III - James Holocene

24 2 0
                                    

Tive um problema enquanto escrevia... meu amigo e garoto que eu gostava se enforcou e eu não estou nada bem. Espero que o atraso seja perdoado e nada melhor que o capítulo em que o James aparece para dizer que essa história é agora dedicada ao Gabriel M.
Obrigada por ler.

Desde os 7 anos tenho dado minha alma e horas vagas ao estúdio de arte e dança Sherwood e meu esforço deu tanto resultado que a própria Sra. Sherwood passou a lecionar para mim todas as terças, quintas e sábados, assim, após dois anos de insistência, ela permitiu que eu aparecesse quando quisesse para ensaios, desde que breves, para não atrapalhar outros alunos.

O estúdio residia nos 3 primeiros andares de um apartamento comercial. O primeiro para iniciantes e para recepção, o segundo para os semiprofissionais e profissionais e o terceiro para o escritório particular da Sra. Sherwood. Todos os andares eram praticamente iguais, com suas paredes a prova de som com espelhos cobrindo toda sua extensão. O chão era escorregadio e perto da porta do primeiro andar havia uma escrivaninha com alguma secretária - digamos que ninguém permanece por muito tempo lá, então, mesmo que todas as secretárias que passaram por aquelas portas soubessem quem era eu, eu nunca decorei o nome de nenhuma delas.

Troquei-me no carro rapidamente, deixando apenas para colocar as sapatilhas no salão. Corri direto ao segundo andar, sabendo que hoje teria aula para os iniciantes. O salão estava vazio, exceto por uma recepcionista, que me cumprimentou com certo olhar de pena e deixou-me sozinha. Com o silencio pude sentir, pela primeira vez, a densa nuvem de sofrimento que passou a pairar sobre mim. Coloquei na função repetir uma de minhas músicas preferidas: Lago dos Cisnes, o clássico do clássico e alonguei-me rapidamente. Ia começar a dançar quando notei a silhueta magra, Sra. Sherwood fitando-me com sua postura rígida - quase hostil - de sempre. Seu rosto não tinha expressão, fazendo-me pensar no que eu havia feito de tão errado a ponto de ser encarada dessa maneira assustadoramente calma.

- Senhora. - eu disse, assentindo com a cabeça de maneira nervosa.

Ia a seu encontro, quando ela fez um sinal com a mão para que eu parasse e jogou um objeto metálico em minha direção.

- Eu vou sair, fique o tempo que precisar.

Olhei-a, confusa.

- Soube de sua amiga, sinto muito. - explicou, fazendo com que eu sentisse uma pontada de dor excruciante no peito.

Ela não disse mais nada, apenas saiu. Sra. Sherwood não sabia expressar seus sentimentos sem a música, mas, mesmo sendo um gesto insensível para a maioria das pessoas, aquela foi a coisa mais legal que ela já fez por mim.

Estava fazendo 12 anos quando dancei pela primeira vez fora do estúdio, era e um teatro e Sra. Sherwood havia passado uma semana tentando me colocar dentro da apresentação de um colega. Não contei a ninguém, mas estava nervosa como nunca, minha mãe ligara e dera uma desculpa esfarrapada para não ir e isso me deixou em meu estado solitário novamente. O que tentei afastar assim que ouvi um gritinho estridente vindo em minha direção.

- Você está linda! Ai meu Deus você é tão linda! - Candy parecia à beira das lágrimas.

- Olha quem fala - revirei os olhos, mas não pude deixar de sorrir. Senti as bochechas esquentarem.

- Consegui a primeira fila, mesmo com eles esgotados, Thomas é muito gentil.

Eu dei um riso fraco.

- Thomas?

- Sim, o cara que me cedeu o lugar. - ela soltou uma risada nervosa - você está tão perfeita! Vai se sair bem.

#Wattys2016 Em Meio Aos GirassóisOnde histórias criam vida. Descubra agora