Foi tudo tão de repente... Aquele cadáver estirado como um nada, a noite escura absorvia as últimas dores de sua vida . Uma luz, a lua, cegante aos meus olhos, parecia vir em minha direção, eu não conseguia me mover! Tentei pedir ajuda, dizer algo... Minha voz não saia, então eu acordei; sozinho no meu quarto, ofegante e suado.
Quando me levantei nesta manhã eu realmente estava assustado, aquele pesadelo foi real, eu sentia-o como uma dor no peito, como se uma mão fria me apertasse o coração; fui ao banheiro, tomei um banho, me arrumei para o encontro... Sai de casa ainda pensando naquele sonho, e naquela sensação, como um calafrio talvez.
Ah meu Deus, como? Ainda não estou acreditando, meus ouvidos estão zumbindo... A mãe da Amanda me recebeu em lágrimas, a família toda estava lá, e eu só precisava dela, que não estava mais conosco... Amanda foi encontrada morta naquela madrugada, as lágrimas chegaram em torrente, como uma inundação de dentro para fora... Não há como entender, como algo poderia fazer mal à ela? Uma garota tão pura, inocente, ainda vejo seus olhos verdes quando fecho os meus olhos... Os planos de noivado, tudo, jogados no lixo pelas mãos de algum maníaco. A família não queria me dizer o que houve, mas eu ouvi, ouvi os tios e primos falando: "esquarteja"? "ritual"? " irreconhecível"? As palavras ecoam, sem fim, pelos meus pensamentos... Meu único, meu primeiro amor, ela se foi, reconhecida apenas por seus documentos e roupas.
Me disseram que ela havia saído, ido pra casa de alguma amiga, Rafaela; e pra lá que eu fui, buscar respostas talvez, ou fazer minha dor piorar. Rafaela estava inconsolável, mas me disse algo que não se encaixava, "Amanda iria encontrar com um amigo da faculdade hoje às 22:00, e ontem também foi se encontrar com ele, mais ou menos as 23:30", a Rafa me disse mais sobre ele, fui na faculdade pegar alguma informação, número de celular talvez, algo que me ajudasse a saber "quem" era ele; todos os números que ele informou à faculdade estavam errados, mas tinha um endereço, na hora da raiva não pensei, segui direto pra lá. Uma casa abandonada. Não chegava nem perto de ser uma casa, era apenas uma construção não terminada. Entrei, o lugar tinha um cheiro azedo, colchões e roupas rasgadas espalhadas pelo chão... uma luz num canto, o reflexo do sol, um celular. O celular da Amanda! Desbloquiei ele na hora, procurei algo nas ligações, mensagens, fotos, e nada. Apenas um alarme, com o endereço daquele local, para às 23:00 de ontem, isso não estava certo... Amanda sempre foi tão certa, direita, o que ela queria naquele lugar? O que levou alguém a fazer mal para minha garota? Fui pra casa, me acalmei, chorei mais, dormi abraçado a um retrato nosso, ela estava tão linda naquela foto, seu cabelo negro fazendo um contraste com sua pele branca, seu sorriso encantador encarava a câmera com uma alegria... E aquele "eu" da foto, parecia outra vida, em menos de 24 horas minha vida mudou, se é que isso pode ser chamado de vida agora.
Acordei exasperado, como se eu nem tivesse dormido, num piscar de olhos 4 horas se passaram, era 21:37, eu iria voltar àquele local as 22:00, a hora que ela iria encontrar o "amigo" hoje, a casa abandonada não parecia a mesma de horas atrás, por fora estava tudo igual, mas la dentro tinham luzes, vermelha e amarelas, fui entrando, vi velas nos cantos das paredes, e várias pessoas em torno de um círculo, perfeitamente desenhado, eles de olhos fechados falavam em sussuros palavras estranhas, um deles ergueu a cabeça e me viu. Todos levantaram os rostos, me olhando com um olhar errado, não tem como explicar, eles pareciam falar com os olhos, me diziam com o olhar o que era o "medo", eu nunca fui de sentir medo, mas aqueles olhares me apresentaram um dos maiores medos que já senti.
Em sincronia vieram em minha direção, eu me virei e corri, rápido, querendo sair daquele local, como se eu soubesse "o quê" eles estavam planejando. Eles correram também, eram rápidos, a o terreno daquela casa parecia tão grande agora, eu estava chegando perto da saída quando à vi, Amanda, parada na entrada da casa, como se estivesse me esperando, olhei para trás e "eles" não estavam mais ali, me aproximei dela e a beijei, um beijo quente e deliciado... Mas cortado por um suspiro de dor, um suspiro que saiu de meus lábios quando o beijo acabou, um punhal em sua mão, banhado de sangue, tinha acabado de sair do meio da minha costela, ela sorriu, eu não contive as palavras...
- Amanda... porquê?
- As coisas que faço por amor.
Caí de joelhos no chão, olhando para cima, tentando entender o porquê. Os olhos, eu sei quem é minha Amanda, mas aqueles olhos, aqueles não eram os olhos dela, azuis e frios, refletindo a luz da lua como um prisma. Ela se ajoelhou, olhou para mim, e sussurrou:
- A Amanda se foi.
O punhal frio voltou a tocar minha pele, o metal em meu pescoço clamava por sangue, e foi saciado. Eu morri, simplesmente caí para o lado, meus olhos pareciam ver tudo ainda, como se eu nem houvesse piscado. O estranho é que parecia que eu me via, mesmo enquanto via ela, era como ver um filme, a imagem ia se afastando lentamente e perdendo o foco, a dor ainda era presente, como uma mão fria apertando meu coração. Foi tudo tão de repente... Aquele cadáver estirado como um nada era eu, a noite escura absorvia as últimas dores da minha a vida . Uma luz, a lua, cegante aos meus olhos, parecia vir em minha direção, eu não conseguia me mover! Tentei pedir ajuda, dizer algo... Minha voz não saia, então eu acordei; sozinho no meu quarto, ofegante e suado.