II - Sufocada

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Candy.

Enforcada em frente à escola, a vista de todos.

Segurei meu pescoço com as mãos. Não conseguia respirar. Não lembrava mais o que era oxigênio e alguma coisa no fundo do meu consciente dizia que nunca mais respiraria de novo.

Minhas pernas vacilaram e eu despenquei no chão, em frente ao corpo suspenso de minha melhor amiga.

Minhas bochechas estavam molhadas. Lágrimas. Só agora havia reparado que estava chorando.

- Candy, você não se foi, Candy. Você está aqui, tenho que lhe encontrar e te ajudar. - cochichei. - você não se matou Candy. Você não me abandonou.

Fitei seu rosto sem vida, seus olhos estavam abertos, o incrível azul sem nenhuma luz ou brilho me assombrava. As bochechas estavam pálidas e os lábios cobertos de seu batom vermelho preferido. Ela estava tão insuportavelmente linda que por alguns segundos esqueci o lugar em que estava.

- Terá que se afastar, menina. - um homem gritou, aparentemente um policial.

- Não.

- Ei, você ouviu? Terá que sair de perto, pode estragar alguma prova.

- Que maldita prova? - notei que começara a gritar - vocês nem se importam com ela, vão dar como suicídio sem nem saber se ela faria isso. - Olhei novamente pra ela - Você jamais faria isso comigo, não é, Candy?

- E posso saber o que a senhorita era dela?

Não consegui responder, o soluço que estava preso em minha garganta saiu e abaixei a cabeça, olhando para o chão. Não aguentava mais ver luz alguma, o sol não deveria aparecer sem Candy aqui.

- Ela era a melhor amiga de minha filha. - ouvi a voz da Sra. Blackstone ao longe, bem longe.

Estava tudo escuro, exatamente como deveria ser o mundo sem minha amiga.

- Vamos ficar bem, já viu aqueles caras da aula de química? Enlouqueceram por tirar uma nota 9. - seu riso invadiu o ambiente - pelo menos nunca chegaremos ao nível deles.

Estavamos sentadas na quadra, quebrei a perna e não podia fazer educação física por um mês. Candy insistiu em não participar também e me fazer companhia. Ambas tiraremos notas baixas, claro.

- Não se preocupe com aquele idiota, ainda acabaremos com ele - o modo como falou me assusta.

- Como assim?

- Eu sei que foi o babaca que lhe machucou, você mente muito mal.

Cristhopher, marido da minha mãe, mais conhecido como babaca, me empurrara da escada uma semana antes por eu ter simplesmente dito que o odiava - a verdade, apenas.

- Desculpe, é só que é... Vergonhoso contar pra alguém.

- Tudo bem. - ela não parava de sorrir - digamos que te entendo - levantou a manga da blusa e mostrou uma marca roxa no ombro direito. Sua mãe. - ninguém entende que, às vezes as mães podem ser tão ruins quanto pais ou padrastos.

Dei de ombros e sorri. Ela me entendia. Eu não estava sozinha.

Eu estava tão sozinha.

O escuro se tornou luzes brancas ofuscantes e notei que estava me movendo. Olhei para minhas pernas e elas estavam amarradas em uma maca. Ótimo, hospital, era exatamente o que eu não precisava no momento, de algum idiota perguntando como me sinto.

Fechei os olhos novamente, tentando voltar àquela escuridão, porém a imagem de Candy surgiu em minhas pálpebras e não suportava olhá-la novamente daquela maneira. Passei então a fitar o teto da ambulância.

#Wattys2016 Em Meio Aos GirassóisOnde histórias criam vida. Descubra agora