A aparição do outro amor

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Depois de horas, a ruiva e o loiro estavam sentados à beira de um riacho, desfrutando a bela vista que a correnteza proporcionava ao mesmo tempo em que molhavam seus pés na água e conversavam sobre os próximos passos que dariam.
Após dançarem por alguns minutos, a fome não permitiu que continuassem; a garota chegou a desmaiar por falta de comida. Thomas carregou-a até a base de uma árvore, que, para sua felicidade, possuía frutos que aparentavam ser comestíveis. A garota acordou, e o rapaz ofereceu-lhe as frutas; não era bem uma refeição, mas serviria. Desde então, eles decidiram passar o dia por ali, descansando. Ao cair da tarde, o loiro saíra para procurar caça, pois eles não poderiam viver só de frutas, porém não conseguiu obter nenhum pedaço de carne. Alimentados precariamente, encostaram-se à árvore, iniciaram os seus próximos planos.
- Para onde nós poderíamos ir? - Indagou Thomas, acariciando os cabelos de Emma.
- Eu estava pensando em seguir o que o garoto do meu sonho disse. Quem sabe alguém está mesmo nos esperando mais ao norte. - A garota animou-se com essa possibilidade.
- Isso é sério? - O rapaz exasperou-se. - Você realmente acha que tem alguém lá? Cresce logo, Emma! Os sonhos não são realidade, esse cara sequer existiu! - Gritou ele, fazendo a ruiva assustar-se e voltar-se em sua direção. Os cabelos dele estavam bagunçados, dispostos como uma onda por sua cabeça e seu olhar emanava um rancor profundo.
- Você não manda em mim! Se aquele homem sequer existiu, você sequer me conheceu, então! E já se acha no direito de me dar ordens! Eu vou fazer o que eu acho que devo fazer. Não precisa vir comigo, aliás, seria um favor se você não fosse. Mas o Morango vai comigo, não é, Morango? - O pato não deu o menor sinal de estar ouvindo, pois continuou brincando alegremente com as mãos de Thomas, que jaziam inertes no chão.
Emma, sem apoio nenhum, bufou, levantou-se e afastou-se um pouco dos dois. Avistou ao longe uma figura feminina. Com medo de se tratar de Laurel, escondeu-se atrás de um arbusto.
Mas quando a mulher se aproximava,vira que não aparentava ser mais velha do que ela. Seus cabelos eram estranhamente brancos como a neve, seus olhos eram mais negros que as nuvens de tempestade. Seu corpo definido estava coberto por um belo e longo vestido azul. Encarando seu rosto, Emma percebeu que a garota transparecia confusão em seu semblante.
Thomas, após alguns segundos, encontrou-a com o olhar e, imediatamente, a cor sumiu de sua face. Apressadamente, ele se levantou e foi de modo nervoso até ela, que agora estava parada, esperando alguma atitude de sua parte:
- Tho-Thomas? É você mesmo? - Exclamou ela, com a voz fraca, enquanto suas mãos envolviam-no em um abraço desesperado. O rapaz não retribuiu o gesto, muito pelo contrário, parecia que ele queria afastar-se, como se ela fosse uma pedra áspera roçando-o.
- Sou eu, Elizabeth, Elizabeth Prince. - Seu corpo enrijeceu-se enquanto respondia como se estivesse contendo algum sentimento. Seria ela amiga dele? Irmã? Qual o motivo para não gostar dela?
- Ah, Thomas... Quanta falta eu senti de você! A gente está aqui, nesse mundo tão estranho! Eu não fazia ideia de nada, nada mesmo, além da minha vontade de te encontrar. - A garota olhava para ele com uma expressão totalmente encantada, que faziam seus olhos brilharem. - Oh, meu lindo... Eu nunca tive coragem para te falar, e eu peço perdão por isso! Eu te amo, Thomas, eu te amo, eu te amo, eu te amo! - Ela nem esperou a resposta do rapaz para aproximar-se e arrancar-lhe um beijo apaixonado.
Emma já estava espremida por entre as folhas, escutando a conversa desde o começo; agora se encolhia cada vez mais, abraçando seus joelhos, as lágrimas escorrendo pelo rosto. Chorando em seu canto, não tinha forças e não queria sair daquele minúsculo local que escolheu para se esconder e para não ter que olhar na cara daquele rapaz mentiroso. Como ele pôde beijá-la naquela manhã, sabendo que ela nunca beijara outro alguém na vida, enquanto já era comprometido? Tirando as conclusões mais óbvias, de que eles seriam namorados e amantes, acabou por ficar ali mesmo,entregando-se ao choro pela perda seu primeiro amor perdido.
Secando as lágrimas e levantando-se com coragem,querendo encarar os olhos dourados do garoto, viu que a garota ao longe chorava sentada em uma pedra próxima ao rio. Seu choro era soluçado, mas se ela acabara de encontrar o seu amor, porque chorava daquela maneira?
Ela procurava o garoto com os olhos, mas não o via em lugar algum. Resolveu, então, aproximar-se da menina, que era bonita até mesmo chorando, com seus lisos e compridos cabelos brancos afastados de seu rosto,avermelhado e inchado, pelo fraco vento da tarde. Olhando desse ponto, ela parecia ser uma estátua de gelo, esculpida ali mesmo, com a pele tão pálida e parecendo gelada e fria. Ao dar passos cuidadosos e silenciosos para não assustá-la, ouviu de longe o garoto gritar seu nome, entretanto o procurava e não o via.
Esse grito despertou a atenção da recém-chegada, que agora estava caída ao lado da pedra,mirando os olhos cinzentos de Emma com seus olhos negros, demonstrando o medo que sentia.
- Olá- Cumprimentou Emma, tentando soar simpática; porém ela nunca fora boa em fazer amigos - Por favor,levante-se, não vou machucá-la. Acredite, eu nem sei como fazer isso.
- Quem é você? O que quer de mim?
- Eu esperava obter a sua ajuda, eu queria discutir uma coisinha com o rapaz que você estava conversando até pouco tempo atrás- respondeu Emma, com os olhos marejados.
- Então você deve estar falando do meu lindo Thomas, não está? - entoou ela melodiosamente, com um tom desafiador.
- Sim, estamos falando da mesma pessoa, mas agora não preciso mais encontrá-lo. Posso o ouvir chamar pelo meu nome, você não?- desdenhou a de olhos tempestuosos. A garota desconhecida agora mirava ao longe, gritando o nome de Thomas.
Deixando ela ali sozinha, Emma saiu às pressas, não querendo olhar para aquela mulher arrogante por nem mais um minuto. Ela sabia que iria acabar se metendo em confusão, sendo que talvez nem fosse ela, a loira, culpada. Determinada, embrenhou-se por entre as árvores, desejando encontrar Thomas,dizer para que ele a deixasse em paz e para que ele seguisse sua vida com aquela outra. Mas, ao mesmo tempo, queria que ele a escolhesse e a ajudasse.
Resolveu seguir para o norte, contrariando os berros, que antes podiam ser ouvidos do oeste. Ela estava sozinha e assustada, seguindo aquele imenso e horrível caminho, porém sua consciência dizia que estava fazendo o certo, deixando os três para trás.

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