Capítulo 4: Canção de Ninar.

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Olá meus amores :) Não tenho nada a dizer no momento, só...

Boa Leitura.


(...)

Meus pés me guiaram para dentro de casa, como se eu não os controlasse. Meus pais ainda estavam acordados, provavelmente me esperando, assistiam tv, como se não estivessem preocupados. Me senti envergonhada e passei pela sala com a cabeça abaixada ao corpo. O que meus pais pensariam daquilo? Minha mãe com certeza não aceitaria. Talvez até me expulsasse de casa.

- Filha? - Meu pai ou minha mãe chamou, não pude dizer qual deles, a voz tinha saido muito baixa.

- Estou com frio e sono, vou tomar banho e dormir. - Disse apenas, correndo escada acima até meu quarto, na minha cabeça algo me dizia que eles sabiam o que eu tinha feito, tinham visto tudo.

Ao chegar em meu quarto, fui diretamente para o banheiro, deixando minhas roupas molhadas cairem, entrei debaixo da água quente, Dinah não me saia da cabeça. Dinah, seus olhos, sua pele, seu rosto, seus lábios. Um longo suspiro saiu de mim, tocando minha testa contra o azulejo gelado enquanto a água quente ainda caia sobre o meu corpo. Droga, droga, droga. Dinah queria nunca ter saido com você, nunca ter te beijado. Dinah, eu queria você aqui comigo, agora. Confronto interno? Era práticamente como se eu estivesse desenvolvendo uma dupla personalidade. Uma que amava Dinah e a outra que a odiava.

Não, nenhuma parte de meu corpo odiava Dinah, eu podia até odiar a mim mesma por ama-la. Como eu podia pensar em amor? Meus relacionamentos nunca duraram mais que um mês. Como eu podia pensar em amor? Minha cabeça girava, era incrível e assustador como nas últimas horas eu tinha perdido total controle sobre minha vida e sobre quem eu sou. Isso não podia estar certo. Não sei quanto tempo fiquei embaixo da água, só sei que saí em disparada como meu coração quando ouvi meu celular tocar. Nua e molhada procurei o celular em meio as roupas, para ver um número desconhecido no visor.

- Alô? - Atendi, tentando me acalmar.

- Estava correndo? - A voz de Dinah perguntou do outro lado da linha.

- Não - menti. - Porque eu estaria correndo? - Perguntei em um tom despreocupado.

- Está tomando banho? - Ela perguntou e notei que nem ao menos tinha desligado o chuveiro. Voltei para desliga-lo e me enrolei em uma toalha.

- Estava. - Respondi saindo do banheiro agora.

- Hum.. - Murmurou e quase pude ver aquele sorriso que ficava escondido no canto de seus lábios.

- Suponho, que não morreu.. - Disse eu me jogando na cama.

- Não, eu não morri. Disse que não precisava se preocupar. - Ela disse em meio de barulhos e pensei ter escutado outra voz. - Porque não consegue ficar quieto? Eu to no telefone. - Dinah sussurrou, tinha mais alguém com ela.

- Está com alguém? - Perguntei tentando parecer despreocupada, mas sem dúvidas, eu estava com ciúmes.

- Não. - mentiu ela. - É só a tv. - Ela mentiu descaradamente, e me perguntei porque ela precisaria fazer isso.

Fiquei em silêncio, era tão estranho eu pensar que não era exclusiva. E aliás, porque eu iria querer ser exclusiva? Foi só um beijo, um beijo errado. Que nunca deveria ter acontecido.

- Allyson? - Dinah chamou do outro lado da linha, eu devia ter ficado tempo demais sem falar.

- Estou aqui. - respondi, com a voz baixa deslizando minha mão livre pelo lençol de minha cama.

- Não estava encarando o telefone, estava? - Sorri com sua brincadeira, embora eu estivesse brava, eu acho que estava brava. Estava?

