O rio Cristalino

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Lucy orientou-a a não levar muitas coisas, pois teria tudo o que precisava no castelo. Ela sentia um pouco de inveja, mas começou a pensar na possibilidade de um dia conhecer o castelo, visto que agora sua melhor amiga seria uma princesa e a rainha havia gostado dela.
Katherine pegou uma mala grande e colocou lá dentro apenas aquilo que era valioso para ela: O dinheiro que seu pai havia deixado, roupas mais especiais, sapatos e todos os seus livros. Deixou os cavalos, o jardim e a casa sob os cuidados de Lucy e logo pela manhã ela já estava pronta.
Escreveu uma carta aos pais das crianças que cuidava e pediu para que os Brasão comunicassem sua ida às pessoas para quem trabalhava. Ela chorava cada momento de espera, olhando para sua casa e desejando que não tivesse que ir. Iria sentir falta das histórias, das crianças, do seu cavalo, Botticelli, e de seus vizinhos.
Quando ouviu o som de alguém bater na porta, ela enxugou as lágrimas e abriu, dando de cara com o chofer da rainha. Ela deixou que o empregado carregasse sua mala e foi se despedir de seus amigos.
Deu um aperto de mão nos senhores e um abraço em cada senhora. Ao abraçar Ben, ouviu ele sussurrar:
- Não tire o colar. Você irá conhecer alguém especial nesse castelo, mas não se deixe enganar por seu charme.
Katherine sorriu, confusa. Devia ser mais uma daquelas visões que ele tinha. Ela guardou aquelas palavras com cuidado, pois sabia que Ben sempre acertava em seus palpites e ele não falaria nada se não achasse realmente necessário.
Lúcia pediu que ela não a esquecesse quando ficasse famosa e sempre mandasse cartas contando como era lá no palácio. Era bobagem achar que Katherine esqueceria seus amigos, ela tinha certeza que não passaria um minuto sequer sem que pensasse neles.
Ela entrou na carruagem e viu a rainha sentada, com um sorriso no rosto, como se o tempo inteiro estivesse esperando por ela. A carruagem começou a andar e a manhã estava fria. Katherine acenou tristemente pela abertura da carruagem e disse adeus aos seus amigos, vendo-os acenarem também. Aos poucos, as imagens daquelas bondosas pessoas foram desaparecendo e tudo o que se via era a grama verde regada pelo orvalho da manhã.
- Tudo bem, minha querida. – disse a rainha – Em breve, eles não passarão de súditos.
A menina se enfureceu, mas como sempre fizera, permaneceu em silêncio, disfarçando sua expressão facial o máximo que conseguia, mesmo que sua tristeza ainda fosse perceptível.
Era algo que jamais imaginara para a sua vida, mesmo lendo tanto contos de fadas sobre princesas e príncipes e seus respectivos finais felizes, ela nunca quisera viver em um castelo. Para ela, trazia a impressão de cativeiro viver em um palácio enorme cheio de riquezas e não poder compartilhá-lo com ninguém.
Durante o percurso da viagem, a rainha olhava de relance para Katherine e fitava o colar em seu pescoço. Havia algo naquele colar que fazia Katherine mais poderosa do que ela podia imaginar ser. A rainha não mencionou sua aparente curiosidade sobre a joia, mas Kate percebeu quando a flagrou olhando com cobiça para o pingente de lua. Ela não compreendia porque a rainha olhava daquele jeito para seu colar, afinal, havia tantas joias mais valiosas que aquela em seu enorme castelo.
- Pare aqui, Peter. – a rainha ordenou ao chofer, que obedeceu de imediato. A carruagem negra deu um solavanco e parou, bem no meio da floresta.
Katherine não compreendeu nada. Estavam no meio da Floresta Encantada. Haviam mitos sobre aquele lugar. Falando racionalmente, era uma floresta com espécies desconhecidas e perigosas.
- Vamos descer, querida. – avisou a rainha. Era um jeito estranho de dar uma ordem. Ela foi quase amável e Katherine percebera que, afinal, a rainha se tratava de uma boa pessoa.
Ela queria perguntar onde elas iriam, mas permaneceu calada e apenas seguiu a nobre mulher, que a guiou por dentro das árvores até chegar a um lago. Havia um brilho diferente naquelas águas cristalinas.
- Esta água tem propriedades mágicas. Gostaria que você conhecesse. Seu pai não costumava lhe deixar sair daquele campo, você nem deve ter ideia das demasiadas coisas que há aqui neste reino. – a rainha pegou um cantil e encheu-o com a água – É uma tarefa difícil para uma rainha, mas, nunca se ouviu falar de um reinado tão maravilhoso como o atual.
Katherine pensou nos conflitos com o reino do sul e nas crianças com fome pelas ruas da aldeia próxima a sua casa. Seu coração se apertava quando via aquelas cenas e não havia mais contas das vezes que chamou-as para comer em sua casa e contar-lhes histórias. Talvez não houvesse um reinado melhor, mas com certeza o atual não estava bom para ninguém.
- O que a água faz? – Katherine perguntou.
- Rejuvenesce. – a rainha sorriu, satisfeita.
A mulher acabara de lhe dizer um segredo sobre si, Katherine percebeu. Ela estava impressionada. Sabia muito bem o que as mulheres faziam para permanecerem jovens, mas começou a pensar na possibilidade de, tomando aquela água, tornar-se imortal. Era assustador.
Enquanto ponderava sobre aquilo, as duas ouviram um ruído. Era um choro. Um choro de bebê, bem distante, porém perto o bastante para que pudessem ouvi-lo nitidamente.
- A senhora está ouvindo? Há um bebê aqui perto.
Katherine se afastou e foi em direção ao som, até que, com o corpo mergulhado na beirada do rio, ela encontrou um bebê, chorando em alto e bom som. Engraçou-se com aquela pequena criaturinha e a levou até a rainha.
- Acho que ele bebeu demais. – a rainha riu, sarcasticamente.

A Filha Da LuaOnde histórias criam vida. Descubra agora