Conto 17 - Doces ou Travessuras?

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A palavra fada teve origem do latim "Fata", plural de "Fatum", que significa fado, destino. Dessa forma, acredita-se que as fadas são responsáveis por intervir no destino das pessoas.

   O som da música preenchia minha mente completamente e por um momento eu não estava pensando em mais nada. Quando Melissa disse queria dar uma festa de Halloween depois que nossos pais viajaram eu confesso que torci o nariz, mas agora eu vejo que foi uma boa ideia. Minha irmã havia feito algo que eu achava impossível: eu esqueci do vestibular, das provas, e por pelo menos uns minutos eu ignorei a pressão que se concentrava no meu cérebro para eu ser inteligente o suficiente e entrar na mesma faculdade que ela.

     Com certeza o que me ajudou muito a me distrair de tudo aquilo foram as fantasias que os outros usavam. Um cara barbudo, por exemplo, estava de Anabelle, mas o intuito da fantasia era muito distante do original, ele mais me fazia rir do que sentir medo. Um outro vestia uma peruca loira, um maiô muito estranho e segurava uma bola plástica com uma corrente, e de imediato eu não soube o que era. Depois de uma dica que ouvi do seu grupo de amigos percebi que ele era a Miley Cyrus em Wrecking Ball.

    Não havia nenhum zumbi, o que era uma pena. Quer dizer, tinha um garoto com uma camisa branquíssima rasgada com uma maquiagem roxa ao redor dos olhos, mas ele lembrava mais uma caveira. Já outra menina nem parecia fantasiada, até eu olhar para sua cintura e ver uma criatura pequena de olhos brancos, como se ela estivesse grávida de algo maligno e feto tivesse rasgado sua barriga para se libertar. Toda vez que eu olhava para aquilo eu me via franzindo a cara, quase duvidando se aquilo era real. Era, de longe, a melhor fantasia da festa.

      Minha fantasia basicamente era a de bruxa da minha irmã do Halloween passado, com o chapéu, meia calça, sapatos, maquiagem e vestidos pretos. Se não fosse meu cabelo loiro caindo nos ombros eu seria uma gótica exemplar.   Melissa esse ano estava de Noiva Fantasma e seu namorado, Rafael, de Edward Mãos-de-Tesoura.  Os dois dançavam no meio da sala cercados de pessoas.

       Minha casa, por sinal, nem parecia minha casa, graças à minha irmã e sua decoração perfeita. Ela tinha feito um ótimo trabalho no seu pouco tempo de organização. Morceguinhos e abóboras de cartolina amarrados em barbantes atravessavam as paredes de canto a canto. Luminárias de plástico em formato de abóboras iluminavam pontos estratégicos, lançando sombras nos lugares mais convenientes de cada cômodo. E até o pisca-pisca de Natal ela havia usado, com cuidado de cobrir cada lâmpada com copos recortados em formato de fantasminhas. Ela também colocou duas abóboras gigantescas na frente da casa, que eu somente vi prontas já com seus olhos e bocas, talvez alguns amigos da faculdade tivessem trazido.

      Quanto a comida eu quase nem vi - não estava com fome para procurar - mas bebida tinha muita. Minha irmã deixava eu beber se quisesse, eu só não gostava mesmo. E a música, minha nossa, estava tão alta que com certeza um vizinho esperava dar dez horas para reclamar, imaginando que a lei do silêncio era válida apenas para noite.

    Eu não fazia ideia como ela tinha feito tudo aquilo, Rafael ajudou é claro, mas era muita coisa ainda. Nossos pais viajaram ontem, sábado, porque minha tia sofreu um acidente e estava em coma. Eles não deixaram a gente ir, eu tinha escola amanhã e minha irmã faculdade. Na verdade, eu acho que Melissa até podia ir, eu era o problema, eu tinha que me concentrar e estudar para o vestibular. Meu pai pode ser muito rígido e exigente, e ele fazia questão de que eu entrasse na mesma faculdade de Melissa, que por sinal era melhor e mais concorrida do estado.

      Minha irmã, além do talento de organizar uma festa de um dia para o outro, conseguiu entrar na melhor faculdade, ter um namorado e trabalhar no Google.     No colégio, ela sempre tirava boas notas sem parecer nerd, e ser popular sem precisar de brigas ou humilhar ninguém. É o tipo de pessoa que você odeia quase sem razão, apenas pelo desejo de estar no seu lugar. Eu sentia falta dela esse ano na escola, mas, de certa forma era até mais fácil enfiar a cara nos livros quando ela não estava presente.

Halloween - Contos 2015Onde histórias criam vida. Descubra agora