Os Holofotes

Capítulo 3

" Você foge comigo pra São Paulo ? "

Repetiu o Guilherme olhando fundo nos meus olhos e um sorriso amarelo que começava a vacilar .

" Guii, você só pode estar de sacanagem comigo ! Tá falando sério sério sério mesmo ?? "

Falei ainda na mesma posição, não movi nem um músculo

" To sim Bia. Eu te amo mais que tudo neste mundo e sei que o seu sonho é sair daqui e ser uma modelo de sucesso . E eu estou disposto a seguir você até ao seu sonho. "

" Mas este não é o SEU sonho . Você nunca esteve interessado em ir às grandes cidades, você nunca quis sair daqui sequer... "

E aí comecei a pensar no tamanho do sacrifício que o Guilherme estaria fazendo por mim . Desistir da vida que ele sempre quis pra ele mesmo só pra me ajudar a seguir o meu sonho ? Aí meu Deus o que é que eu faço agora ? Será que é justo da minha parte aceitar isso dele ?
Levanto do colo dele e ando dum lado pro outro pensado e remoendo tudo isto na minha cabeça. Eu quero tanto ir, seria a minha oportunidade. Mas onde a gente iria ficar ? E as despesas ?

" Guilherme você não tá pensando bem nisto ! Onde a gente vai ficar quando chegar lá ? Como a gente vai fazer pra comer ? E de onde se começa a procurar oportunidades de modelo ? A gente não sabe nada sobre isso! "

Eu falo entrando em pânico. Guilherme me abraça com calma e afaga o meu cabelo enquanto fala de forma suave em meu ouvido:

" Confia em mim meu amor, eu tenho tudo planeado . Tenho um primo que vive lá e que vai viajar pra França trabalhar. Quando soube falei logo com ele pra ver se ele deixava a casa comigo e ele aceitou . "

" E o resto ? "

" Eu sou seu homem Bia, vou garantir a nossa estabilidade . Posso não te dar luxo, mas prometo dar o meu melhor pra gente viver confortavelmente. "

Eu não to acreditando no que ele tá falando agora . Onde eu fui apanhar este anjo ?
Será que a gente consegue ?

" Aii Guilherme eu te amo ! "

Saltei pros braços dele e dei um abraço bem apertado que eu acho que ele até ficou roxo. Senti a sua mão brincando com o meu cabelo e dps desceu pra minha cintura onde ficou a fazer círculos com a ponta dos dedos. Ficamos nessa uns bons 5 minutos sem falar nada, apenas num silêncio confortável e nada constrangedor. Durante esse abraço fiquei imaginando o desenrolar que a minha vida podia ter com essa oportunidade e foi aí que me lembrei do ponto mais importante desta história toda.

A minha mãe.

Como fui me esquecer dela ? O que será dela sem mim aqui ? E a horta ?
Guilherme deve ter sentido meu corpo enrigecer no seu abraço porque me perguntou se estava tudo bem e eu não consegui lhe responder . Apenas fiquei estática, se não congelada, a pensar nas consequências dos meus actos. Eu não posso fugir com ele pra São Paulo, quem é que eu to tentando enganar ? A minha mãe precisa de mim...

" Amor, o que se passa ? Você tá pálida, parece que viu um fantasma. Será que você mudou de ideias ? "

" Guilherme ? E a minha mãe ? "

Os olhos de Guilherme mudaram de pânico pra suave em 2 segundos e pude ver em seu semblante que ele me compreendia. Ele respirou fundo e sentou - se no sofá com as mãos juntas encostadas à boca e eu ali parada me abraçando tentando ver uma maneira de explicar pra minha mãe que eu preciso ir.

" É, eu realmente não tinha pensado nisso... "

" É "

Falei simplismente. O clima desceu uns 100 graus agora que a gente se encontrou com um problema e a esperança começava a escapar da minha mão como água.