XX - "Conhecendo o Prisioneiro Pt.3"

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(Assim que esse capítulo foi postado no dia 20/11 às 22h18, o Prólogo bateu a marca de 100 Views! Sei que é pouca coisa, mas sendo grato nos pequenos detalhes é que grandes conquistas são atingidas... Sendo assim, OBRIGADO SEUS DANADOS!)

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Onde eu estava mesmo no meu tour da desgraça?

Lembrei... Quando todos da minha família fingiram que eu não existia.

Ficar sozinho para mim nunca foi sinônimo de algo ruim. Na verdade, sempre gostei mais da minha companhia ao invés de aturar pessoas idiotas dividindo o mesmo ar que eu. Talvez por meus pais terem me dado a criação que eu tive, ou por que sempre me achei superior a todos em minha volta, ou por que eu nasci com defeito de fábrica. Quem sabe.

Minhas tias não foram na delegacia quando as convocaram. O delegado entendeu, afinal, quem iria querer cuidar de uma criança que não fosse filho, sem receber um tostão, e ainda uma criança assassina? Na verdade, elas receberam sim alguns tostões com a morte da minha mãe, já que eu fui deserdado no momento em que atravessei a lamina da faca no peito do meu pai.

Meu avô, aquele que se divorciou da minha vó, que tinha uma fazenda enorme o suficiente para que eu morasse lá sem que ele tivesse que olhar para mim por semanas, disse que não queria olhar nunca mais na minha cara e encenou uma queda de pressão, ou teve mesmo, nunca soube. Daí em diante me transformei em um indigente. Eu nunca tive uma família de verdade, e agora, menos ainda.

Fui encaminhado para um reformatório. Eles diziam que eu "fui encaminhado", mas sempre achei que a palavra "arremessado" ou "jogado" se encaixava melhor no que de fato aconteceu.

Sempre gostei de saber o conceito das coisas. O conceito de reformatório é, ou essa era a ideia, um local para "reformar" pessoas desajustadas. Teoricamente, até que é algo bonitinho de querer fazer. Na pratica, era justamente o oposto.

Fiquei lá até completar 18 anos. Nunca entendi por que eles achavam que uma idade no RG seria o suficiente para dizer - É... você está apto para voltar para sociedade com a ficha limpa, mesmo tendo matado seus pais - mas não posso reclamar, afinal, eu sobrevivi e fui liberto.

Liberto entre aspas. O que aconteceu naquele lugar ajudou a me deixar do jeito que sou hoje, somando com a minha criação e o que aconteceu no orfanato... Que faço questão de relembrar em seguida. Eu era temido no reformatório, primeiro: todos ali sentiam saudades dos pais, e eu havia enfiado uma faca no peito do meu velho e feito minha velha se suicidar; segundo: minha personalidade era, e continua sendo, algo não muito agradável. Pelo menos era o que a maioria lá dizia; terceiro: eu sabia que se eu não fosse temido, eu seria usado como uma garota ou seria morto, depois de algumas horas no banheiro, alguns cortes no rosto e sengue na pia, consegui um rosto que era, assim como minha personalidade, algo não muito agradável e afastava a maioria dos outros garotos. Perfeito!

Foi ali que fiquei parecido com meu pai. Conheci os prazeres e desprazeres da bebida e do cigarro, além de outras drogas que hoje nem sinto vontade de citar a nomenclatura. Todos ali eram indivíduos inferiores, desde a pseudo-gangue que roubavam mulheres gravidas antes de serem pegos, os guardas que viviam assistindo pornografia e até o dono do lugar, um cara que aparecia algumas vezes e sempre que ele ia embora, algum garoto afeminado, geralmente de pele branca, acabava sumindo. Mesmo com o - rostinho de mocinha - que tenho, ele nunca tentou a sorte comigo. Talvez pela minha pele não ser tão branca ou pelo meu belo histórico com homens que abusavam de outras pessoas. Nunca soube.

Projeto Nêmesis #01 - A Essência (RASCUNHO)Onde histórias criam vida. Descubra agora