Hey Angel

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Eu não entendo.
Eu tento entender, mas eu não consigo.
Por que ela está fazendo isso comigo?
Por que ela está partindo meu coração quando eu sempre eu a amei?
- Nick, eu quero terminar.
Quando Natalie disse essas palavras para mim, eu desmoronei.
Não conseguia acreditar.
Estávamos juntos há um 1 ano e 4 meses e tudo estava indo muito bem, do meu ponto de vista. Mas não do ponto de vista dela.

Segundo Natalie, ela já não me amava mais do mesmo jeito de quando nós começamos a namorar.
Eu mal pude acreditar. Como isso podia estar acontecendo comigo? Logo comigo, que sempre a amei tanto.
Sua imagem ainda está bem nítida em minha frente.
Ela, de braços cruzados, de frente para mim, em seu short jeans e sua regata preta, com os cabelos ondulados loiros caindo sobre seus ombros. Lembro-me de passar as mãos pelo cabelo, sem acreditar no que ela estava dizendo, e de me sentar na cama de cabeça baixa, com os olhos vermelhos cheios de lágrimas. Lembro-me de Natalie deixando meu quarto, mas eu ainda estou sentado em minha cama.
Eu queria ficar aqui, queria ficar sentado aqui para sempre, tentando esquecer que um dia ela me deixou.
Esquecer. Eu preciso esquecer. E eu já sei exatamente como fazer isso.
Levanto-me da cama agarrando as chaves do carro e secando as lágrimas do rosto e saio batendo a porta.

