A batalha final

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A batalha final



Seus olhos cinzentos como aquele céu tempestuoso acima dela, que permaneciam inertes, agora mexeram as pupilas e foram cobertos e por suas pálpebras. Quando se abriram, estavam brilhantes e também carregados de ódio. Emma sentou-se o mais rápido que conseguiu, virando rapidamente, procurando por seu amado Thomas: aqueles minutos em que imaginou que o perderia para sempre foram excruciantes. O alívio a dominou quando o encontrou com o olhar. Ele estava péssimo, com a aparência sofrida e fragilizada. Encarou-a, lágrimas caindo por sua face. Com um pouco de dificuldade, pois a garota estava tonta, uniram-se em um abraço reconfortante.


- Por mais que eu queira ficar com você, temos uma tarefa para concluir. - Começou Emma, levantando-se após se separar do loiro. E, determinada, seguiu em frente como se nada fosse capaz de destruí-la. Com os garotos logo atrás, até mesmo Henry (ela reconhecia o rapaz, embora nenhum de seus companheiros o fizesse: ele era um simples desenho que ela fez em uma das bordas do livro; claro que ninguém mais o conheceria). Unidos, os cinco se aproximaram dos horrendos monstros que não paravam de tentar avançar, todos da mesma forma. Eles caíam, derrotados, e seus lugares eram tomados por mais comparsas.


Alexander formou novamente a ponte à frente deles, para que passassem em segurança, só havia um único problema: os inimigos também poderiam avançar por ela. Na dianteira, iam Thomas e Logan, os melhores lutadores, cada qual com sua arma: lança e arco e flecha, respectivamente. Dessa vez, quem seguiu com ela para a matança foi o feiticeiro. Enquanto eles se desviavam da horda maligna, Emma avistou Elizabeth, passando pelos restos mortais dos animais que ali lutavam, seguindo em direção a Logan para atacá-lo. Entretanto, com um simples golpe de luta, ele a desarmou e alojou uma flecha em seu coração. Algo estranho aconteceu: ao invés de seu corpo jazer inerte no chão, ele se transformou em pó e foi levado pelo vento, desaparecendo entre os outros gladiadores, que também, quando mortos, sumiam.


Emma viu Laurel encará-la, seus olhos azuis focando-a, chamando-a para um duelo. Uma qualidade, não sabia se assim poderia descrever, que as duas compartilhavam era a força e a determinação para uma batalha; elas nunca fugiriam de uma, por mais difícil que fosse e estando claro que perderiam. O medo invadiu a ruiva naquele momento, mas agora não tinha mais tempo para escolher, teria que continuar. O sorriso de Laurel era encantador, porém ao mesmo tempo era malévolo e amedrontador. Deixando Alexander para trás, Emma avançou em direção à sua oponente. Ela era muito mais forte, alta, concentrada, é claro, mas a garota era corajosa: poderia morrer novamente, porém tentaria vencer.


Encararam-se durante alguns instantes, travando uma batalha silenciosa. Emma ouviu um grito ao longe, mas resolveu ignorar, afinal toda a sua concentração deveria estar nessa luta decisiva. Laurel estava armada com uma espada encantadora, que parecia ter sido feita para ela, de prata pura, repleta de lindas pedras preciosas. Ela ganhava vida na mão da guerreira, como quando uma tela branca recebe os sentimentos do artista; Emma conseguia sentir a raiva e a determinação com que a outra se mexia, e sentia também como a loira a tratava com superioridade, já que a ruiva estava desarmada. Em resposta àquilo, a garota começou a usar de outros pontos fortes que poderia apresentar em batalha: contornava Laurel, deixando-a tonta e a enfraquecendo, cansando-a cada vez mais. Ousou fazer algumas investidas com pedras e golpes corporais, que pareciam obter sucesso. Em uma ofensiva de Laurel, esta tentou acertá-la com a espada nas costas, porém a ruiva foi mais rápida e conseguiu desarmá-la e derrubá-la ao chão. Rápida como um raio, ela pegou a espada forjada para a vilã e a acertou diretamente no coração, abrindo uma enorme ferida em seu peito. Desintegrando-se, ela sumiu mais rápido de que Elizabeth.


Tonta e cansada demais para fazer qualquer outra coisa, a garota deixou-se cair naquele solo. Ela sentia-se completamente enjoada, porém o alívio pulsava em seu peito: ela havia conseguido. O mundo estava livre daquela tirana loira; Emma Campbell, a órfã invisível, havia conseguido derrotar o mal que fez Alexander criar a maldição e lançá-la nos doze livros. Era ela tão poderosa? Seus pais estariam olhando-a nesse momento? Foi interrompida por um grito torturante. Olhando ao redor, as estranhas criaturas com quem estavam lutando haviam desaparecido, e agora se via uma figura humana de cabelos loiros indo de encontro ao chão.


Ela levantou-se correu o mais rápido que conseguiu na direção de Thomas, que caíra no chão sem nenhum motivo aparente. Não havia ferimentos em seu corpo; ele estava perfeitamente bem um segundo atrás e, de repente, ele parecia um cadáver. A garota lançou-se ao chão ao lado do rapaz, que iniciava ter convulsões. Ela tomou as mechas loiras dele em seus delicados braços, que agora tremiam de cansaço e de medo de perder o garoto. Ele abriu os olhos perfeitamente dourados e os fixou na imensidão dos olhos tempestuosos da menina. Ele tentou se sentar, porém caiu novamente, agora no colo de Emma.


- Emma... - Gemeu ele, tanto de dor quanto de alívio. Seus olhos fecharam de dor com o esforço, mesmo que mínimo, que pareceu tê-lo afetado profundamente. A ruiva pousara seu dedo indicador nos lábios rachados dele, ferventes como a pele dele começara a ficar.


- Shhh... - Murmurou ela, amaciando a boca carnuda dele, com lágrimas pendendo de seus olhos. - Eu consegui. Eu estou aqui para você, como você antes estava para mim. - Um soluço escapa de sua garganta, mesmo ela tentando reprimi-lo; ela precisava que Thomas ficasse com ela.


- Eu preciso te contar uma coisa - A voz dele estava tão fraca que era quase inaudível; seus olhos estavam ficando nebulosos e olheiras apareceram em suas pálpebras, sua respiração estava ofegante e gotas de sangue escorriam de suas narinas, sem motivo algum. As muitas lágrimas que escorriam dos olhos dela agora começavam a delinear a dura face de Thomas, que se contorcia em uma careta de dor.


- Não, Thomas, não... - Mais e mais soluços escapavam sem permissão de sua garganta. Ela enterrou o rosto no ombro dele para tentar se acalmar: ele precisava dela agora, precisava que ela ouvisse o que ele iria contar. Com uma calma que estava longe de sentir, ela endireitou-se, ajeitou a cabeça de Thomas em seu colo e começou a brincar com as mechas espetadas que insistiam em cobrir aquelas íris mais brilhantes que ouro puro. - O que foi? - Hesitante, o garoto inspirou o mais profundamente que conseguiu e, encarando-a intensamente, iniciou seu discurso.

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