Conto 07 - Cinderela e a Besta de Gévaudan

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Estou empoleirada em um galho firme de uma das árvores da floresta, enquanto espero pacientemente.
O céu acinzentado vai aos poucos escurecendo, à medida que a noite vai caindo. Faço uma careta ao ouvir a minha barriga roncar. Espero que isso não demore demais.

Escuto um barulho à minha esquerda e um meio sorriso surge em meu rosto enquanto eu observo um corpo magro se aproximar abaixo de mim. Conto até três e então pulo, me jogando em cima do ladrão que cai desorientado, se debatendo de forma inútil.

Reviro os olhos enquanto tiro uma corda fina do meu bolso, imobilizando e amarrando os braços de Rox.

- Desse jeito eu vou começar a pensar que você é apaixonada por mim, Cinderela. É a terceira vez só nesse mês.

Saio de cima do ladrão, limpando a sujeira na minha calça de couro, enquanto reviro os olhos.

- Eu não viveria atrás de você se não se metesse em tantos problemas. Roubar animais? Que clichê.

Rox começa a tagarelar, mas eu o ignoro e me afasto. Levo as minhas mãos a boca, produzindo um som semelhante ao canto de um pássaro.

Alby aparece minutos depois em cima de um cavalo, a expressão rabujenta de sempre. Ele desce de cima do animal e se aproxima, a pele pálida contrastando com as roupas negras de alta costura.

- Demorou mais do que o combinado - Ele reclama antes de se virar para Rox com uma expressão de superioridade.

- Rox Blake, você está novamente sendo preso, em nome da minha mãe, a Rainha dos Assassinos. Eu, Alby Griffin, sucessor e herdeiro do trono o levarei sob custódia. Recomendo que não reaja.

Rox revira os olhos.

- Você me capturou? Cinderela fez isso. E aposto que foi ela quem me localizou também, não só nessa mas também nas outras nove vezes. Além do mais, isso chega a ser um absurdo. A Rainha não tem mais o que fazer além de mandar o filho atrás de mim? Diga a ela que não me interesso por mulheres muito mais velhas.

Mordo a língua para evitar a risada enquanto noto o príncipe pousar a mão sobre a espada que leva junto ao corpo mas felizmente parece mudar de ideia, dando meia volta até o seu cavalo.

Como eu não possuo um animal a minha disposição, terei que voltar andando para casa, o que me lembra de agradecer a Rox pelo favor.

- Da próxima vez, escolha um lugar mais perto para cometer seus crimes, seu idiota. Vou ficar com calos nos pés de tanto caminhar. - Eu reclamo.

Rox sorri enquanto nós seguimos de volta para o Castelo, onde o ladrão voltará para o seu castigo e eu retomarei o meu.

A diferença é que depois de pouco tempo, ele está livre novamente.

Quando nós enfim chegamos ao Reino Vermelho, eu passo pelas enormes portas de cristal que guardam o Castelo de Sangue com Rox ao meu lado. Na verdade toda a cidade de Gévaudan pertence a Rainha, mas essa é a única parte que realmente lhe interessa. E cada moeda que ela retira dos moradores da cidade, é investido no conforto e luxo do castelo.

Alby desce do seu cavalo de forma dramática, e toma Rox pelo braço, para que todos pensem que foi ele quem capturou o ladrão.

Guardas aparecem com o uniforme vermelho e preto, as cores oficiais da Coroa, prontos para ajudar o príncipe. Um deles guarda o cavalo enquanto outros dois seguram Rox pelos braços, depois de inúmeras reverências e cumprimentos.

O dia já está amanhecendo e eu me espreguiço, sentindo o cansaço pesar sobre os meus ossos. Depois de caminhar por horas, tudo que eu quero é um pouco de descanso.

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