***
Chego na Boate Black Night por volta das 21 horas. Estaciono o carro e agarro a minha jaqueta de couro, apesar de saber que não precisarei dela.
A fila da boate está grande, mas eu entro rapidamente. O clima da boate está quente e agitado, por isso, largo minha jaqueta em um canto e vou buscar uma bebida no bar. Peço uma dose de Whisky e o garçom não demora a me servir. Seguro meu copo enquanto olho para a multidão dançando. Dentre todas as pessoas dançando, uma se destaca: uma ruiva de olhos azuis dançando no lugar mais alto da pista. Seus cabelos encaracolados e seu vestido branco colado chamam a atenção de todos na festa. Fixo meu olhar nela. Seu rosto brilha, como se estivesse cheio de glitter, e talvez esteja mesmo. Queria ser como ela. Dançando, de olhos fechados, sem se importar com mais nada além da batida da música. E por que eu não posso ser? Hoje, eu posso ser o que eu quiser. Viro o copo de Whisky na boca e tomo coragem para ir até ela.
Seu corpo se move perfeitamente, acompanhando cada batida da canção. Paro meu corpo a centímetros do dela, mas ela não parece nem notar. Viro-a pela cintura delicadamente, nos deixando cara a cara. Ela enfim abre seus olhos azuis, revelando o oceano para mim. Eu estava certo. Seu rosto está cheio de glitter.
Ela abre um sorriso mais branco do que seu vestido e mais brilhante que o glitter em seu rosto. Retribuo o sorriso sem pensar direito no que estou fazendo. Dançamos no ritmo da música sem dizer uma palavra, apenas curtindo o momento.
Músicas vêm e vão, e nós continuamos a nos mexer na pista. Seus cabelos alaranjados estão molhados de suor e os meus não estão tão diferentes dos dela. Ela vai diminuindo o ritmo, exausta, até que para completamente de dançar. Ela então grita no meu ouvido devido à música alta.
- Quer sentar?
Olho para ela, sem entender uma palavra.
- Sentar. - Diz ela apontando para os bancos no bar.
- Ah sim. Tudo bem.
Ela me puxa pelo braço e nos sentamos frente a frente. Ela assovia para o garçom que limpa um copo na outra ponta do balcão. Falta pouco ele correr para atendê-la.
- Dois dry martinis, por favor. - Ela faz um "dois" com a mão.
- É para já! - O garçom sai tropeçando nos próprios pés e a garota ri.
Ela então volta o olhar para mim.
- Qual o seu nome? - Ela apoia o queixo sobre a mão, deixando seu decote mais à mostra.
- Nicholas. E o seu?
- Olivia. - Ela estende a mão e eu a aperto. - Muito prazer.
O aperto de mão dura mais do que o necessário, sendo prolongado por seus longos olhares. Sinto como se seus olhos estivessem penetrando a minha alma.
- Então, qual é a sua história?
- Como assim?
- Por favor, você está aqui por algum motivo. - Ela se inclina sobre o balcão. - A música daqui pode ser boa, mas essa não é nem de longe a boate mais famosa da cidade. Então, qual é a sua história?
Suspiro antes de falar, para conseguir forças para reviver tudo aquilo de novo, mas ela levanta o dedo me impedindo de falar.
- Pode parar. Eu já sei. A namorada te chutou e agora você veio afogar as mágoas com alguma garota qualquer numa boate.
Fico boquiaberto.
- Como você sabe?
Ela sorri.
- Você suspirou antes de falar, isso indica uma dor muito grande e recente. E além do mais, você esqueceu de retirar a aliança.
Olho para meu dedo, incrédulo.
- Há quanto tempo você notou?
- Desde o momento que você subiu naquela pista de dança.
O garçom volta com as bebidas e Olivia pega sua taça, sorrindo sensualmente para ele em retribuição. Ele parece que vai desmaiar.
Até que o cara é boa pinta, com uma barba meio rala castanha, mas ele está fazendo um baita papel de trouxa.
- Eu adoro fazer isso. - Olivia dá um gole em seu dry martini. Ela faz uma careta de repente.
- O quê foi? Está ruim? - Tomo um gole em minha taça, mas a bebida parece normal.
- Não é isso. - Ela pousa a taça no balcão. - Olha.
Volto o olhar para onde Olivia está apontando. Nos fundos da boate, onde há vários sofás e poltronas, um casal está ao amassos desesperadamente.
- Detesto esse tipo de garota. - Diz Olivia. - Que vem para balada só para pegar alguém e fica com o primeiro que aparece na frente. Aliás, detesto qualquer um que faça isso.
Ignoro a alfinetada de Olivia e continuo olhando o casal. A garota me parece familiar...até demais. Quando os dois trocam de lugar, eu finalmente a reconheço. É Natalie, minha ex-namorada, se atracando com um cara que eu nunca vi na vida.
-Não pode ser. - Viro-me furiosamente, incapaz de ver aquela cena.
- O que foi? Não me diga que aquela é a sua ex-namorada?
- Infelizmente, é sim.
