Are you serious?

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Scarlett P.O.V.

Eu estava congelando, sério, qual meu problema, cara? Eu não penso mesmo. Sair de casa de madrugada e ficar vagando por ai? Eu havia andado e andado, mas aquele bairro nunca acabava, eu estava pra dar meia volta e voltar pra casa porque algo me dizia que isso não iria dar nada certo. Logicamente, até porque eu não tenho recursos pra me manter, ou até mesmo um lugar pra ficar. Tudo isso pra confrontar minha mãe, tudo isso por não tentar ser uma filha melhor e ter uma conversa civilizada com ela.

Droga.

Minhas pernas fraquejavam e eu não tinha mais força alguma pra continuar a andar, fui vencida pelo cansaço. Parei em uma esquina qualquer desse bairro sem fim e com uma iluminação péssima, por sinal. Como um lugar cheio de casarões que nem esse tem uma iluminação perrengue que nem essa? Bom, peguei meu celular no bolso da calça pra checar as horas e já se passavam das 3 da manhã. Pelo visto teria que bancar uma de mendiga e dormir no meio da rua. Bufei e me sentei no meio fio ali mesmo. Precisava de uma pausa antes de voltar a andar.

Comecei a observar o bairro. Uma casa maior que a outra, todas de luxo, garagens enormes que provavelmente eram ocupadas com vários carros caríssimos. Mesmo sempre morando aqui, nunca me senti confortável com tudo isso. Ir a uma escola onde se via patricinhas e playboyzinhos saindo até dos bueiros. Isso nunca foi pra mim, não era essa vida que eu procurava. Eu quero algo que me traga adrenalina, viajar pelo mundo, conhecer pessoas. E não ficar o dia todo dentro de uma casa enorme, com um casamento infeliz, onde as compras valem mais que o amor. Isso não é ser feliz.

Fiquei lá sentada por alguns minutos ainda observando aquilo, por mais que estivesse de madrugada e frio, muito frio, eu me sentia em paz ali. Eu sentia que eu não devia satisfações pra ninguém. Mas na verdade eu devia, e devia muitas.

"Minha mãe vai acabar comigo", resmunguei.

Me levantei e decidi prosseguir. Depois de algumas quadras, avisto a casa de Marie.

Senti como se não houvesse mais escolhas a não ser passar a noite lá. Então aumentei a velocidade do passo pra que chegasse logo. Ao me aproximar, notei um carro parado na porta de sua casa e dentro dele alguém com a cabeça baixa. Como ainda não estava perto o suficiente não pude notar muitos detalhes, então mais alguns passos e tudo estaria nítido.

Meu coração parou por um segundo. Quem mais no mundo tem um carro com estampa de leopardo? Não, não... um segundo? Meu coração parou por um minuto. Eu estava estática, parada no meio da rua, sem ter controle sobre meus próprios movimentos. As chances de um carro passar por cima de mim eram relativamente grandes.

Caralho.

Impossível cara, deve ser o frio me fazendo ter alucinações.

Um vento forte bateu e fez com que eu acordasse do transe.

"Ok Scarlett, o que fazer? É sua grande chance.", pensei comigo mesma e fui me aproximando mais e mais daquele carro extremamente afeminado, carregando minha mala que agora parecia pesar uns 50 quilos. Nossa cara, sério, poderia ser uma estampa de uma mulher pelada, mas aquilo era muito gay, aquele carro foi um abuso.

Fiquei rente ao carro e agora eu tinha certeza que era ele mesmo ali, mas ele estava com a cabela baixa e não pareceu me ver momento algum. Ele parecia soluçar. Ele chorava? Por que? De repente toda a adrenalina que eu senti ao descobrir que meu ídolo estava a poucos metros de mim deu lugar a um enorme aperto no coração. Um nó se formou na minha garganta e meu apelo pra ajudá-lo crescia a cada segundo. Meu coração se partiu em mil. Eu tinha que abraçá-lo e dizer que tudo ficaria bem, pois foi isso que ele sempre fez por mim e por tantas pessoas.

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