Amigos

172 20 4
                                    


Peguei-a e fui para o banheiro, sentei no canto e fiz mais um corte, chorando permiti que toda aquela tristeza saísse do meu corpo assim como o sangue, e ali mesmo eu dormi profundamente.

E mais uma vez eu acordei assustado com as batidas do Renato na porta do banheiro, ele queria acabar comigo, eu já não saia de casa para ter cuidado redobrado.

Eu já não aguentava mais aquilo, então comecei a gritar.

Eu- SAI DAQUI!

E as batidas continuaram.

Eu- RENATO ME DEIXA EM PAZ!!!

As batidas cessaram por uns minutos ate que começou mais fortes, talvez ele estivesse chutando dessa vez, tive a sensação de que ele conseguiria arrombar a porta, no mesmo instante corri para colocar o meu peso sobre a porta, eu apenas chorava e pensava no pior, quando voltei dos meus pensamentos percebi que as batidas haviam parado, senti um alivio e me sentei de costas para a porta assim trazendo meus joelhos para perto do meu rosto colocando para fora todas as minhas lagrimas. Após eu parar de chorar ganhei coragem para abrir a porta e correr para o quarto, mas quando abri a porta fui surpreendido com um soco do Renato que esperava calmamente eu abrir a porta, fiquei tonto por uns segundos, mas mesmo assim consegui voltar para o banheiro e fechar a porta rapidamente, meu nariz estava sangrando, mas não era daquilo que eu precisava e sim dela, minha única companheira, a única que sabia todos os meus segredos e medos, fui ate onde ela estava e a peguei, dessa vez não foram apenas dois ou três cortes e sim dez, ao ver o meu sangue escorrer pela pia, minha raiva pelo Renato só aumentava.

Eu me cortei dez vezes, não foram tão profundos pois eu não queria me matar e sim matar a dor que eu sentia por dentro, eu já não tinha motivos para sorrir, eu apenas queria que aquele sofrimento acabasse ali. Não aguentei e me deitei no chão do banheiro para dormir, eu já não dormia bem há dias e pelo o que eu via, não iria dormir bem tão cedo.

Ao acordar, percebi que já estava de manhã, não sabia que horas eram, não sabia se o Renato já havia saído, mas mesmo assim peguei a faca, abri a porta e corri para o meu quarto, não queria me arriscar de encontrar o Renato em casa, então a primeira coisa que eu fiz foi trancar a porta, o que eu mais queria era poder sair daqui e ir para bem longe, mesmo eu saindo, para onde eu iria? A única coisa que eu poderia fazer era continuar naquele pesadelo que eu acreditava que um dia teria seu fim. Lembrei-me do Henrique e da Sofia, então decidi chamar os dois para vir a minha casa pois sabia que o Renato não chegaria tão cedo, e outra que eu precisava desabafar, na verdade o que eu precisava era de amigos.

Quando liguei o meu celular e abri o Whatsapp havia varias mensagens no grupo, provavelmente eles perceberam que eu visualizei as mensagens anteriores, a Sofia já estava desesperada devido o meu sumiço.

(Mensagens do Whatsapp)

Sofia- Meu deus Lucas, aonde você se meteu?

Sofia- Responde!!!

Henrique- Estamos preocupados.

Sofia- Por que você não esta mais indo à escola?

Sofia- O que esta acontecendo?

Henrique- Você esta bem?

Eu e a Sofia somos praticamente irmãos, crescemos juntos devidos nossas mães serem muito próximas, então entendo a sua preocupação, também entendo a do Henrique afinal ele e eu somos melhores amigos, me senti culpado por não ter falado para eles antes, então decidi responder:

Eu- Oi gente.

A Sofia visualizou na hora.

Sofia- Luuucasssss, aonde você estava? Você ta bem?????

Eu- Te conto tudo, mas preciso falar pessoalmente, vocês podem vir a minha casa?

Sofia- Ta!

Henrique- Ok, chego já ai.

Deixei o celular na cama e fui tomar banho, quando estava de frente para o espelho percebi que eu estava emagrecendo muito, já não me alimentava direito e a comida que restava em casa estava acabando e eu não tinha dinheiro para comprar nada. Tomei um banho rápido, vesti umas roupas que não foram rasgadas pelo Renato e por fim coloquei um casaco para esconder os cortes que estavam visíveis em meu braço e fui para a sala ficar esperando, poucos minutos depois eles batem na porta e eu corri para abrir, como um bobo abracei os dois.

Eu- Que saudade.

Sofia- Digo o mesmo.

Henrique- verdade vê se não some outra vez.

Eu ri disso, e quando percebi o meu sorriso já havia voltado para o meu rosto, e o motivo dele eram eles, os meus verdadeiros AMIGOS.

O menino e seus pulsos ✞Onde histórias criam vida. Descubra agora