A biblioteca

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Olá amoreeeess! Primeiramente gostaria de agradecer pelos votos e pelas leituras. Não são muitas, mas mesmo assim *o* Obrigada. Esse capítulo eu coloquei cartas. Espero que gostem!
Dedico esse capítulo para o amor da minha vida: literatura ♥

Querida Lucy,

Aqui no castelo de Valgrind é realmente um sonho, como nos contos de fadas. Você adoraria. Cada coisa que vejo, cada pessoa que conheço, só consigo pensar: "Lucy adoraria isso". É doloroso acordar e não tomar café à beira do lago com você e Ben, ou cavalgar (mesmo que você não fosse muito fã de cavalos). Espero que um dia possa chamar esse castelo de casa, e então pedirei à rainha para que vocês todos possam passar uns dias aqui, ou quem sabe morar aqui. Ela é uma figura intrigante, a rainha Marise. Ninguém sabe sua idade, o que vim me dar conta de que é realmente estranho. Ela sempre foi rainha, desde que nos lembramos.
Conheci um rapaz. O filho da rainha, príncipe Hector, é realmente um cavalheiro. Não se parecem em nada. Hector é levemente loiro e tem olhos verdes e vivos além de ter uma personalidade forte e divertida. Está sendo gentil desde ontem, quando o conheci no baile. Acho que me embebedei um pouco, pois algo estranho aconteceu (ou foi somente fruto da minha imaginação). Nada importante para você, Lucy, mas gostaria que você entregasse o bilhete anexo para Ben, pois preciso urgentemente de um conselho dele. Sei que você vai coçar os dedos de curiosidade para abrir e ler, mas peço que respeite isso. Muita coisa está acontecendo muito depressa na minha vida.
Hoje Hector o príncipe Hector me convidou para tomar café da manhã com ele na sala de refeições. A rainha passou rapidamente por lá e trocou alguns olhares raivosos enquanto petiscava algumas torradas. Ela não parece gostar muito de mim, mas parece gostar da ideia de minha amizade com seu filho. Estranho, não? Não estou decepcionada, afinal, não esperava uma figura materna agora.

Lady Estern é uma garota mais ou menos da minha idade que conheci ontem no baile. Ela é filha de um cortesão. Lembra muito você, querida Lucy, no jeito, mas você é ainda mais requintada que ela. É uma garota relaxada e me convidou para cavalgar qualquer dia desses. É estranho. Não estou acostumada, por isso digo para mim mesma de cinco em cinco minutos que "Lucy gostaria disso", pois é mais a sua cara do que a minha.
Hector está me esperando em uma hora para me apresentar a biblioteca, pois ele notou que gosto de ler. Acho que vai ser onde passarei maior parte do meu tempo. É um tanto entediante e ainda não compreendo. É como se cada vez que eu olhasse para meus atuais aposentos eu dissesse: Meu Deus, o que estou fazendo aqui? Me intriga o fato de que a rainha só descobriu meu parentesco agora, depois de um ano da morte do meu pai. Eu merecia respostas, não acha?
Estou com saudades de casa, Lú. Estou morrendo com a falta que vocês fazem. Nada aqui vai compensar o chá de cidreira com biscoitos de gotinhas da Tia Mona.
Bem, agora preciso vestir algo apresentável para um passeio na biblioteca. Espero que você e Benjamin me respondam o quanto antes, pois vou guardar suas futuras cartas e abraça-las sempre que puder.
Amo vocês de todo meu coração.
Com amor,
Sua Kath.
Ps.: Não esqueça de entregar o bilhete a Ben, por favor.
PSS.: Colocaram comida para Botticelli?

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Ben,

Estou com tanta saudades. E preciso muito de sua ajuda. O colar que você me deu e interviu para que eu não tirasse, pois bem, não consigo tirá-lo. Minhas mãos são perfuradas e sangram cada vez que tento e, me desculpe, isso está aparentando um presente de grego, meu caro Ben.
Ontem algo estranho aconteceu. Cada vez que me aproximo do príncipe Hector o colar começa a brilhar e se rebater freneticamente. É preocupante e constrangedor. Preciso me livrar dele. Que tipo de magia negra você colocou nesse colar, Ben? Pensei que fosse um símbolo de nossa amizade.
E além de tudo, ontem Hector mencionou algo sobre "Filha da Lua", logo depois de algo muito assustador ter acontecido. Meus cabelos ficaram prateados assim como meus olhos, e meus poros se abriram com uma luz ofuscante saindo deles. Estou com medo, Ben. Você sabe algo sobre isso e não mencionou. Como pôde?
Sua Kath.