- Que cachorra. Deixa eu ir lá dar uns tapas na cara dela.
Olivia salta do banco, mas eu a seguro pelo braço.
- Não, você não vai fazer isso.
- Ah, eu vou sim. - Ela puxa o braço com força e pega seu drinque. - Mas não do jeito que você imagina.
Ela sai andando na direção dos dois e eu penso seriamente em levantar e ir embora, mas de repente, ouço sua voz me chamando.
- Nicholas? - Olho para trás. - Você não vem?
Percebo que ela está um pouco mais baixa do que antes. Ela deixou os saltos para trás. Levanto do banco e me arrasto até ela.
- Belo desfile, lesma humana.
Ela me puxa pela mão e eu começo a achar que foi uma péssima ideia ter vindo aqui.
- Ei, sua puta!- Diz Olivia. - EI!
Natalie e o garoto se afastam assustados e eu o reconheço.
- Marcos?
- Não me diga que você conhece ele também? - Olivia fica incrédula.
- Conheço sim. Esse aí é o meu melhor amigo, Marcos.
- Pelo visto, ele não é tão seu amigo assim.
- Nick, eu posso explicar. - Eu não acho que o batom vermelho de Natalie borrado em sua boca e seu cabelo todo desgrenhado precisem de qualquer explicação.
- Não, você não pode! - Diz Olivia.
- Então era isso? - Eu não queria, mas lágrimas brotam em meus olhos. - Você não deixou de me amar, você passou a amar outra pessoa.
- É. Foi mais ou menos isso. - Natalie copia as minhas lágrimas, só que as dela começam a rolar, enquanto as minhas permanecem em meus olhos.
- Você não vale nada. - Digo entre dentes.
- O quê? - Ela parece incrédula e, milagrosamente, suas lágrimas param de rolar.
- Você me enganou e jogou fora todo o amor que eu te dei. Você não vale nada. E você menos ainda. - Digo olhando para Marcos - Fingiu ser meu amigo enquanto roubava minha namorada. Vocês se merecem.
Olho para Olivia, esperando que ela me diga para irmos embora.
- Eu tenho nojo de vocês. - Diz ela.
Ela então despeja todo o conteúdo da sua taça em cima dos dois. Natalie e Marcos gritam.
- Sua louca! - Diz Natalie. - Você estragou meu vestido.
- E você não quebrou o coração do meu amigo. Venha Nick, vamos embora daqui.
Olivia me puxa pela mão e eu saio olhando para os dois, aos risos. Ela pega os sapatos do chão e deixa uma nota de cem dólares que tirou de dentro do sutiã no balcão para o garçom.
- Pode ficar com o troco! - Grita ela.
Tenho a leve sensação de que o garçom guardará para sempre essa nota.
Saímos de dentro da boate para o ar fresco da noite. Já é alta madrugada, mas eu não tenho vontade de dormir. Olivia para de repente e eu olho para ela. Ela ainda não soltou a minha mão.
- Por que parou? Vamos esperar uma táxi?
Ela ri escandalosamente.
- Táxi?? Eu acabei de deixar cem dólares naquela boate furreca. - O segurança da boate atravessa o olhar para Olivia, mas ela nem nota. - Táxi é o que eu não irei pegar.
- Então como vamos sair daqui?
Ela solta a minha mão suada e cruza os braços.
- Eu suponho que você tenha um carro, não é bonitão?
Uou, nós vamos embora juntos. Péssima ideia, péssima ideia.
- Ah sim, tenho. Para onde vamos?
- Eu dirijo.
Entrego as chaves para ela mesmo tendo medo de para onde ela irá nos levar.
Seguro o apoio acima de cabeça.
- Para onde você vai me levar?
- Você nem imagina. - Ela ri e dá a partida no carro.
***
Chegamos a um aglomerado de prédios novos e antigos. Não vejo nada além disso aqui. Para onde ela me trouxe?
Vejo-a tirar o cinto de segurança e descer do carro, ainda descalça, e repito seu gesto. Bato a porta do carro enquanto Olivia abre os braços e aspira fortemente o ar da noite.
- Ah! - Diz ela. - O ar poluído de Nova York. Lar doce lar.
- Onde nós estamos? - Pergunto sem conseguir me conter.
Ela olha para mim e sorri.
- Você já vai descobrir.
Ela puxa a minha mão esquerda, que estava enfiada em meu bolso, e me arrasta até um beco escuro. Paramos bem em baixo de um saída de incêndio. Ela solta minha mão e olha para cima.
- Faça uma concha.
- An? - Pergunto sem entender.
- Faça uma concha com as mãos, cabeção.
- Para quê?
Ela revira os olhos.
- Para eu subir, Nicholas.
Obedeço-a e ela pisa em minhas mãos. Em seguida, pousa as mãos em meus ombros.
- Você faz perguntas demais, Nicholas. - Diz ela olhando em meus olhos.
Olivia dá um impulso e consegue alcançar a parte de baixo da saída de incêndio. Ela se puxa para cima enquanto eu tento desviar o olhar da sua calcinha vermelha.
- Pronto. - Ela esfrega as mãos cheias de poeira. Em seguida, desce uma escada para mim. - Venha.
Subo a escada, um degrau de cada vez, até alcançar Olivia.
- E agora? - Pergunto.
Ela olha para cima e eu sigo seu olhar.
- Agora temos mais três subidas como essa até o topo.

