Capítulo (16)

5.1K 507 35
                                    

Já passava das nove da noite e eu continuava a trabalhar apesar de meu turno já ter terminado a exatas duas horas. Eu não queria ir para meu quarto. Não queria ficar sozinha com meus pensamentos.

- Bela!

Escutei um grito e por pouco não derrubei um prato.

- O que foi Ana? - Perguntei secando as mãos em meu avental.

- Esqueceu que vamos sair? Vai logo tomar um banho. -  Disse me empurrando para fora da cozinha. Eu realmente tinha me esquecido.

- Sou obrigada a ir??

- Sim. Você é, Bela. Deixei vestido, sapatos e maquiagens pra você encima da cama. Vamos sair daqui a uma hora e meia. -  Ela sorriu toda feliz e me empurrou para dentro do quarto.

Tomei uma ducha bem demorada e vesti sem ânimo algum o vestido preto mais justo que vi na vida. Passei um pouco de maquiagem e soltei meus cabelos que caíram até a cintura.

Me aproximei do espelho e acabei sorrindo. Qualquer resquício da doce Bela tinha desaparecido. No reflexo tinha somente uma mulher, com olhos azuis brilhando.

- Já está pron...- Ana abriu a porta mas não terminou de falar. Ficou me olhando.

- Que foi?? Estou feia? - Perguntei ficando insegura.

- Não, pelo contrário. Está lindíssima. Agora vamos...

Todos já estavam em seus próprios quartos e quando passamos pela garagem notei que o carro de Miguel não estava lá. Ele ainda não tinha chegado, ainda estava com aquela mulher.Esse foi o incentivo maior para eu continuar com essa ideia de sair.

Tinha um táxi nos esperando no portão e eu fiquei agradecida por não precisar andar tanto com os saltos que usava.

Dentro do carro me vi pensativa.

- Será que não vai ter nenhum problema da gente sair assim, sem avisar ninguém?! -  Perguntei quando meu lado responsável aflorou.

- Nosso turno já acabou, e somos maiores de idade. Não tem problema algum e acho que ninguém vai ficar sabendo dessa nossa escapadinha.

   Ela sorriu e eu tentei retribuir.
Vinte minutos depois chegamos a uma boate chamada Fire. Pessoas entravam e saiam falando alto, cambaleando, e se agarrando umas às outras.

Nem bem passamos pelos seguranças e já ouvimos várias gracinhas e assobios. Eu não sabia lidar direito com isso, nem nunca dei importância, mas acho que hoje seria um bom dia para encontrar alguém que tirasse aquele meu chefe cretino e lindo da cabeça.

- Vamos dançar!! - Ana gritou sobre a música eletrônica, e começou a se mexer furtivamente. Fechei os olhos e me deixei levar. Aquilo era realmente divertido. Acho que só dancei assim na noite de minha formatura, depois não tive tempo porque me dediquei a minha família e ao trabalho.

O suor escorria por meu pescoço e minha boca estava seca. Me desliguei um pouco da música e notei que recebia muitos olhares, mas aquilo não me deixou nas nuvens como pensei que fosse deixar. Acho que não me animei porque no meu íntimo eu sabia que só queria o olhar de um homem. E ele não estava aqui.

- Preciso beber algo... - Falei para Ana. 

- Se importa de ir até o bar sozinha? Quero continuar dançando.

Concordei com a cabeça e fui abrindo espaço por entre as pessoas. Me apoiei no balcão e fiquei olhando para as bebidas sem saber o que pedir.

- Posso ajudar gatinha?? -  O barman perguntou.

- Não sei. Quero algo que não tenha álcool... -  Sussurrei sem graça.

- Sem álcool, só água. Mas tenho um drink que é bem fraco e muito doce. Acho que você vai gostar...

   Ele me entregou uma taça com um líquido rosa, e um pequeno adereço em forma de coração na borda. Bebi meio desconfiada, mas ao final do primeiro gole notei que era uma delícia.

Ao invés de voltar a pista de dança, continuei conversando com o barman que fiquei sabendo que chama Gaby. Ele me contou várias histórias e me deu vários drinks de graça, confesso que comecei a ficar até um pouco tonta. As horas foram passando rapidamente e eu estava muito bem ali, quando um cara que trabalha na boate chegou perto de mim.

- Olá, estão chamando você no corredor depois dos banheiros. Acho que é sua amiga.

   Será que tinha acontecido algo? Me levantei e notei que minhas pernas estavam meio bambas, mas mesmo assim continuei andando rápida, porque estava preocupada que Ana estivesse em maus lençóis.

Passei pelos banheiros e segui por um corredor silencioso. O som da música estava distante e eu não ouvia mais nenhum barulho.

- Ana? - Chamei. Nenhuma resposta. - Ana? Sou eu. Bela!

  Terminei de falar e as luzes se apagaram. Escutei passos se aproximando e duas mãos circularam meu pescoço. Gritei assustada e comecei a me debater. O ar começou a faltar, me vi mais assustada ainda, mas por sorte a pessoa me soltou. Pensei logo em sair correndo, mas não enxergava nem um palmo a minha frente e minhas pernas ainda estavam bambas.

Então as luzes se acenderam. Olhei para todos os lados várias vezes procurando quem tinha tentado me machucar, mas o corredor estava vazio. Não tinha ninguém, só então notei na parede a minha frente uma frase escrita com tinta vermelha.
  
É MELHOR SE AFASTAR, OU SOFRERÁ AS CONSEQUÊNCIAS.

O que significa isso? Minha garganta secou. Que aviso será esse? Me afastar de quem? De Miguel?

As luzes se apagaram e acenderam em questão de segundos, e dessa vez a frase tinham sumido.

Eu estava ficando louca, só pode. Será que eu tinha bebido tantos drinks que afetaram minha lucidez?

Sai em disparada do corredor, agradecendo por minhas pernas terem novamente finalidade.
Encontrei Ana saindo do banheiro e respirei aliviada.

- Podemos ir embora?? -  Perguntei tentando me acalmar.

- Podemos sim.

  O caminho de volta pareceu uma eternidade, eu só queria a segurança que a mansão Alcântara passava. Queria minha cama.

Me despedi de Ana e segui para meu quarto. Eu nem ao menos acendi a luz, a noite estava clara e iluminava parcialmente o ambiente.
Me encostei na porta após fechá-la  e respirei aliviada por estar segura.

Mas essa sensação logo acabou, porque notei que havia mais alguém no quarto.

Bela e  FeraOnde histórias criam vida. Descubra agora