Preparativos de Natal
O sol estava reluzindo sob as montanhas, iluminando uma paisagem de dar arrepios. Era uma tarde de inverno tranquila na grande cidade de Seattle, as pessoas passavam apressadas em frente às grandes construções de cimento, sem nem mesmo notar as adoráveis vitrines onde estavam expostas roupas de gala, objetos de decoração, eletrodomésticos, livros e até bolos decorados em uma confeitaria. As ruas estavam enfeitadas para o Natal, que já vinha chegando; era possível observar guirlandas nas portas das residências, meias de ''tricô penduradas nas lareiras, enfeites nas árvores e gorros de Papai Noel nas janelas; porém poucas pessoas estavam no clima natalino, pois aquele havia sido um ano difícil e muitos ainda trabalhavam para compensar.
Era assim também no consultório de um casal de dentistas: o espaço estava decorado carinhosamente com figuras de presentes escovando os dentes e com cremes dentais dentro de pacotes dispostos embaixo do pinheirinho destinados às crianças. Somente naquela manhã, quatro pacotes haviam sido entregues aos últimos pacientes de Mary Campbell. Seu marido estava ausente, pois cuidava dos últimos preparativos para a viagem que fariam naquela noite com sua pequena filha, Emma, de apenas dois anos. Ela se sentia muito animada, pois seria a primeira viagem que eles fariam desde o nascimento da criança que ocupava todos os momentos livres dos pais muito ocupados. A menininha era baixinha, o cabelo levemente encaracolado na altura do queixo com um tom ruivo sutil e seus olhos cinzentos eram como o céu nublado do dia que havia nascido, como se seu corpo tivesse absorvido aquele tom no momento em que veio ao mundo.
A mulher foi interrompida de seus devaneios pelo toque do despertador na sala de espera, o que significava que já era hora de retornar para casa. Um cheiro delicioso invadiu o local, parecido com biscoitos recém-saídos do forno que ela tanto gostava; talvez devesse comprar alguns para levarem em seu passeio. Despiu rapidamente seu jaleco e o pendurou em seu escritório administrativo, que dividia com seu marido, ao lado de uma fotografia do casal quando ela estava grávida. Mary acariciava a moldura quando ouviu uma batida na porta, e, confusa, tentou imaginar quem poderia ser enquanto se dirigia ao olho mágico.
Mary não conseguiu conter a surpresa quando viu sua irmã Amy interagindo com Emma em seus braços, pois ela iria para casa de metrô, e por sinal já estava atrasada, e o simples fato de sua irmã morar a meia hora do consultório onde se encontravam e estar com a sua filha que estava em casa, que era ainda mais longe do pequeno apartamento onde Amy morava do que ali.
- Olá, minha princesinha!- Falou Mary, tomando Emma em seus braços, que ficou extremamente feliz e agitada- Por que está com a titia Amy?
- Passear!- Respondeu a menina, que ainda aprendia a pronunciar as palavras corretamente; porém, como era muito esperta, apontou na direção da tia e para o lado oposto do corredor, onde Ben Campbell, seu pai, fingia se esconder. Ele fez uma careta para a completa alegria da criança e, logo que chegou ao consultório, deu um beijo na testa da esposa. Esta estava confusa e indagou:
- O que vocês estão fazendo aqui? Eu logo iria pegar o metrô para podermos viajar!
- Estamos aqui porque Emma queria passear, já que eu terminei de arrumar as bagagens há um bom tempo e por causa de Amy, que tem uma boa notícia para te contar antes de partimos. - Respondeu o bonito homem, enrolando uma das mechas onduladas de sua esposa em seu dedo indicador.
- Eu irei abrir o orfanato que tanto sonhei para ajudar as crianças abandonadas da região em uma cidade próxima! - Empolgou-se a irmã, com um sorriso radiante estampado no rosto. - Nossos planos deram certo! Obrigada Mary por todo o apoio e por sempre acreditar em mim!- Ela a abraçou e depois se virou para Ben. - E você, meu cunhado, obrigado por ser esse piadista irritante e me impedir de desistir...
E foi nesse clima festivo que a família deixou Amy para trás e seguiram viagem. Porém eles nunca conseguiram chegar até seu destino final.