VI - Grosseria vs Cinismo

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Joe entrou como um furacão e passou a contar todos os detalhes de seu dia enquanto eu me concentrava para ouvir. Eu devia isso a ele. Era a única pessoa que iria ouvi-lo.

Mas eu olhava para a estrada.

As árvores caídas na estrada davam uma beleza sobrenatural ao caminho.

- Meu dia foi incrível, Line!

O carro dele era frio, mas eu não estava tremendo por isso. Eu gostava daquela temperatura.

- Então nós estávamos desenhando e a professora disse que o meu desenho era o mais bonito...

Ele me puxou para perto e eu podia sentir seu cheiro.

- E fomos brincar de montar, já que estava muito frio no parquinho.

Ele cheirava a doces e cigarro. Como uma manhã de natal com a lareira apagada. Mas ele não parecia do tipo fumante. O hálito dele não cheirava a cigarro ou a bala de hortelã.

- Eu montei o maior castelo da sala, Line, foi incrível!

Foco, Adeline. Foco.

Até a mancha de tinta no rosto dele harmonizava com o resto do rosto. Com o resto do corpo. Ele era completamente harmônico. Fazendo-me parecer ainda mais caótica.

- Line, você está me ouvindo?

- Sim, sim. - tentei esconder a culpa.

- Conta então, onde você foi hoje?

- Eu saí com um amigo.

Uma viatura policial estava estacionada em frente a minha casa. Estacionei logo atrás dele e segui lentamente para encarar a infeliz hipocrisia das forças policiais enquanto Joe corria para dentro de casa.

Parei em frente a porta que Joe deixou aberta e pude ouvir minha mãe da cozinha:

- Desculpe a bagunça, senhor. - revirei os olhos, enquanto ela prosseguiu, com a voz entrecortada e sem jeito - Ela deve estar lá fora, gostaria de um café ?

- Se não for incomodo, também gostaria de sua autorização para uma breve vistoria na casa, nada demais.

- Cristhopher, meu marido, não vai gostar. Acho melhor esperar ele chegar.

Entrei e os dois fitaram-me, como em uma reunião familiar. Para a decepção de minha imaginação, ele não era gordo e com bigode sujo de rosquinhas. Ele era alto e os músculos sobressaltavam da camisa, estava com uma expressão bem à vontade, como se a qualquer momento ele fosse deitar no sofá e arrancar os sapatos. Tinha um cavanhaque suave, os olhos estavam escondidos por trás dos óculos escuros e as ondulações loiro-escuras de seu cabelo estavam ruidosamente alinhadas atrás da orelha.

- Investigador Criminal Engleart, muito prazer. - ele esticou a mão, tentando cumprimentar-me, ignorei.

- Posso ajudar? - perguntei, ríspida.

- Espero que possa, é sobre a sua amiga Candice.

- Imaginei que não seria sobre as frases compartilho nas redes sociais sem os direitos autorais.

Ele não achou graça. Minha mãe, que estava colocando o café na xicara, queimou-se ao ouvir isso.

- Adele, isso foi inaceitável.

Ignorei-a. Ela serviu o café para o policial. Não me ofereceu.

- Vi como você ficou quando encontrou o corpo dela, imagino que foi um choque muito grande para você. - Ele fingia ser compreensivo e eu o repudiava por isso. - Ela não merecia o fim que teve.

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⏰ Última atualização: Jul 24, 2016 ⏰

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