Capítulo 4

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08.00 am
Os vizinhos do andar de cima decidem acordar-me com o barulho da sua cama. Quando acendo a luz, várias perguntas começam a surgir na minha cabeça, principalmente a que pergunta o porquê de eu estar deitada com o Enzo na minha cama, totalmente desprovidos de roupa!
Enquanto começava a vestir a roupa interior, uma voz ainda meia rouca (que por mero acaso era sexy) fez-se ouvir:
- Bom dia Liv!
- Sim, pois... já te tinha avisado que tratavas-me por Senhora Olivia.
- Desculpe a minha falta de memória! Mas estou a ver que a noite passada te deixou algumas marcas...
Após ele proferir tais palavras, olhei para o meu pescoço e, através do espelho situado na parede, fui capaz de observar algumas marcas também no meu pescoço e rabo... cada vez mais quero saber o que se passou na noite de ontem!
- Não és o único a reparar nisso, mas vá, explica-me lá o que aconteceu ontem porque apaguei por completo após o 3 copo.
- Estou a ver é que tu és uma fraquinha, mas bem, ontem eu fui capaz de te mostrar o meu segredo, o porquê de ser tão bom com as raparigas... e pelo que me lembro tu gostaste e nao foi pouco.
Estremeci ao ouvir as suas palavras. Ele foi o segundo rapaz com que me envolvi sexualmente. Eu nao sou propriamente um íman de rapaz, não só pela minha personalidade difícil como também eu não ando exatamente a procura de relacionamentos. Sinto que a nossa felicidade tem de vir de nós próprios, sentirmo-nos bem connosco. Nem cheguei a falar da beleza, pois "a beleza é relativa aos olhos de quem a vê".
- Oh iludido... Enzo eu já não estava em mim.. -acendi o meu cigarro e olhei-o diretamente nos olhos- achas mesmo que me envolvia contigo se estivesse completamente consciente?
Enzo acabou por se aproximar de mim um pouco mais acabando por sentar-se na minha cama e deus lhe castigue por conseguir ser tao hot a estas horas da manhã, mesmo todo despenteado e com uma marca de baba na cara.
- Estás a querer insinuar que se te passar a mão pela perna acima agora, como ontem aconteceu, nao te vais arrepiar todinha? -mal acabou de falar, colocou a sua mao surpreendentemente grande e quente na minha perna, que já se encontrava um pouco fria, e ao movimenta-la apercebeu-se que os seus toques no fundo me afetavam.- Pois... bem me parecia.
Tentei disfarçar, continuando a fumar o meu ciagarro e abrindo o vestuário para poder escolher algo para vestir. Vários 'flashes' surgiram na minha mente. Lembro-me de pequenas partes da nossa conversa na noite passada. Olhei para o cimo da cama e o Enzo tinha voltado a adormecer. Recordei-me do que ele me disse "Todas aquelas raparigas foram distrações... eu usei-as porque eu queria sentir-me vivo, desejado. Eu não sei o que é o amor, nunca soube...". Estas suas palavras não paravam de planar na minha cabeça e acabavam por me fazer sentir mal por o tratar assim, tao agressivamente. No fundo nós éramos iguais, farinha do mesmo saco. O amor nunca fora o nosso forte, éramos almas vazias e desesperadas por reconforto. Por mais que me sentisse ligada a ele neste preciso momento não queria deixar-me levar por tudo o que se estava a passar. Não sabia se eu seria mais uma da "experiências" na procura do muito desejado amor. Eu realmente nao me importo de sofrer, aliás, eu geralmente faço as escolhas que me destroem, mas desta vez era diferente. Estava com medo de ser eu a magoar-lhe. Ironia do destino. Passei anos a querer fazer justiça por todos os corações partidos por este fuckboy e agora, quando tenho a oportunidade, vou acabar por deixa-la fugir por entre os meus dedos... o Enzo no fundo tem bom coração, não merece nada disso.
Voltei a realidade e deixei de me matar com pensamentos. Apercebi-me que desperdicei mais de meio cigarro enquanto viajava entre as minhas reflexões e como se isso nao bastasse, enchi o chão de cinzas...
Após comer algo e limpar toda a porcaria que tinha feito, saí de casa e aproveitei para conhecer jardins públicos próximos e descontrair um pouco.
10.38 am
Sentei-me num pequeno e velho banco de jardim. Comecei a observar as pessoas que passavam por mim e notei que hoje os meus demónios estavam particularmente ferozes. É normal eu estar sentadinha a tentar distrair-me, a fumar como de costume e na minha cabeça podia imaginar-me a estrangular, torturar e trepanar as pessoas que iam passando? É normal eu estar a queimar-me e por estar tão aliciada com os meus pensamentos, não sentir uma pinga de dor? Eu sei que não sou propriamente normal, que tenho um fascínio qualquer com a dor e a morte, mas acima de tudo sei que estes pensamentos não são normais. A minha sorte foi alguém que eu já nem me lembro o sexo, me ter acordado desta tal hipnose caso contrário ficaria sem um dedo, muito provavelmente.
Permaneci naquele banco por mais uma hora. Meia caixa de tabaco ja se fora e os meus neurónios estavam todos queimados de tantos pensamentos indesejados. Hoje estava a ser um dia difícil... por mais que fumasse, por mais que ouvisse música, nada parecia estar a afetar-me. Não conseguia relaxar, sentir os tais moemntos de "prazer". Decidi encostar a cabeça um pouco ao banco, o que me fez acabar por adormecer. Bem que podia ter sonhado com flores e doces e todas essas paneleiradas que as raparigas normais sonham, mas não. Sonhei que uma casa havia explodido e um jovem rapaz tinha acabado por falecer. Eu estava a assitir a tudo, incapaz de me mover, sentindo-me impotente por não conseguir ajudar ninguém mas, ao mesmo tempo, sentia-me estranhamente viva por estar rodeada de tanta morte.
Despertei quando senti uma mão percorrendo o meu rosto. Meu Deus será que não posso ter um pouco de descanso deste Enzo? Mas afinal, como é que ele foi capaz de me encontrar? Como sabia que ao passar a mão na minha cara eu não lhe largaria uma chapada? Estas são todas perguntas que nunca vou saber a resposta. Mal abri os olhos, o Enzo sorri.
- Agora vens para a via pública dormir?
- Não te armes em engracadinho que hoje não é um dos meus melhores dias...
- Nisso já eu tinha reparado Liv... mas deixa-me dizer-te que tu nem precisas de te esforçar... ficas tão linda com essa carinha de sono.
Dito isto, movimentou-se no banco em minha direcção, colocou uma mão sua no meu pescoço tornando os nossos lábios a uma distância incrivelmente pequena. Este rapaz iria levar-me à loucura, de certeza! A maneira como mexia com o meu sistema nervoso era algo de extraordinário e confesso que até me agradava.
Era capaz de sentir a sua respiração a tornar-se mais pesada contra a minha pele, o seu toque fazia-me sentir eletricidade a percorrer o meu pequeno corpo...

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