da montanha, vimos várias espécies de plantas e outros seres vivos e voltamos já ao final da tarde, fizemos um delicioso jantar, brincamos e convivemos e fomos dormir todos esgotados pelas atividades do dia.Na segunda noite algo sinistro aconteceu: fomos acordados a meio da noite por um grito terrível vindo do quarto da minha irmã. Quando o meu pai chegou até lá encontrou-a sentada na cama, enquanto gritava e chorava muito. O meu pai sentou-se ao seu lado, abraçou-a e perguntou o que tinha acontecido.Ela contou que tinha acordado por sentir um cheiro horrível. Quando ela abriu os olhos disse que tinha visto o quarto inteiro encharcado de sangue, as paredes possuíam marcas de mãos e pés, e o líquido vermelho escorria pelas paredes e havia respingos dele por todos os lados.Todos pensaram que tinha sido apenas um pesadelo, porém minha irmã recusou-se a dormir novamente naquele quarto e acabou por se mudar para o dos meus pais até o final das férias.No outro dia a minha mãe estava a fazer o almoço, enquanto o meu pai tinha saído para ir comprar leite, e nós explorávamos o sinistro porão, examinando cada coisa velha que encontrávamos por lá. Até que ouvimos um grande estalo e a luz apagou deixando-nos na escuridão. Apesar de ser dia, o lugar ficava quase todo escuro, sendo iluminado apenas por uma pequena claridade que vinha do andar superior, o que nos permitiu ver apenas as paredes de pedras antigas.Eu comecei a ficar com medo, sem claridade aquele porão era assustador, nós estávamos paralisadas sem saber bem o que fazer. De repente um mau cheiro, começou a invadir os nossos narizes, fazendo-me sentir um enorme enjoo... Era um cheiro de carne podre, como se houvesse algum animal morto por ali.Um barulho veio de um canto escuro, parecia que algo metálico e pesado se arrastava pelo chão. Eu e minha irmã gritamos e saímos a correr em direção da porta. Subimos a escada e lá embaixo ainda podíamos ouvir algo como se tivesse a arranhar o chão. O cheiro de podridão aumentava e a porta não queria abrir. Nós batíamos na porta e gritávamos sem parar, até que a minha mãe a abriu com cara de assustada.Contámos-lhe o que tinha acontecido: a escuridão, o cheiro de algo podre e da coisa que se arrastava pelo chão. Ela disse que estávamos impressionadas pelo lugar antigo e que ia descer até lá e substituiria a lâmpada, que provavelmente estava queimada.Apreensivas, eu e a minha irmã ficámos no topo das escadas, enquanto a minha mãe descia para o porão com uma lâmpada e uma lanterna nas mãos, o tempo que ela ficou lá embaixo pareceu uma eternidade. De repente ela surgiu da escuridão subindo os degraus correndo, fechou a porta do porão e sentou-se em uma cadeira com a respiração descontrolada. O seu rosto estava totalmente branco e os seus olhos arregalados de medo.- Eu não quero que vocês descam até aquele porão novamente! - disse ela em voz alta, quase gritando.Em seguida pegou no telefone e foi para a sala onde ligou para a policia. Nós ouvimos ela a dizer que tinha visto alguém no porão. Enquanto esperávamos pela policia, ficámos todas juntas, a olhar assustadas para a porta que ia para o andar inferior, receosas que a qualquer momento, alguma coisa, ou alguém saísse de lá. A nossa mãe recusou-se a dizer o que tinha visto lá embaixo.Quando a policia chegou, nossa mãe recebeu-os e chamou-os para entrar em casa. Chegou até a porta do porão, destrancou-a e eles desceram até a escuridão, com lanternas e as armas em punho. Ficaram por um longo tempo procurando, mas não encontraram nada. O mais curioso é que não havia outra forma de sair lá debaixo, porque o porão não tinha outras portas ou janelas.Assim que os policiais saíram, a minha mãe contou o que tinha visto lá no porão: ela estava a apertar a lâmpada no bocal quando começou a sentir o cheiro horrível que havíamos descrito, e que em seguida passou a ouvir um barulho estranho. Então ela apontou a lanterna por todos os cantos até que avistou algo entre um móvel antigo e a parede de pedra.Era um homem agachado,com as suas roupas rasgadas, os seus cabelos eram compridos e desgrenhados, e o seu rosto estava todo distorcido, como se estivesse com uma expressão de ódio. Assim que a luz da lanterna apontou para o seu rosto, a minha mãe viu seus olhos vermelhos e então ele fez um movimento para o lado, desaparecendo por entre as coisas velhas que haviam por lá. Neste instantea minha mãe deixou a lanterna cair das suas mãos e saiu do porão correndo.Depois disso, tivemos que ficar mais aquela noite na casa...

Trancamos a porta do porão e colocamos algumas cadeiras na frente, rezando para que aqueles sinistros acontecimentos a que tínhamos assistido não voltassem a repetir-se agora. Todos decidímos dormir no quarto de meus pais com a porta bem trancada. Antes de apagar-mos as luzes, a minha mãe e o meu pai, que entretanto já tivera conhecimento do acontecido, tentaram acalmar-nos dizendo que enquanto nós os quatro estivéssemos juntos, nada de mal nem fora do normal nos aconteceria. Minha mãe avisou também que se alguém precisasse de ir á casa-de-banho devíamos acordá-la para irmos acompanhadas. Decidimos após isso, dormir. Como a cama era grande, cabíamos os quatro nela. A meio da noite, acordei sentindo um cheiro ainda mais intenso que o de dia. Ia levantar a cabeça mas algo me segurou para baixo.

"Tem calma amor. Sou só eu..."-Uma voz masculina que embora eu não conhecesse, me transmitiu tranquilidade. Seria provavelmente o meu pai. Senti-me mais calma e ajeitei-me novamente na almofada voltando a adormecer. No entanto podia jurar que embora a dormir, algo me dizia que se estava a passar alguma coisa terrível.

Quando acordei o quarto estava vazio e a porta estava aberta. Não sabia que horas eram, mas visto que já entrava luz na janela e não estava mais ninguém no quarto presumi que já se tivessem levantado e começado a arrumar as coisas para sairmos desta casa maléfica e assombrada. Desci as escadas lentamente estranhando o silêncio e estaquei a meio pois ao olhar para a sala as cabeças decapitadas da minha irmã, do meu pai e da minha mãe estavam penduradas por cima da lareira, enquanto os seus corpos rasgados, esfaqueados e cheios de sangue estavam espalhados pela sala.

Enquanto as lágrimas me vinham aos olhos ao ver aquilo tudo não me apercebi do que estava a acontecer. De repente ouvi passos e paralisei ao ver a criatura que a minha mãe descreveu que tinha visto ontem no porão. O monstro parou quase ao pé das escadas, vi os seus olhos vermelhos, e este sorriu-me.

"Bom dia amor, como dormiste?"-Tremi ao reconhecer que era a mesma voz que ontem pensei ser do meu pai...


~FIM DO CONTO VI~


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