Capítulo Seis - Fernando Serrano

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Atenção!

Essa história ficou disponível para leitura até 10/09, foi retirada para revisão, sendo deixado apenas alguns capítulos para degustação.


***


No momento em que enviei aquela mensagem sabia que tinha feito merda. Eu tinha o dom de afastar as pessoas. Becca foi a única que eu, em muito tempo, realmente não queria afastar. E olha o que fiz...

Logo digitei uma mensagem me desculpando. Não queria ser rude com ela, mas sempre acabava fazendo exatamente o que não queria. Depois do que aconteceu, eu simplesmente me fechei para o mundo e criei um mecanismo para afastar as pessoas. Eu era o pior tipo de pessoa. E não fazia nada para mudar isso.

Mas Becca me fazia querer ser melhor, pelo menos com ela. Era como se eu quisesse protegê-la de mim mesmo. E isso era no mínimo muito estranho.

Meu celular vibrou e a palavra Boneca apareceu na tela:

Boneca: Tudo certo.

Ela respondeu. Mas não estava tudo certo.

Queria acreditar em suas palavras e, por um momento, fingir que eu era normal. Eu a paqueraria e quem sabe, até a namoraria. Balancei a cabeça, afastando os pensamentos. Mesmo se eu tivesse interessado em um relacionamento, ela, e nenhuma outra, aceitaria ficar comigo quando soubesse o que eu fiz. Quando soubesse o merda estúpido que eu era.

Afundei a cabeça no travesseiro e gemi. Queria poder conseguir chorar, mas meu corpo se recusava a me dar esse prazer. Eu não merecia nem a umidade de minhas próprias lágrimas. Estava fadado a um futuro sozinho e fodido. Exatamente como eu me encontrava agora. Sozinho. Indesejado. Perdido no mundo. A casca vazia de um homem que um dia conseguiu estragar todo o seu futuro. Aliás, não só o meu, mas três futuros foram perdidos por causa de mim...

Será que algum dia eu conseguiria me olhar no espelho de cabeça erguida? Essa é uma daquelas perguntas que nunca teremos resposta.

***

Saí da cama parecendo um zumbi. Arrumei o apartamento e me joguei no sofá, mudando os canais da tevê aleatoriamente. O pior para mim de estar nessa cidade, é estar nessa cidade de férias. Enquanto tinha aulas, eu conseguia me focar em algo. Eu acordava, ia para a faculdade, voltava para casa, fazia as atividades, estudava e dormia; para repetir tudo no dia seguinte.

Às vezes, uma ou duas vezes na semana, encontrava com Lyana e isso era o máximo de entrosamento com uma pessoa que eu tinha. Nas férias eu ficava perdido, deslocado. Eu já tinha adiantado todas as atividades da faculdade e tinha estudado o máximo que me era permitido. Sair para festa não estava em cogitação. Sair atrás de garotas muito menos.

Bufando, desliguei a tevê e sentei, apoiando os cotovelos no joelho e prendendo o cabelo entre os dedos.

Minha vida era um desperdício. Eu não entendia qual o motivo dela, e sinceramente, nem queria saber. Entendia que tudo pelo que eu passasse ainda seria pouco. Tinha muito que pagar, e que aceitar tudo calado.

Levantei e comecei a andar de um lado para o outro. Eu precisava arranjar algo para ocupar minha mente ou acabaria fazendo alguma besteira.

Tomei um banho rápido, vesti qualquer roupa que vi pela frente e peguei as chaves do carro. Vaguei pelas ruas sem rumo certo, apenas seguindo o fluxo. Nada despertava meu interesse. Não sei ao dizer como, mas quando percebi estava parado em frente ao café onde Becca trabalhava.

Colidindo em Você (DEGUSTAÇÃO!)Onde histórias criam vida. Descubra agora