- Não. - Apenas respondi, voltando a pensar na voz que tinha escutado.
- Eu estava pensando.. Quer que eu passe aí amanhã, pra irmos pro colégio? - Sorri novamente com a nova possibilidade. É claro que eu queria que ela viesse aqui. Queria que ela nunca tivesse saido de perto de mim. Era isso que mais me assustava.

- Seria ótimo. - Respondi animada, esperando que isso não se passasse em minha voz.

- Então, te vejo amanhã? - Dinah perguntou em tom de despedida.

- Não! - Respondi apressada.

- Não? - Dinah perguntou com confusão.

- Sim, quer dizer, - Não conseguia me expressar direito. - É.. Não desligue. - Dinah ficou quieta por um tempo.

- Tudo bem, eu vou ficar aqui. - Fechei meus olhos, sem me secar ou me vestir, cobri todo meu corpo com meus edredons.

Ouvindo o respirar de Dinah do outro lado da linha, desejando-a comigo. Deitada ao meu lado, com seus braços em volta de meu corpo, como quando nos beijamos. Como eu conseguia desejar nunca te-lá beijado e em ter do meu lado ao mesmo tempo? Suspirei pesadamente.

- Canta pra mim? - As palavras sairam sem eu te-las medido.

- O que? - A voz de Dinah era um misto de confusão e diverção.

- Cantar, uma música só pra que eu possar dormir. - Eu resolvi insistir no pedido, já que era realmente o que eu queria. Novamente, Dinah ficou em silêncio por um tempo. E depois começou.

A kite above a graveyard grey
At the end of the line far far away
A child holding on to the magic of birth and awe

Oh, how beautiful it used to be
Just you and me far beyond the sea
The waters, scarce in motion
Quivering still


At the end of the river the sundown beams
All the relics of a life long lived
Here, weary traveller rest your wand
Sleep the journey from your eyes

Good journey, love, time to go
I checked your teeth and warmed your toesIn the horizon
I see them coming for you


Ela cantou em um único fôlego, embora que desse algumas pausas durante a música. Me senti tonta ao som de sua voz tão doce em uma música tão linda. Uma música que eu nunca tinha escutado em toda minha vida. E dentre todas as coisas que eu não conseguia explicar uma me fez ficar ainda mais confusa. Uma única lágrima escorreu por meu rosto. Eu não me sentia triste, e nem feliz o suficiente para chorar. Era como se Dinah tivesse um poder sobrenatural em mim, que me fazia despertar sentimentos dos quais eu nunca tinha sentido ou conhecido. Dinah continuou em silêncio por um longo tempo e eu também. Como naqueles momentos, em que estamos presas em nossos próprios pensamentos.

How do I live without the ones I love?
Time still turns the pages of the book it's burned
Place and time always on my mind
I have so much to say but you're so far away


Sleep tight, I'm not afraid...


Dinah recomeçou a cantar, obviamente uma outra música. Não sei se ela continou cantando, pois eu cai em sono com sua voz musical em minha cabeça.

Sleep tight, I'm not afraid...

Não tive sonhos. Quando acordei de manhã, o celular estava no travesseiro ao meu lado, olhei seu visor, ainda estava na ligação com Dinah. Marcava mais de nove horas de ligação, agarrei o celular com pressa.

- Dinah? - Tentei, esperei a resposta por um tempo. Nada. Ela devia ter dormido.

Desliguei a ligação, ela pagaria uma fortuna por ela. Meu celular estava com um ponto de bateria, me admirava que a bateria não tivesse acabado. Ainda era cedo. Sete e vinte da manhã. Minha mente ainda navegava na névoa da noite passada, a voz de Dinah cantando pra mim, me fazendo dormir. Nunca ninguém tinha cantado para me fazer dormir. Com excessão de meu pai quando eu tinha nove anos. Meu pai, como ele se sentiria quando soubesse sobre sua filha? Como ele agiria? Meu pai era a última pessoa no mundo que eu queria decepcionar.

