Piloto

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A 17 anos vivo em Nova York, um lugar conhecido por ser como um organismo vivo, pulsado energia a todo instante, de trânsito intenso, cheio de pessoas andando a 8km/h sempre tentando chegar em algum lugar o mais rápido possível.

Vivo no Brooklyn, estudo no colégio James Madison lugar de pouca relevância já que não tenho muitos amigos, acontece que eu não sou considerada a pessoa mais AGRADÁVEL do mundo, para ser sincera, eu mereço tal título, a questão é que não consigo controlar o que penso e sinto, e isso piora muito quando abrem a boca para falar asneiras. Enfim, posso resumir que chance de ter amigos no afundou logo no primeiro dia que entrei naquele colégio, quando fui apelidada de Jones encrenqueira, deixando claro porque muitos dos encarecidos alunos de minha escola não dirigem sequer uma palavra a mim.

Apesar de tudo alguém impressionante gosta de mim, minha amiga Bela que sofre com minha presença desde o jardim de infância. Lembro-me que nossa amizade começou quando grudei um chiclete na cabeleira loira de uma garota que não parava de implicar com a ela, foi amizade a primeira vista, desde então somos inseparáveis.

Olhando superficialmente minha vida parece ser simples e sem graça como qualquer outra adolescente melodramática, realmente eu não tenho muito que reclamar, comida na mesa, família bacana e amiga legal. Mas como um dia certo filósofo desconhecido disse: nem tudo são flores...

Desde que me entendo por gente meus pais brigam sem parar, eram brigas bobas a princípio que fazia as vezes meu pai dormir no sofá, era sempre assim: eles brigavam, se ignoravam e depois pediam desculpas um ao outro e por uns dias vivian felizes como se estivessem em plena lua de mel, era um ciclo repetitivo em minha vida que apesar de chato não causava nenhum tipo de trauma por assim dizer.

Só que com o tempo as brigas bobas foram diminuindo até acabarem, assim como diminuirão-se os pedidos de desculpas, os abraços e os sorrisos, e com o passar do anos eles perdiam o diálogo e interagiam menos.

Junto com as brigas foi-se o amor que possuíam, na época eu temia que eles se separassem, mas com o tempo aquele desafeto me irritava de um modo que eu queria um longe do outro; bom... eu pensei que queria.
Numa noite á poucos meses atrás cheguei em casa junto a meu irmão e pela primeira vez em anos o silêncio enlouquecedor que vivia sob a casa rompeu, sendo substituído por uma gritaria ensurdecedora. Pela primeira vez em séculos meus pais plantavam um barraco tão grande que se não fosse pelos barulhos de fora, a cidade todinha teria escutado aquela gritaria. Naquela noite acendeu-se a fagulha que gerou os piores meses da minha vida.

Depois da briga meu pai saiu de casa, ele jurou ser temporário, disse que ficaria num hotel até as coisas se acalmarem, mas logo ele alugou um apartamento e nunca mais voltou, minha mãe chorou como nunca a tinha visto chorar, e foi ai que a minha vida desabou. Durante longo seis meses meus pais entraram em processo de divórcio e para ser honesta não foi um divórcio do tipo amigável, comecei a ver meu pai apenas nos finais de semana, onde eu escutava suas conversas ao celular com uma TAL de "Amanda do trabalho", sua atual namorada. Em casa quase sempre ouvia minha mãe chorando no banheiro, reparava que ela havia perdido o brilho no olhar que costumava ter, passando a ter um rosto que aparentava ter envelhecido 20 anos, com olheiras e olhos inchados.

Depois de 6 longos meses as coisas em casa tinham finalmente começado a melhorar, estava tudo começando a voltar ao normal até este momento, onde me encontro empacotando toda a minha vida em caixas (Sim, as coisas realmente podem piorar). Minha mãe cismou que precisávamos abrir nossas portas para novos ambientes, essa foi a desculpa que ela criou pra si mesma, mas eu sei a verdade, a verdade e que minha mãe não consegue mais morar em uma casa que costumava conviver com meu pai, não consegue viver num ambiente que já foi cheio de amor e harmonia, mesmo que fosse do jeito torto deles. O pior de tudo é que eu deixaria a minha vida para trás em troca de outra completamente diferente e nova.
O que eu poderia fazer? Nada ! qualquer coisa que eu faça para impedi-la seria como pedir que continua-se sofrendo, então a única coisa que eu posso fazer e respirar bem fundo e fazer o que tenho que fazer.

Mamãe continua fazendo suspense sobre a tal casa, e isso definitivamente me tira do sério, tudo que sei e que irei viver em Monterey Califórnia, o que é tipo do outro lado do país! Da pra acreditar?! Eu sou uma garota de metrópole, o que uma nova-iorquina pálida fedendo a poluição pode fazer em uma cidade cercada de sol e mar? já viu por acaso alguém do Brooklyn vestir um biquíni para tomar um relaxante banho de mar? NÃO!! Somos muito ocupados pra isso, aceitei que daqui em diante vou ter uma vida pacata e silenciosa, nada comparada a corrente energética pulsante de minha cidade 24 horas.

Uma buzina toca, acordando-me de meus devaneios— deve ser o caminhão de mudança— penso comigo mesma.
Levado de meu quarto, parando um momento para observá-lo, nunca havia reparado o quão pequeno ele era, agora que está vazio e desmobilado, sinto um aperto forte no peito quando lembro que não o terei mais, e novamente preciso iniciar um exercício de respiração.

Antes de partir paro enfrente meu reflexo num espelho velho e quebrado à minha frente, sendo por isso o único objeto que resolvi deixar, observo meu reflexo magro e sem graça aproveitando para uma desamassada na roupa é uma ajeitada em meu cabelo loiro e desalinhado. Paro um momento e inspiro profundamente para acalmar a ansiedade
—agora vai ser tudo diferente— penso ansiosamente, forçando um sorriso e erguendo a cabeça em direção a saída.

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