VIII - "Desculpa Esfarrapada"

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- Já vai... - Samanta salva as páginas no navegador e fecha seu notebook, levantando na terceira batida na porta. - Já disso que já estou indo!



A porta de madeira escura do apartamento é aberta, Vick entra jogando a bolsa no sofá e sentando em seguida, bufando como um touro.



- Meu passaporte foi bloqueado!



- É, você me disse pelo telefone... - Samanta gira a chave para trancar a porta, ela nunca gostou de ter que parar suas pesquisas sobre algum caso, pois só chegava ao ponto de pesquisar raramente.



- Como vamos sair dessa droga de cidade agora? - Vick deita no sofá, jogando os sapatos longe e usando um dos braços como travesseiro.



- Pode começar me dizendo porque seu passaporte foi bloqueado...



Vick estava uma pilha de nervos e a última coisa que queria neste momento era ser questionada, principalmente sobre algo que ela não poderia explicar, pelo bem da relação.



- Sei lá... A atendente falou várias coisas sobre o sistema e algo sobre uma restrição doida e...



- Vick... - Samanta interrompe - Eu prometi que aceitaria seus segredos porque eu te amo, mas você não acha que está na hora de deixar eu te ajudar? - ela se senta no chão à frente do sofá, fazendo cafuné nos cabelos vermelhos e repicados de sua namorada.



- Amor... Eu queria poder te contar, mas não quero arriscar perder a única família que eu tenho além do meu pai...



- Você está me traindo? - Samanta pergunta com uma das sobrancelhas erguidas.



- Oque?! Claro que não sua boba!



- Está saindo com seu ex-namorado? - Samanta ergue ainda mais a sombrancelha. Vick responde com a mesma cara de "não sou tão idiota para chegar nesse ponto" da noite passada, Samanta continua - Se não está me traindo e não está falando com o traste do seu ex-namorado, você não vai me perder se me contar.



- Huuuufs... - Vick suspira - Ok... Eu fiz algumas burradas antes de te conhecer, para conseguir dinheiro para pagar o tratamento do meu pai...



- Que tipo de burradas? - Samanta ativa o modo "psicóloga".



- Lá vamos nós... - Vick se endireita no sofá, sentando na posição de lótus e dando espaço para Samanta se sentar ao seu lado - Quando meu pai ficou doente eu tinha acabado de terminar o ensino médio, estava desempregada e os serviços disponíveis nos classificados não pagariam nem dois porcento do valor do tratamento. Um dia, quando estava saindo do Hospital após uma visita e não conseguindo esconder o desespero que eu estava sentindo, uma mulher me abordou e ofereceu um meio para manter meu pai recebendo o tratamento necessário para vencer a doença.



- E qual era esse meio? - Samanta estica as pernas e deita Vick sobre elas, mexendo com os delicados dedos nas madeixas ruivas enquanto presta atenção em cada palavra que ela diz, pois era raro conversarem sobre esse assunto.



- Essa mulher fez uma oferta que eu não poderia recusar, ela ofereceu o pagamento de todo o tratamento caso eu fosse voluntária para usar uma vitamina em fase de testes por alguns meses... - Vick percebe a expressão de desaprovação no rosto da Samanta e já responde - Eu sei, eu sei... Eu deveria ter pensado melhor, mas naquele momento...



- Eu entendo amor, você ama seu pai e faria tudo de novo para ver ele saindo daquela cama... E o que aconteceu nesse experimento?



- Nada de mais... Eu fiquei tomando algumas pílulas e passando por entrevistas para colher informações por alguns meses e só... - Vick tentava não transparecer a mentira que estava contando para Samanta, mas era difícil convencer alguém perito em ler pessoas, principalmente quando se está no colo de alguém assim.

Projeto Nêmesis #01 - A Essência (RASCUNHO)Onde histórias criam vida. Descubra agora