Me levantei, deslizando os dedos por meu cabelo. E notei que ainda estava nua, não tinha me vestido noite passada. Me levantei e coloquei uma roupa qualquer, ainda estava muito cedo para eu me arrumar. Senti fome, desci sentindo o inegavel aroma de melado. Minha mãe devia estar preparando panquecas. Eu não estava errada, quando cheguei a cozinha ela girava panquecas em sua frigideira. Minha mãe era chef antes de eu nascer, deixou de trabalhar pra cuidar de mim e sempre que tinha a oportunidade jogava isso em minha cara. Meu pai já estava arrumado, com terno e uma caneca de café em mãos. Café nunca teve tanto significado pra mim quanto agora.

- Bom dia princesinha. - Meu pai desejou a mim com um sorriso e eu sorri de volta. Ele sabia que eu não falava ao acordar.

Não por mal humor, só por ser uma mania que eu tinha desde que me conhecia por gente. Sentei-me a mesa e minha mãe colocou duas panquecas em um prato a minha frente, com manteiga e melado.

- Tá na minha hora. - Informou meu pai, dando um rápido beijo em minha mãe e logo depois em minha testa. Saiu da cozinha me deixando a sós com minha mãe. Que droga.

- Então, o que você e aquela garota fizeram ontem? - Dinah. Eu a corrigi internamente.

- Tomamos café e jantamos. - A sobrancelha de minha mãe ergue-se em curiosidade.

- O que comeram? - Minha mãe perguntou, sentando-se a mesa para tomar também seu café da manhã.

- Sushi. - Respondi apenas, cortando um pedaço de minha panqueca levando-o a boca logo depois.

- Hum.. E sabe quanto tempo esse trabalho vai durar? - Revirei meus olhos, sem olhar pra minha mãe.

- Um mês. - Ela fez um som de desgosto.

- Não quero você tanto tempo assim com aquela garota. - me irritei, levantando-me bati com as mãos na mesa.

- O nome dela é Dinah, ela é melhor do que pensa. - Me direcionei para fora da cozinha.

Todo dia era a mesma coisa. Me joguei sobre o sofá da sala e fiquei assistindo ao desenho que passava. Minha mãe não veio atrás de mim, ou falou comigo conforme as horas passavam. E finalmente, deu a hora de eu ir pra minha aula, nunca havia ficado tão animada para ir a aula. Subi para meu quarto as presas, e fiquei pronta antes da hora. Mas antes da hora, uma buzina tocou a frente de minha casa, corri até a janela de meu quarto e pude ver o mesmo carro preto no qual tinha visto Dinah entrar no outro dia.

Um sorriso bobo surgiu em meus lábios, peguei minhas coisas e desci as escadas correndo, parando a porta de entrada de minha casa. Segurando a maçaneta, fechei meus olhos por um momento e respirei fundo, me acalmando. Pois, me sentia como uma criança na manhã de natal quando pensava ou estava com Dinah.

Sai de casa, sem falar com a minha mãe, e Dinah não saiu do quarto, as janelas eram escuras, mesmo assim, entrei no banco carona e Dinah sorriu pra mim, meu coração pulou, aquele sorriso, estava se tornando tudo. O que é ridículo em tão pouco tempo. O que é ridículo só pelo simples fato de eu sentir isso por ela. Uma garota que eu nem conhecia, uma garota. E internamente prometi a mim mesma que nunca mais a beijaria novamente. Perdi o controle sobre mim mesma quando Dinah começou a trasgredir o já pequeno espaço entre nós. Não me afastei e seus lábios tocaram os meus, calmos, como nosso primeiro beijo. Sua língua entrando em minha boca lentamente, suas unhas roçando em minha nuca. E eu, correspondendo ao seu beijo como uma legítima apaixonada. Novamente senti seu gosto, café adocicado. Não podia existir sabor melhor. Internamente, durante aquele beijo, prometi a mim mesma que nunca mais faria promessas que eu não poderia cumprir. Mal eu sabia, que essa era uma delas.   


Parceiras de Crime - (Dinally)Onde histórias criam vida. Descubra agora