Lá estavam eles. Um garoto e uma garota, ambos parados em frente a uma imensa porta de madeira, com uma fechadura de Alice no país Das Maravilhas. Katherine ainda não mencionara a noite anterior e seus estranhos acontecimentos pois ainda duvidava que não passasse de uma alucinação pós-traumática. Hector estava atrás dela, com um sorriso escondido por trás dos lábios perfeitamente desenhados. Não eram lábios extremamente carnudos, nem tampouco finos em cima e grossos em baixo ou o contrário. Eram perfeitos, como um desenhista tentaria retratar um padrão de perfeição? Ele olharia para Hector e desenharia seus traços. Todos diziam que cada pessoa tinha um olho maior que o outro, um braço mais comprido que o outro, mas ela duvidava que isso contasse para o magnífico príncipe Hector.
- Feche os olhos, senhorita. - ouviu o sussurrar de sua voz bem atrás de si - Vamos ter uma surpresa.
Ela sorriu, e obedeceu. Ouviu o abrir das pesadas portas e sentiu as mãos de Hector leves em seus ombros, guiando-a para dentro do lugar. Ela sabia que era uma biblioteca e só fechara os olhos para alimentar os caprichos do nobre rapaz. Ela ria por dentro por causa disso.
- Abra os olhos.
Ela o fez, exatamente como lhe fora ordenado. Sentia sua mandíbula ceder á força da gravidade, fazendo sua boca fazer o formato de um "o". Mesmo já sabendo que se tratava de uma biblioteca, era surpreendente até mesmo para a biblioteca de um castelo. Era A biblioteca.
- Hec...
- Não precisa falar, - ele interrompeu - um dia ela será totalmente sua.
Katherine sempre achara que seu pai possuía muitos livros. Não "livros demais", numa entonação reclamona de uma garota que ansiava por arrumação. Eram muitos livros, na quantidade perfeita para ser muito. Mas se seus livros eram muitos, então o que seria aquela biblioteca? Não havia mais um adjetivo para a quantidade. Havia tantos livros que era impossível que alguém, mesmo que passasse cada dia de sua vida sem comer, ou sem fazer outra coisa, conseguisse ler todos.
Não tratava-se somente de pilhas de livros espalhadas por todos os cantos, como em sua casa em Soles, onde seu criado-mudo estava abarrotado de histórias, a mesinha de centro ou a mesa da cozinha. Ali, naquele lugar mágico, cada livro tinha seu lugar devido. Eram incontáveis estantes enormes, de madeira escura como o assoalho, que subiam até o teto azul claro, onde pendiam pequenas lâmpadas. Estreitas escadas de ferro, com rodinhas equipadas embaixo, ficavam diante das estantes, prontas para levar leitores e mais leitores ao topo, para alcançar os livros mais inalcançáveis. O cheiro era maravilhoso. Cheiro de livros, papel, madeira recém cortada e tudo desse gênero. E de alguma forma estranhamente maravilhosa aquele cheiro lembrava chocolate.
E como se não bastasse aquelas estantes abarrotadas de livros que iam até o topo, havia uma pequena escadaria que levava a um ambiente bastante confortável e receptivo. Pufes. Enormes almofadas confortáveis capaz de sustentar qualquer pessoa espalhadas no carpete cor creme. Eram cerca de dez deles distribuídos em um tapete persa que se encontrava em um canto reservado. Katherine gostou de chamar de "cantinho da leitura". Havia também um lugar reservado para algumas escrivaninhas, com lanternas, castiçais e lupas de aumento. Era o lugar perfeito. Aquele seria seu lugarzinho.

Ela tinha a impressão de que Hector estava falando alguma coisa, e devia estar. Mas ela não conseguiria decifrar, mesmo se tentasse, o que seu bom príncipe estava falando. Ela conseguia somente ouvir os sussurros das páginas envelhecidas daqueles livros, gritando, de uma maneira que somente ela entendia, para serem abertos e suas histórias reveladas. Eram tantas memórias, tantos segredos.
- Bem, vejo que você gostou. - ela escutou Hector dizer, quando acordou de seu devaneio. Ele estava sentado num pufe do primeiro andar da biblioteca. Falou isso em um tom suficientemente alto para que ela escutasse do térreo.
Katherine saiu do meio das estantes e começou a subir as escadas, delicadamente, sorrindo.
- Vossa Alteza... Eu... Não tenho palavras para agradecer... O senhor é maravilhoso comigo desde que cheguei. Tem sido muito gentil.
Hector se aproximava como um gato preguiçoso no andar, mãos cruzadas atrás das costas e um sorriso maroto no rosto.
- Katherine, vamos parar com isso de "senhor", e "vossa alteza". Não sou autoridade nenhuma quando estou com você. Somos mais que príncipe e súdita. Na verdade, não se considere súdita. Você é a Filha da Lua.
De novo, aquela expressão assustadora.
Havia aquela ruga duvidosa entre as sobrancelhas de Katherine. Ela desceu as escadas da mesma maneira que subiu, deixando Hector parado no topo da escadaria, olhando-a com seus olhos verdes.
De repente, sentada no meio de duas estantes enormes, com O corcunda de Notre Dame nas mãos, Katherine pegou-se pensando no que aquilo significava. Não era a primeira vez que ouvia aquelas insinuações. Mas, sim, Katherine parecia agora com uma garota que leu contos de fadas demais e sua mente insinuava que talvez o príncipe Hector gostasse dela de outra forma. E na verdade, isso não fazia dela uma leitora de contos de fadas. Ela tinha medo. Medo porque não conseguia decifrar aquelas palavras.

Gostou? Por que não demonstrar isso com suas preciosas estrelinhas? ☆ *--*
Obs.: próximo capítulo vocês vão ser apresentados a um novo personagem.

A Filha Da LuaOnde histórias criam vida. Descubra agora