Algum tempo depois, Olivia e eu chegamos ao terraço do prédio. Daqui de cima, tudo parece tranquilo, brilhante e sereno. O glitter no rosto de Olivia é iluminado pela luz da Lua acima de nós.
Ela se debruça sobre a beirada do terraço e, por um momento, eu quase penso que ela me trouxe aqui para vê-la se suicidar.
- Eu costumo vir aqui. - Começa ela. - Quando eu preciso pensar.
- E nunca pensou em deixar as escadas abaixadas?
- O esforço faz parte do pacote. Faz valer a pena essa vista.
Ela fica em silêncio por alguns segundos.
- De qualquer jeito - Ela se vira para mim. - acho que é você que precisa pensar.
Sento-me no chão, exausto.
- Como ela pôde fazer isso? E com o meu melhor amigo ainda?
Olivia se senta ao meu lado.
- A culpa não é só dela, Nicholas. Seu amigo foi um belo de um traíra também.
- Você tem razão. Mas dói. Tudo dói.
Escondo a cabeça entre os joelhos. Eu não quero as lágrimas, mas elas insistem em vir. De repente, uma mão delicada trás meu queixo de volta para cima.
- Ei. - Sussurra Olivia. - Não é feio chorar, sabia? Que mundo maravilhoso seria se os homens chorassem mais.
- Você acha? - Digo fungando.
- Tenho certeza.
Sorrio um pouco e enxugo algumas lágrimas. Olivia se deita no chão de pedra.
- As estrelas são tão bonitas daqui de cima. - Diz ela.
- As estrelas são bonitas de qualquer lugar. - Desdenho.
- Eu sei, mas é que lá embaixo, tudo é tão brilhante, tão ofuscante, que as estrelas viram meras coadjuvantes do céu.
Deito a seu lado, com as mãos atrás da cabeça.
- Eu queria que elas brilhassem mais, as estrelas. - Completa ela.
Encaro as estrelas por um tempo. Realmente, elas são muito mais bonitas daqui de cima.
- Ei! - Ela deita de lado para olhar para mim. - Você sabe por que nós olhamos para o céu?
- Não.
- Estamos sempre à procura de algo que irá resolver todos os nossos problemas e não sabemos onde procurar essa coisa. Então olhamos para o céu, em busca de consolo. - Suspira ela.
Percebo que estou encarando-a assim que ela olha para mim de novo. Ela sorri.
- Eu queria ser mais como você. - Diz ela.
- Como assim?
- Eu queria ser mais ingênua, mais serena. Eu já passei por muita coisa nessa vida, às vezes, eu só queria poder apagar tudo da minha mente. - Ela esfrega a testa.
- Mas quem você seria sem as suas memórias?
Ela esboça um sorriso e de repente eu consigo visualizá-la: segurando minha mão, nós atracados no banco de trás do meu carro, ela na cabeceira da minha cama, nós nos beijando. Eu deveria tentar beijá-la agora, mas não o faço.
Ao invés disso, ela volta a falar.
- Tanta coisa que eu poderia ter feito. - Ri ela. - Ou deixado de fazer. Se eu soubesse...
- Se eu soubesse que o meu namoro com Natalie fosse terminar desse jeito, eu nunca teria começado.
- Mas como você saberia se não tivesse começado?
Eu não aguento mais. Eu preciso MUITO beijá-la. Puxo-a pela nuca até meus lábios sedentos. Para minha surpresa, ela retribui o beijo. Seu beijo tem gosto de morango. Quando terminamos, ela sorri, ainda de olhos fechados.
- Isso foi um erro. - Sussura ela.
- Um erro muito bom. - Digo.
Ela abre os olhos e olha para mim.
- Vamos manter isso simples. Por favor. Só entre você e eu.
- Não consigo pensar em nada melhor.
E dessa vez, é ela quem dá início ao beijo.
***
Ficamos nos beijando no terraço por mais de uma hora. Está perto de amanhecer e os passarinhos começam a cantar nas janelas fos prédios. Olivia diz que está cansada, e me pede para levá-la em casa. Dessa vez, sou eu quem dirijo. Observo-a com a minha visão panorâmica. Ela encosta a cabeça contra o vidro da porta, os olhos fechados, a maquiagem borrada, os saltos e o celular no colo, os cabelos molhados, mas o sorriso sempre ali. Sorrio. Não quero nem imaginar por onde este celular esteve a noite toda.
Chego ao endereço que Olivia me passou. Paro em frente a um prédio chique, todo espelhado, que parece ser mais caro que o meu carro. Olivia abre os olhos.
- Lar doce lar. - Suspira ela.
- Você mora aí? - Pigarreio.
- Sim. - Diz ela calmamente. - Algum problema?
- Não, nenhum problema.
Ela ri de minha estranha surpresa.
- Foi bom estar com você. - Ela diz e me dá um beijo na bochecha, mas eu a luxo de volta e tasco-lhe um selinho.
Ela sorri e lambe os lábios discretamente, para depois abrir a porta do carro e saltar direto na calçada.
- Ei! - Digo. - Eu vou te ver de novo?
- Você tem meu número do bolso da sua jaqueta.
Enfio a mão no bolso da jaqueta e descubro um pedaço de papel que não havia notado antes. Sorrio.
- Bye bye. - Acena ela, fechando a porta do carro.

Que garota incrível. Eu preciso sentir aquele gosto de novo. Preciso vê-la de novo. Observo Olivia caminhar descalça pelo saguão enquanto o sol nasce do outro lado da cidade.

- Bom dia, anjo.

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