Capítulo 7

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Havia um enorme amassado na frente do meu carro. Procurei por algo que pudesse ter o atingido, mas não havia nada. Era como se eu tivesse imaginado a coisa toda.

A rua estava deserta, e eu podia sentir uma tempestade chegando. Aos poucos o céu foi ficando nublado. Olhei para os dois lados da rua, esperando encontrar alguém que pudesse me ajudar, mas não havia uma alma viva na estrada.

Olhei, pela segunda vez, para o amassado na frente do meu carro, mas não havia nada ali.
Fiquei paralisada, olhando fixamente para a frente do Fiat.

Pensei em ligar para Liz e contar o que aconteceu, mas ela me chamaria de maluca. Dois segundos depois estava começando a chover. Rapidamente entrei no carro e girei a chave na ignição. O motor roncou alto e depois parou. Tentei mais uma vez, mas não queria ligar. Eu estava parada no meio da estrada, e havia uma tempestade lá fora.

Geralmente a rua é movimentada, mas de uma hora para outra a estrada estava deserta. Era como se eles estivessem fugindo de alguma coisa, ou talvez estivessem fugindo da tempestade. O que fazia mais sentido.

Além da chuva e do nevoeiro que começou a se formar, havia uma sombra. Ela começou a caminhar na minha direção em passos lentos, mas confiantes. Eu estava com medo. Minhas pernas estavam tremendo e formigando ao mesmo tempo, e se eu estivesse de pé minhas pernas cederiam. Eu desabaria com tudo no chão.

A sombra avançou mais três passos e depois parou, como se estivesse esperando por algo, ou estivesse planejando algo. Girei a chave na ignição e, dessa vez, o carro voltou a funcionar. Peguei meu celular no porta luvas e digitei o número da Liz. Caiu na caixa postal. Liguei de novo, de novo e de novo, e em todas as vezes caía na caixa postal.

Com raiva, joguei o celular no banco do carona.

A tempestade havia parado quando eu cheguei em casa. Coloquei as sacolas sobre a mesa de jantar, retirei as compras e as guardei. A imagem da sombra ainda estava martelando na minha mente como um despertador tocando de cinco em cinco minutos. O que era aquilo? Por que eu estava sendo perseguida por essa coisa?

O relógio de parede estava marcando 19:30. Mamãe já deveria ter chegado. Eu estava com medo de ficar em casa sozinha por muito tempo. Com medo de que a sombra aparecesse. E ligar para Liz seria inútil agora.

Subi para o meu quarto e me deitei na cama, puxando a coberta até o meu queixo. Como se a coberta fosse o meu próprio escudo protetor.

Em instantes os meus olhos foram se fechando, ficando cada vez mais pesados, até que eu pudesse ver asas pretas. Eu estava caindo. Não caindo de um prédio ou de um penhasco, porque de onde eu estava caindo não havia nada. Era como se eu estivesse caindo de um abismo, e ao redor era tudo escuro. De repente mãos fortes e quentes seguraram meu pulso, foi como se uma corrente elétrica estivesse passando pelo meu corpo, me causando arrepios.

Não vou soltar você.

Sua voz era grave e sexy ao mesmo tempo. Por um momento eu passei a acreditar nas suas palavras, e então a cena mudou. Eu estava voando sob o céu azul cobalto. As estrelas enfeitando a escuridão. Eu olhei para trás e não acreditei no que vi. Asas brancas. Suas plumas mais brancas que qualquer algodão me trazia uma certa paz. Eu não conseguia ver seu rosto, meus olhos se fixavam nas suas asas. Ele não disse uma palavra, como se estivesse aproveitando o momento que tínhamos juntos, e eu queria ficar assim também.

