BÔNUS

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Anne

Sou a Anne e tenho dezenove anos. Eu não sei bem o que me tornei, mas eu juro que tudo funcionava melhor quando o Senhor Frederick, ainda estava por aqui. Eu sempre gostei de seu nome! Ele era o meu pai. Meu grande e doce pai. Mas eu o perdi! O perdi pra um acidente de carro. Eu nunca vou conseguir esquecer a dor que invadiu minha alma quando o vi sem vida, com sangue entre as ferragens. Eu nunca vou conseguir explicar o que senti naquele momento! Eu não conseguia acreditar! Cada pedacinho do meu corpo implorava pra não ser verdade, pra não ser comigo, pra ser com qualquer outra pessoa, mas meu pai não. Mas quem é que ganha da morte? Eu não tinha nem como competir! Naquele dia eu deixei ali entre as ferragens, a minha vida.

Se está se perguntando sobre minha mãe, essa eu nem conheci. Mas também nunca nem tive vontade de conhecer. Uma mulher que abandona um filho, esta até normal nos dias de hoje. Mas uma mulher que abandona uma filha e um homem como meu pai, eu não consigo perdoar. Eu cresci vendo a dor em seus olhos quando ele me olhava e via em mim traços dela. Porque por mais que eu quisesse parecer com meu pai, eu tinha o mesmo rosto da minha mãe. Só a vi por foto, e foi como ter visto mais uma de minhas fotos.

Faz uns cinco meses que o perdi, e desde então minha vida se transformou em um inferno. Como meu pai guardava dinheiro em casa, tive como manter os dois primeiros aluguéis do nosso apartamento. Da faculdade, eu tive que desistir. Não teve jeito! E pra completar, posso ser despejada a qualquer momento. Tive que dá pro dono do apartamento vários dos nossos móveis, mas esta cada dia mais difícil controlar aquele homem. Ele não tem sentimento, não se importa. Faz questão de dizer que tem outros na fila.

Choro enfrente ao meu espelho e sei que preciso fazer alguma coisa. Qualquer coisa! Daqui a poucos dias eu não terei dinheiro nem pra comer, não consigo arrumar um emprego. De repente me surgi uma ideia. Isso não! Eu não sou assim! Mas vou correr o risco de viver na rua? Eu não saberia viver na rua. Fecho os olhos e decido que vou ficar com um homem por dinheiro. Se eu fizer isso por um único dia, eu não poderia ser chamada de prostituta. Porque isso eu não sou!

Coloco minha melhor roupa, um salto, arrumo meu cabelo e uso meu batom rosa. O que fazer se eu não sei nem pra onde ir... Decido ir a um bar muito bem frequentado onde meu pai ia as vezes com uns amigos da empresa de publicidade onde trabalhava. Como não tenho dinheiro pro táxi, preciso ir de ônibus. Espero alguns minutos no ponto, e entro no ônibus.

Respiro fundo e entro ao bar. Sento em uma das mesas e peço uma água. Pelo menos o dinheiro da água eu sabia que precisava trazer. Com a água já na mesa, minha vontade era abaixar a cabeça e chorar. Minha vontade de gritar pelo meu pai, é imensa. Afinal, ele sempre estava presente no primeiro grito. A tristeza me invade quando penso que poderia gritar mil vezes e ainda assim ele não viria. Ele não viria! Olho a minha volta e há homens mais velhos, casais e um único rapaz me atraí. Ele esta sentado sozinho em uma das banquetas do balcão. Eu não sabia o motivo, mas dava pra ver em seu rosto que ele estava tão triste quanto eu. Decido me aproximar! Levanto e me sento ao seu lado.

_Você sempre vem aqui?_ pergunto, forçando um diálogo.

Ele me olha e me analisa de cima abaixo. Seus olhos param no meu decote e ele pousa uma de suas mãos na minha coxa. Se eu estivesse sendo eu, eu jamais teria aceito seu toque. Mas como todas as suas roupas e pertences são de marca, pego uma de suas mãos e chupo seu dedo. Tento fazer uma cara sexy, mas nem sei se consegui.

_Vamos pra minha casa, vamos!_ diz, e só agora noto o quão bêbado ele está.

Eu não sou boa com nomes de carros, mas só de olhar o dele já posso garantir que é um dos mais caros. Sinto medo de entrar em seu carro com ele desse jeito. Mas digo a mim mesma que não há mais o que perder.

Acabou, mas nao teve Fim.Onde histórias criam vida. Descubra agora