Capítulo (8)

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Alguns dias se passaram.

Eu não tive coragem de contar a meu pai que perdi meu emprego.

Continuei saindo e voltando para casa como se tivesse saído para trabalhar, mas na verdade passei os dias rodando a cidade atrás de um serviço, mas não encontrei nada.

Quando acordei hoje disse para meu pai que tinha ganhado uma folga, por que não estava afim de passar o dia todo fora, queria poder começar a embalar algumas coisas.

Só faltam sete dias para sermos despejados, não iremos conseguir quitar essa dívida. Não temos tempo, nem esse dinheiro. Para onde vamos, ainda não sei, mas está doendo ter que sair da casa que cresci, de onde tenho as lembranças de quando minha mãe ainda era viva.

Arrumo a mesa para o almoço. Comemos em silêncio. Nossas refeições tem sido assim. Estamos muito preocupados para ficar jogando conversa fora.

- A comida estava muito boa Bela. - Disse meu pai.

Ele quase não tinha tocado na refeição, mas resolvi não falar nada.

- Obrigada. De noite vou preparar aquela sopa que o senhor adora. - Disse colocando na pia as louças e as lavando de uma vez.

- Acho que não temos os ingredientes necessários....

- Tudo bem. Eu vou no supermercado mais tarde.

Terminei de arrumar a cozinha e subi para me trocar. Vesti um short jeans, uma blusa qualquer e meus velhos tênis azuis.

As ruas estavam tranquilas.
Cheguei ao supermercado e peguei tudo o que precisava, na verdade nem tudo. Não posso gastar muito.

Segui para o caixa vazio, paguei minhas compras e aproveitei para perguntar a garota que me atendia se não tinha nenhuma vaga disponível.

- Você sabe se estão precisando de funcionários por aqui? Pode ser qualquer coisa, até faxineira. - Acho que o desespero estava nítido em minha voz, pois seu olhar ficou diferente ao me escutar.

- Por enquanto não, mas ouvi que em nossa filial em breve estaria contratando. Passa aqui semana que vem, talvez eu  tenha novidades a respeito. - Disse ela.

- Então eu volto. Obrigada mesmo. - Sorri.

Sai caminhando devagar.
O desânimo tomava conta de mim.

- Eii mocinha! - Escutei alguém gritar.

Me virei e vi uma senhora de rosto familiar, fazendo sinal para espera-lá.

Quando se aproximou de mim a reconheci.

Ah não!

É a senhora que me atendeu quando fui a casa de Miguel. O que será que ela quer de mim?

- Desculpa, mas não pude evitar e acabei escutando na fila do caixa que você está precisando de emprego. Sr. Miguel está procurando uma funcionária para casa.

Sorri amargamente.

Isso só pode ser uma pegadinha de mau gosto do destino. Essa vaga de emprego tinha que ser justamente na casa dele? Na dele?

- Estou precisando muito de trabalho, mas não posso trabalhar na casa desse homem.

- Se for pelos boatos que rondam a cidade, fique despreocupada. Miguel não é o mostro que muitos pensam. - Ela me cortou defendendo o patrão.

Esses boatos me assustam um pouco, mas o real motivo de não querer ir trabalhar lá, além de Miguel ser um cretino e idiota, é medo de sair machucada, não só fisicamente, mas emocionalmente.

- Não é por isso... eu só não posso. - Meu coração doeu ao recusar o emprego visto a situação que estou vivendo.

- Tudo bem, mas eu sei de outras casas que estão precisando de funcionárias, se me acompanhar até em casa posso te passar os endereços.

Acho que meus olhos brilharam. A senhora cujo nome ainda não sei, sorria para mim.

- Obrigada. Eu vou acompanhar a senhora então...

- Senhora está no céu. Sou Maria e você é a?

- Bela. - sorri timidamente.

- Combina com você. Agora vamos, o motorista está me esperando. - Disse ela colocando a mão em meu braço.

Andamos até o estacionamento e o motorista com cara de segurança veio em nossa direção, pegou as sacolas das mãos de Maria e as guardou, em seguida abriu a porta de trás para mim.

- Obrigada. - Ele acenou com a cabeça, e a fechou.
É um homem de poucas palavras.

Fui olhando a paisagem pela janela.
E meu coração acelerou quando fomos só nos distanciando do centro da cidade. Pensei que iríamos para casa de Maria, mas esse caminho leva até a casa...dele.

Ao longo da estrada as árvores retorcidas davam a impressão que já era tarde, mas não passava das três da tarde.
Esse lugar tem um ar de mistério, e confesso que fico um pouco amedrontada por aqui.

Chegamos a mansão e meu corpo se arrepiou. Meus olhos foram direto para as rosas vermelhas, elas são lindas.
Segui Maria e ela me mandou esperar na imensa sala de estar, enquanto buscava os endereços para mim.

Não tinha sinal algum de empregados, o silêncio era perturbador. O único barulho que escutava era os dos meus tênis batendo compassados no chão.

O tempo foi passando e nada de Maria. Me levantei e comecei a andar de um lado para o outro na sala. Não teria problema algum em ficar esperando, o problema é esse lugar... Quando estava partindo para mais uma volta pela sala, a porta da frente se abriu.

Me virei e fiquei imóvel ao ver Miguel chegar.

Seus olhos eram fixos nos meus.
Desde o episódio do restaurante que não o via.

- Olá Isabela.... - Disse caminhando até mim.

Meus batimentos cardíacos estavam acelerados, e acho que até mesmo Miguel podia ouvi- los. 

- Olá. - Sussurrei.

- Veio pela vaga de emprego que estou oferecendo?

- Não. Você já é insuportável não sendo nada meu, imagina sendo chefe? Não gosto nem de imaginar. - As palavras me escapuliram. Isso acontece quando estou nervosa.

Miguel franziu o cenho irritado.

- Me desculpe... não queria ser grossa. - Corrigi a burrada.

Espera, ele também já me chamou de insuportável e nem pediu desculpa.

- Eu não sou insuportável, sou exigente. É diferente. Se não está aqui para o emprego, qual o real motivo de sua visita?

- Maria ficou de me dar alguns endereços de onde estão precisando de empregadas...- Olhei para o chão.

- Você deveria trabalhar aqui. - sua voz soou irritada. - Quero você por perto. - Disse mais calmo. Em seguida levantou meu queixo, me obrigando a olhar em seus olhos. - Eu quero muito você aqui Isabela. - Falou novamente e minhas pernas tremeram.

Como assim ele me quer aqui? Por quê?

Bela e  FeraOnde histórias criam vida. Descubra agora