Era uma noite chuvosa e eu estava apenas com os meus pais dentro do carro. Estávamos a ir em direção a um vasto terreno coberto por um imenso milharal que pertencia ao meu pai, visto que à minutos atrás um dos trabalhadores do meu exemplo paterno lhe ligou para ir ao local ter com ele. Todos achamos estranho então decidimos todos ir ver. O meu pai ia mais ou menos a 90 km/hr e a minha mãe gritava para ele ir mais devagar porque para além de estar a ultrapassar a velocidade decretada por lei, estava o alcatrão molhado. Eu estava aterrorizada, mas finalmente tínhamos chegado ao milharal. Estávamos a andar por um caminho traçado bem no meio daquele campo plantado de verde quando de repente as luzes do jipe onde estávamos se apagaram. Começou a sair imenso fumo do motor e pelo que me pareceu o carro desligo-se.
O meu pai saiu do carro e disse que ia ver o que se passava la fora. Na fração de segundo seguinte ouviu-se um grito e ouviu-se o som de algo a ir contra aquelas plantas que ficavam mais altas que o carro. A minha mãe disse para ter calma que devia ser um animal selvagem a comer as maçarocas de milho.
Passou-se, sensivelmente, uma hora e o meu pai ainda não havia regressado. A minha mãe começara a ficar impaciente e à mínima coisa que eu dizia ela gritava comigo, mas duma forma baixa e sinistra. Não sei o que lhe deu mas acho que o seu sexto sentido lhe indicava que alguma coisa tinha acontecido ao seu marido e ao meu pai. Acho que foi por isso que ela saiu do carro apenas me dizendo que já voltava. Não sei porquê nem o que me captou a atenção, mas eu virei-me pra trás e... Estava um rasto de sangue misturado com lama e com lembranças dos que passaram alegremente por esse caminho. Olho para a frente, oiço outro grito, e vejo ao que me pareceu uma bola de tinta vermelha a explodir mesmo no para brisas. Mas...calma... Era sangue! E que aterrorizada eu estava... Olhei e reparei que estava escrito alguma coisa. " vais arder no inferno, no meu inferno Ann". Tranquei rapidamente as portas todas, acho que nunca tinha sido tão rápida em toda a minha vida. Liguei o rádio para me tentar abstrair, mas acho que o som do meu pânico misturado com a chuva abafava o som da música calma.
Ouvi um barulho, olhei para o lado e vi um homem já com alguma idade, com uma gabardina para a chuva, com uma barba meio suja de sangue, talvez estivesse suja de qualquer outra coisa mas parecia sangue. Tinha uma foice numa das mãos e foi com ela que bateu bateu no vidro entre-aberto do jipe. " olá, eu estou um bocadinho longe de casa, será que me podias abrir um bocadinho a porta para eu entrar? É só até chover menos, eu depois vou para casa ter com os meus netos" disse ele. A sua voz era rouca, sinistra e velha. Por momentos conti a vontade de gritar por socorro, mas os meus pais sempre me disseram para ser boa pessoa então deixei-o entrar.Arrependimento. Único sentimento que ainda sobrava. Ele pegou na foice e rasgou-me a garganta, ceifando-me a alegria, ainda que escassa, era a única que me restava. E ali fiquei eu, com os meus pais desaparecidos, com o velho a violar-me, eu a sangrar cada vez mais da garganta e a musica calma do rádio a embalar a minha morte.