A tecelã de nuvens

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Há muito tempo atrás, na terra do sol nascente, um jovem agricultor chamado Sei, estava preparando suas terras para o plantio.
Sozinho no mundo e muito triste, pois a mãe, que era tecelã, havia falecido recentemente e não havia ninguém para ajudá-lo nessa tarefa.
Eis que estava ele semeando e, de repente, viu uma cobra rastejando no chão.
Sei percebeu que a cobra deslizou firmemente em direção a uma moita de crisântemos, onde havia uma aranha suspensa por um fio de seda da teia. A aranha fez Sei lembrar da mãe - pequena e indefesa - e imediatamente levou a cobra para bem longe com seu ancinho.
A aranha, surpresa com a bondade de Sei, olhou para ele. Sei nunca percebeu, pois além da aranha ser pequena, ele havia retornado ao trabalho.

Passado alguns dias, uma jovem bateu à sua porta. Ela se curvou e lhe perguntou se precisaria de alguém para tecer.
Sei ficou surpreso, pois ele realmente precisava, mas não havia comentado com ninguém desde a morte de sua mãe e perguntou à jovem:

- Como você sabe que preciso de alguém?

Timidamente, a jovem respondeu:

- Eu sei. Ficarei feliz se puder ajudar.

Muito feliz e grato, Sei levou a jovem ao quarto de tecelagem de sua mãe. Enquanto a jovem trabalhava tecendo, Sei continuou seu trabalho no campo.

À noite, Sei voltou pra casa, bateu na porta do quarto de tecelagem e, já pensando que ninguém poderia ser comparado à sua mãe, perguntou:

- Terminou alguma obra?

A jovem abriu a porta e, para sua surpresa, segurava em cada braço, uma dúzia de belas peças de tecido, suficiente para um quimono.

- Impossível, como pode fazer tantos? perguntou Sei.

A jovem apenas respondeu:

- Prometa que não vai mais fazer essa pergunta, nem entrar no quarto enquanto eu estiver trabalhando.

- Eu prometo - respondeu Sei.

Dia após dia, Sei descobria que a jovem havia tecido peças cada vez mais bonitas e delicadas.
Até que um dia, ele implorou à jovem:

- Por favor, diga como você consegue fazer tantas e tão belas peças.

Ela apenas respondeu:

- Lembre-se de sua promessa.

Após algumas semanas, a curiosidade o venceu. Em uma tarde, em direção à sua casa, Sei viu a janela do quarto de tecelagem aberta e pensou que não estaria quebrando a promessa, caso espiasse.
Silenciosamente e na ponta dos pés, olhou pela janela.
Sei quase desmaiou.

Diante do tear não havia nenhuma jovem, e sim, uma enorme aranha com oito pernas. Sei não acreditava, olhou de novo.
Lembrou-se da pequena aranha que tinha ajudado e entendeu que esta era a sua recompensa.
Sei não sabia como expressar sua gratidão, ao mesmo tempo não queria que soubesse que tinha quebrado a promessa.
Sei percebeu ali, que a aranha precisava de mais algodão.

No dia seguinte, antes do amanhecer, Sei partiu para uma aldeia distante em busca de algodão.
Comprou e colocou o pacote em suas costas.
Cansado do peso e, depois de muito tempo, quando chegou ao topo, parou e sentou-se em uma pedra para descansar. Sei cochilou e não percebeu a mesma cobra que ele havia expulsado algumas semanas atrás.
A cobra o viu e não perdeu a chance. Entrou no pacote de algodão que Sei trazia.

Chegando em casa, Sei entregou o pacote à jovem. Ela se curvou agradecendo, sorriu e voltou para o quarto de tecelagem.
No quarto, a jovem se transformou na aranha. A aranha começou a consumir o algodão, engolindo o mais rápido possível para que pudesse girar em fio de prata.
Quando chegou ao final do pacote, inesperadamente, a cobra apareceu abrindo a boca.
Aterrorizada, a aranha saltou pela janela. Mas a cobra a alcançou.
Quando estava prestes a engoli-la, um raio de sol que atingia o punhado de algodão que saía pela boca da aranha, levantou-a e puxou para o céu.

Para mostrar sua gratidão, a aranha usou todo o algodão que tinha engolido, não mais para tecer pano, mas para tecer flocos de nuvens no céu.

Por isso, em japonês, a palavra "kumo" significa nuvem e aranha.

Embora os ideogramas - kanji - sejam diferentes, a pronúncia é a mesma.

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