XIX - "Conhecendo o Prisioneiro Pt.2"

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(ATENÇÃO: Daqui até a parte em que eu avisar é a mente do Vince falando, ou escrevendo, ou pensando, ou tanto faz... Por isso tanto itálico. Vlw flws, beijos me liguem :v)

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Vejamos, onde tudo começou a dar errado?

Ah sim!

No dia em que meu pai descobriu que eu estava na barriga da minha mãe...

Segundo as poucas conversas que tive com a mulher que me colocou no mundo, minha concepção não havia sido das mais desejadas, longe disso. Ela era uma mulher vinda do interior. Dessas inocentes e sedentas por um bad boy demais. E foi exatamente um desses bad boys que ela encontrou em uma noite de serviço, quando trabalhava como garçonete em uma lanchonete de beira de rodovia.

Meu velho só queria usar alguma mulher que estivesse disposta a aguentar seu hálito de cigarro e dormir nos fundos da sua van enferrujada, já que estava no bar para afogar a tristeza por não ter pago o aluguel, pelo terceiro mês seguido. Minha velha só queria alguém que pudesse oferecer a ela o fruto proibido que a vida na cidade pacata não fornecia. O casal perfeito. Pelo menos na primeira noite.

Quando algo começa errado, termina errado. Algum velho sábio do quão não me importava o nome havia dito isso. E esse maldito velho sábio estava certo. O relacionamento dos meus pais começou errado, foi errado durante toda a sua duração e continua errado até hoje, mesmo com os dois já mortos (e sinceramente, espero que muito mal reencarnados).

Meu pai não queria ser pai, ele tinha suas razões: não tinha dinheiro, nunca cuidou de uma criança na vida, nunca cuidou nem de um animal na vida e não tinha realmente um tostão furado no bolso. Minha mãe teve um choque de realidade quando soube que eu estava dentro dela. Pelo menos era o que ela dizia. Talvez para não assumir toda a culpa pela burrada que ela fez com esse tal choque.

Assim que me perceberam, os dois recorreram a bondade (ou burrice) da minha vó, que espero que tenha reencarnado em uma vida muito melhor, ela merece. Passaram então a morar nos fundos da cada da pobre coitada. Que de pobre não tinha nada, pois era divorciada de um velho rico, que recordarei mais para frente. Ela não podia se recusar a ajudar sua filhinha que carregava o seu futuro neto, mas deveria ter feito isso (eu teria feito).

A burrada da minha mãe começou logo nos primeiros dias morando lá. Era domingo de manhã, o horário predileto de pessoas que vagavam pela cidade, chamando de portão em portão em busca de pessoas vazias, precisando de ilusões para se iludirem ou com um bebê que elas não queriam crescendo dentro delas, que era o caso da minha velha. Até hoje não sei que tipo de hipnose ou chantagens emocionais aqueles engravatados usaram, mas funcionou. Ela se converteu ali mesmo no portão, deve ter sido uma festa, e dali para frente se tornou uma boa e obediente cordeirinha que tentava redimir sua promiscuidade e conseguir fugir do doloroso destino dos pecadores, ou o destino que ela acreditava que os pecadores teriam quando batessem as botas. Pobre iludida.

Meu pai, obviamente, não gostou nada de perder a cozinheira, faxineira e copeira que ele tinha para um cara pendurado em toras de madeira cruzadas. Não, isso ainda é pouco. Ele realmente não gostou nem um pouco. As provas de todo esse desgosto começaram a aparecer bem rápido, aparecendo na cor roxa nos olhos, no pescoço, por todo o corpo na minha mãe e por ai vai. Isso enquanto eu estava dentro dela e depois só piorou ainda mais.

Os dois pareciam disputar quem se intensificava mais, como dois irmãos rabugentos querendo provar que um é o melhor e o outro, o segundo melhor. Ele já bebia e fumava, passou a beber e fumar muito mais. Ela já ia para a igreja frequentemente e se fazia de santa, passou a aumentar seus teatrinhos ainda mais.

Projeto Nêmesis #01 - A Essência (RASCUNHO)Onde histórias criam vida. Descubra agora