A vizinha

Logo de manhã...

- "Nada acontece por acaso. Te amo Ester!" - disse Paulo por mensagem.
    Acordei com essa linda mensagem, mensagem essa que me deixou mais empolgada ainda para começar o dia. Paulo não era aquele tipo de namorado que mandava muitas mensagens carinhosas, confesso que estranhei ser acordada por ele através de um celular, mas, quem se importa com isso?

- Bom dia amores da minha vida. - falei aos meus pais.
- Bom dia filha. - falaram os dois de forma altamente sincronizada.
- Eu te amo tanto querida. Te amo muito. - disse minha mãe.
- Também te amo mãe. Demais.  -falei.

    Eu sou adotada. Por mais que não pareça eu sou. Meus pais me contaram quando eu tinha 8 anos. No começo foi doloroso, fiquei dias sem me alimentar direito, eu não queria aceitar. Pra mim aquilo era tortura.

" - Ester, acho que já é a hora de você saber que... - falou minha mãe com os olhos cheios de lágrimas.
- Saber o quê? - falei.
- Querida, você é um presente de Deus para nós, nossa estrelinha, mas, somos seus pais apenas de coração. - disse meu pai. Nesse momento minha mãe já tinha ido à cozinha, pegado um copo e um lenço. Ela chorava muito.
- Mamãe, eu sou adotada? - falei.
- Sim. - respondeu.
- Por quê? Por quê? POR QUÊ? - gritei. Nesse momento corri para o meu quarto, tranquei a porta e comecei a chorar alto.
    Eu chorei muito, muito mesmo. Nada me consolava, nem mesmo as doces palavras dos meus pais."

    Tudo foi muito difícil no começo, eu queria entender os motivos pelos quais meus verdadeiros pais me abandonaram e eu achava que tudo iria mudar a partir daquele instante. Algumas dúvidas minhas demoraram para serem esclarecidas, outras, até hoje não tenho resposta. Mas, de uma coisa tenho certeza: o amor dos meus pais para comigo apenas aumentou.

- Você está sabendo que a casa ao lado desocupou? - perguntou meu pai.

 - Não. Não sabia. Faz muito tempo? - perguntei.

- Uns cinco dias. O Augusto, nosso antigo vizinho, conseguiu um novo emprego em uma outra cidade. Ele veio se despedir de mim. Foram dois anos de uma boa convivência. 

- E então? Ele vai vender a casa? Alugar?

- Disso eu não sei querida. 

- Espero que o nosso próximo vizinho seja tão bom quanto o Augusto foi.

    Eu nunca gostei de vizinhos chatos, principalmente aqueles que gostam de incomodar e odeiam ser incomodados. Quando eu tinha 15 anos eu tinha uma vizinha chamada Amélia que também estudava na mesma sala que eu. Uma garota da minha idade, muito bonita, mas, extremamente arrogante. Ela sempre queria arranjar um motivo para implicar comigo, seja ele qual fosse. O último deles envolveu o namorado dela.

"- O trabalho de geografia desse bimestre será em dupla, e eu sortearei os nomes. - falava a professora enquanto anotava os nomes dos alunos em pequenos papéis e se preparava para o sorteio. - A primeira dupla será (...) Ester e Rodrigo, segunda dupla: Sarah e Camila...

    Dessa forma a professora fez o sorteio e as duplas ficaram decididas. Mas, a partir daí os problemas começaram. Rodrigo era o namorado de Amélia e ela era extremamente ciumenta.

- Em que dia você quer marcar para irmos à biblioteca fazer o trabalho? - perguntou Rodrigo.

- Qualquer dia. Pode ser hoje mesmo se você quiser. - falei.

- Ótimo! Quero fazer esse trabalho perfeito. Estou precisando de nota em geografia.

- Sei... Então, hoje à tarde nos encontramos. Duas horas. Não vai esquecer não, hein?

- Claro que não. - falou Rodrigo me dando um abraço e um beijo na testa exatamente na hora que Amélia chegou. Isso foi o suficiente para uma discussão.

- Então é assim, eu viro as costas e você já me trai com essa menininha sem graça. Que eu saiba é só um trabalho de geografia e não um... - falou Amélia sendo interrompida por mim.

- PARA COM ISSO. Você é muito idiota e paranoica. Você tá precisando usar óculos, isso sim. Tá vendo coisas que não existem. Eu não sou você que fica com vários e depois se faz de santinha para o Rodrigo. (Eu não devia ter falado isso)

- Você vai ver. - gritou Amélia agarrando os meus cabelos. Gritei bem alto e Rodrigo segurou ela.

    O trabalho terminou sendo individual para Rodrigo e eu, além disso, Amélia distorceu toda a história para os seus pais que foram tirar satisfação com os meus. Passei três meses sem olhar direito pra cara de Amélia e no fim do ano ela se mudou. Aquilo foi uma libertação para mim. ".

- Pai, mãe, estou indo. Não sei exatamente a hora que vou chegar da universidade hoje. Não esperem por mim para almoço. - falei dando um beijo em meus pais.

- Tenha cuidado querida. Que Deus te acompanhe e te abençoe - disse minha mãe.

- Amém. - falei.

    Eu sempre amei biologia desde pequena. Sou fascinada por animais e plantas. Ser aprovada no curso de ciências biológicas foi uma coroação pra mim. Todo o meu esforço valeu e está valendo a pena. Estou amando o curso. Meu namorado, o Paulo, também é fascinado por biologia. Sempre "discutimos" sobre quem é melhor e quem ama mais, parecendo duas criancinhas. Hoje, iríamos almoçar juntos e eu estava ansiosa pra vê-lo. Ele havia viajado, passou uma semana longe, mas o suficiente para eu ficar morrendo de saudades.

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