Capítulo 1

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 Aqui estou eu, sentada na janela ás 3 da manhã, com o cigarro numa mão e a máquina de escrever na outra. Ultimamente, o que me faz ficar viva é escrever. Escrevo para desabafar, escrevo para falar comigo, escrevo para me perceber melhor,...enfim. Escrevo para não falecer e fumo para morrer. Sempre que digo isto a alguém, dizem todos o mesmo ''Falecer é morrer''. Não. Vivem todos enganados. Falecer é morrer com dignidade, sem dor nem sofrimento. Eu não quero ser assim, já estou tão habituada ao sofrimento que o quero comigo nos meus últimos segundos, no meu último suspiro.

 As férias de verão ainda agora começaram e já estou farta. Não aguento mais os posts sobre bikinis ou sobre festas...ninguém percebe que o melhor mesmo do verão são as longas caminhadas e os céus estrelados? Ninguém percebe que o melhor da vida são os pormenores que ninguém nota, mas fazem sempre a diferença? Eu não quero saber das paixões de verão, eu só quero viajar, descobrir o mundo, cometer loucuras e falhar, para que possa falhar novamente e mais tarde rir de tudo isto. Quero viver, simplesmente ser um miúda normal de 18 anos, que não se enquadra em nenhum grupo de amigos, só quero descobrir quem realmente sou.

 Voltei a abrir a carta de aceitação para a universidade de Cambridge. Sim, fui aceite para uma das melhores universidades do mundo, não é assim grande coisa, nem sei se vou mesmo. A escola só nos torna pessoa reprimidas, stressadas. Quem discorda por completo é a minha mãe, que nem sabe que fui aceite, mas que deseja fortemente que a sua filha consiga ser alguém na vida. Engraçado, todos têm esta opinião, que a escola nos tornará alguém, todos se esqueçem que os nossos feitos é que nos tornarão imortais. 

 '' Cara Olivia Morgan,

 É com a enorme felicidade que a aceitamos como nova aluna na nossa universidade, a frequentar o curso de Gestão e Marketing.

(...)''

 Devo ser a pessoa mais ingrata do mundo, mas frequentar Cambridge deve ser o último dos meus desejos, eu não quero ser alguém na vida, quero ser apenas a Olivia, que fumava para morrer e que tinha os olhos da cor do céu.

 Sinto uma mão a tocar no meu ombro, devia assustar-me , mas pelo toque apercebi-me que não passava da minha mãe que, para variar, deu-me um raspanete por estar a fumar e por não ter contado nada sobre ser aceite. São quase 4 da manhã e mesmo assim ela consegue esquecer o facto de estar cheia de sono e armar um drama do tamanho do mundo. 

Mãe- Olivia Iasmin Morgan! Como foste capaz? Tu entras na universidade e fica assim, calada a escrever?

Eu- Podia estar a consumir drogas agora, ou até mesmo sendo uma adolescente normal e estar com um monte de rapazes que nem conheço a fazer sei lá o quê...

Mãe- Por favor, esse teu uso de ironia agora é desnecessário! Vai deitar-te que amanhã falamos sobre a viagem para Londres, e nem penses que escapas.

 E lá fui eu, direitinha para a cama, sem escolha e agora que ela descubriu o meu spot no jardim abandonado ao fim da rua, já não tenho nenhum local onde eu possa ser eu mesma, sem ser interrompida com chatices. É por tudo isto que sinto que não pertenço aqui, que não nasci para ser uma rapariga da ilha.

 5.35H

Aqui estou eu, outra vez acordada. Como é que não reparei que esta noite é a mais bonita do verão? Voltei para a janela, montei lá a minha cama e fiquei a olhar o céu. Já lá se foram mais 2 cigarros. Gosto do cheiro a tabaco a pairar no meu quarto mantém todos afastados.

 Gosto do cheiro a tabaco a pairar no meu quarto mantém todos afastados

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