Submissa

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Submissa: Submissão; humilhado (a); derrotado (a). Posição inferior.

Marly

- O quê acha de voltarmos para New Orleans, Marly?

Já era, pelo que Marly contava, a décima vez em que Kemy perguntara a mesma coisa. Ela insistia incansavelmente em voltar para aquela cidade maldita onde sucumbira todo o passado de Marly. E o dela. Kemy adorava jogar em sua cara as perversidades que aprontara para chegar onde chegou. Ao contrário dela, Kemy sempre tera potencial para infinitas coisas. Era exemplo nas aulas e suas atitudes para com a sociedade se fazia o mesmo. Nunca matara uma mosca, pelo fato da repulsa em tocar em algo que não seja humano. No entanto, feito uma balança que tende a pender para um lado, não recusara a proposta indecente e macabra da amiga enquanto teve a chance.

- Não faz essa cara, afinal você tem tantos amigos por lá. Posso jurar que estão com saudades.

Sem paciência para provocações, Marly se levantou do sofá e foi em direção a sacada de seu apartamento. Odiava quando era rebaixada à isso. À verdades. O que à incomodava era a verdade por de trás das ironias de Kemy. Sua vida estava sublime, se tornara uma moça bonita, mas apagada. Ruiva dos olhos castanhos, leves sardas à cobrir o pequeno rosto e lábios levementes cheios. Destaque em várias capas de revistas americanas. Levava sua vida esbanjando, mas a cada gota do champagnat que bebia, feridas se abriam por dentro como se bebesse soda ao invés do conteúdo delicioso que tinha em mãos. Vazia. Oca. Nada á satisfazia, tudo o quê tinha teve com a repugnância de completar o interno de seu corpo. Marly pensara se aquilo era culpa ou satisfação por ser alguém tão perfeita e desejada. Narcisismo corria em suas veias mas para ela estava fora de cogitação morrer afogada ao se apaixonar por si mesma em um lago. Faço isso todos os dias em frente ao espelho, riu descrente de si.

Havia um problema naquilo e Marly sabia muito bem o que era. Quem era. Não suportava mais dividir espaço com outra egocêntrica feito Kemy. O que a causava mais frustração era saber que as duas estavam unidas e seladas com correntes de ferro. Sangue. Sangue descrevia com melhor precisão aquilo que às unira. Desde o sucesso, Marly fizera um acordo de mostrar à Kemy o mundo a sua volta mas fizera isso com o estúpido idealismo de que ela sucumbiria às suas vontades, como uma escada ou uma serva que tenha como intuito levantar ou servir, apenas. Pelo Contrário. Marly se via em um beco sem saída, onde vivia os seus dias em restrições pelas decisões de Kemy, afinal, ela abandonara a vida em New Orleans iludida com uma vida sublime e agora, arrependida, faz questão de fazer Marly se sentir todos os santos e cruéis dias de sua cíclica vida, a megera que ela de fato era.

- E então?!

Kemy reaparece de supetão com seus cabelos pretos enrolados em um coque. Os olhos mestiços e bem alinhados estavam agora cristalizados pela luz solar que suas íris captavam, ainda à espera de uma resposta na qual ela ja sabia qual era. Sua decisão era sempre a primeira a constar.

- Eu tenho escolhas?

- Tem. Mas você sempre perde.

Vadia.

Baby FaceWhere stories live. Discover now