Eu ainda estava sentindo a brisa de estar voando no céu, de estar caindo, e ainda escutava a voz do Anjo Negro, quando escutei passos vindo lá de baixo. Poderia ser a sombra?
Peguei o meu celular em cima do criado mudo ao lado da minha cama e olhei as horas no visor. 20:30. Mamãe já deveria ter chegado. Os passos foram ficando mais perto. Ele estava no corredor. Eu estava preparada para encontrar quem quer que fosse, e então a porta do meu quarto se abriu. Meu coração deu um salto, e eu parei de respirar. Mamãe colocou a cabeça pela fresta da porta.

- Meu Deus, mãe, que susto! - coloquei a mão no peito e soltei o ar que eu estava segurando.

- Só vim avisar á você que o jantar está na mesa.

Mais comida enlatada. De novo.

- Tudo bem, já estou descendo.

Mamãe fechou a porta. Fiquei um tempo sentada na cama, ainda assimilando o sonho que eu acabara de ter. As asas do Anjo Negro. Eu queria tocá-las. Eu queria poder tocá-lo. Mas ao mesmo tempo eu queria estar ao lado do Anjo Branco.

Levantei-me da cama e entrei no banheiro, ligando o chuveiro logo em seguida.

Quando cheguei na sala mamãe ainda estava jantando. Fiquei um tempo parada na porta, olhando para as duas cadeiras vazias. A cadeira do papai ficava de frente para a minha. Quando criança ele fazia brincadeiras com os talheres quando eu não estava bem. Bom, eu não estava bem e ele tinha morrido. Era hora de encarar os fatos.

Sentei-me à mesa. Pelo o que eu percebi, á duas noites atrás, mamãe já havia parado de comprar comida enlatada. O que era um bom sinal.

- Por que demorou tanto? - eu perguntei.

- Tive que fazer um relatório.

Mamãe parecia distante. Tem sido assim desde a morte do papai.

- Ah.

Deitei na minha cama, puxando a coberta até o meu queixo, torcendo para que essa noite não houvesse sonhos com anjos, mas eu me vi caindo novamente naquele abismo escuro. Em um momento eu estava sendo segurada pelo Anjo Negro, e no outro eu estava nos braços do Anjo Branco.

Tudo parecia confuso.

E então, eu acordei. Minha cabeça ainda girava. Eu ainda podia sentir os braços do Anjo Negro segurando o meu pulso, podia sentir o toque do Anjo Branco, como se todo o sonho fosse real.

Cambaleei até o banheiro e liguei o chuveiro.

*

- Quatro ligações.

Liz e eu estávamos paradas em frente aos nossos armários. Por cima do seu ombro eu pude ver Trav me observando, sem intervalo de tempo, como se eu realmente fosse interessante. Minha vida era patética. Eu era sem graça.

Eu também não conseguia parar de olhá-lo.

- O que?

Liz estalou os dedos à frente do meu rosto. Trav sorriu para mim.

Ela girou um pouco a cabeça para trás. Sua expressão mudou de entediada para surpresa quando se virou novamente para mim.

- Temos alguém apaixonada. - Liz quase cantarolou.

Rapidamente voltei o olhar para ela.

- Não estou apaixonada. - eu quase gritei.

- Eu não disse que era você.

Tentei pensar em algo lógico para dizer á ela. Nada.

- Não acredito que você é parceira de laboratório dele e não pensa em beijá-lo. - ela disse.

- Não penso em beijá-lo porque não estou interessada.

- Selene, ele é um super gato, eu, com certeza, me interessaria.

- Você se interessa por qualquer cara gato que passa na sua frente.

Me arrependi de ter dito essas palavras no momento em que eu as disse.

Ela abriu e fechou a boca. Eu podia ver seus olhos brilhando com as lágrimas, mas eu sabia que ela não ia chorar, não depois de tantos anos. Ela se virou para ir embora.

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Elenco

Steven Strait (Jovem) como Trav Marsh
Shelley Hennig como Selene Willson
Phoebe Tonkin como Liz Madison
Sarah Clarke como Lynn Willson
Luke Mitchell como Tyler Young
Colton Haynes como Maison Lance

Amada Por Um AnjoOnde histórias criam vida. Descubra agora