Os raios solares incidiam fortemente sobre a minha face, fazendo-me resmungar mentalmente por não ter fechado as cortinas quando cheguei a casa depois da festa em casa da Mady. O sol parecia aumentar as minhas dores de cabeça e bufei em frustração até que decidi levantar-me enquanto coçava os olhos e me espreguiçava. Creio ter ouvido um ou dois ossos a estalarem nas minhas costas, mas não me preocupei, a dor que se estava levemente a formar no meu cérebro era demasiado grande, ao ponto de anular qualquer outra dor. Fui à casa de banho e procurei por um comprimido que, sinceramente fizesse milagres, e levasse embora esta dor insuportável, que tinha feito da minha cabeça a sua nova habitação.
Depois de me ter arranjado e de ter tomado o pequeno-almoço, corro desvairadamente para o meu quarto, subindo as escadas e consequentemente tropeçando nos dois últimos degraus, acabando por cair redonda no cimo das escadas. "Meu deus, que raio se passa com vocês?" Disse encarando os meus pés descalços. Voltei a bufar frustrada pela maneira como estava a começar o dia, pois sempre achei que quando um dia começa mal significa que o resto do dia não irá correr melhor, muito pelo contrário... Finalmente no meu quarto, agarro no meu telemóvel com certa brutidão o que faz com que o cabo do carregador se desligue da tomada e só depois me recordo que o tinha a carregar. Não perco muito tempo a pensar nisso e rapidamente oiço a voz sonolenta e rabugenta do meu melhor amigo: "Jú... Que queres a estas horas? É super cedo e quero dormir. Deixa-me em paz!" Ri-me do seu mau humor matinal, definitivamente ele tinha que aprender a ser mais simpático quando atendia o telemóvel, já que dizia isto, sempre que eu lhe ligava e o acordava.
-"Bom dia, mister rabugento! Tenho uma coisa muito importante para te contar e não pode esperar mais tempo. É grave e tu como meu melhor amigo, tens que me ajudar!" Disse um pouco reticente e impaciente para ouvir a sua resposta.
-"Que coisa? Que se passa Júlie Gomes? O que é que fizeste desta vez?" Notei uma grande preocupação na sua voz, apenas pelo facto de me ter tratado pelo meu nome completo, coisa que nunca acontecia, nem mesmo quando eu o irritava profundamente.
-"Não me recordo nada do que se passou ontem à noite. Acho que a partir de certa altura devo ter desmaiado. As festas em casa da Mady dão sempre cabo de mim! Sinto-me doente. Preciso de ir ao hospital, vens comigo?" Pedi já com o meu corpo todo a tremelicar, devido aos nervos e à dor de cabeça que ainda habitava em mim.
-"Estas a gozar com a minha cara Jú? Tu bebeste a noite toda como uma louca e só dizias: Vou ser rica e vocês vão todos viver comigo porque eu tenho os melhores amigos do mundo, e rias-te feita histérica. É normal que te sintas doente com a ressaca que deves estar a carregar agora!" Diz Harry com a voz rouca devido ao sono, um pouco rude e a tentar imitar o meu sotaque. Dei por mim a rir as gargalhadas ao imaginar os gestos super femininos que ele estaria a fazer, ao mesmo tempo que, suponho, que estaria a revirar os olhos. Mas, bati-me mentalmente por me estar a rir desta maneira porque só depois de ele contar o que eu tinha feito é que me lembrei realmente do que se tinha passado. Desliguei a chamada abruptamente, após lhe dizer que à noite estaríamos juntos para estudar e fazer o trabalho de literatura. O temível trabalho!
Eram já dez e meia da manhã e eu não sabia o que havia de fazer, nem o que havia de pensar. Na minha cabeça estavam mil pensamentos e todos eles estavam uma grande confusão. Memórias de ontem eram apenas míseros borrões na minha mente, o que dificultava as coisas. O meu telemóvel, tirou-me do trance em que estava, quando começou a tocar a música electricidad dos Dvicio, banda pela qual estava irremediavelmente apaixonada desde a primeira vez que os tinha visto ao vivo, quando fui visitar a minha mãe a Madrid.
-"Jú desculpa não ter ligado mais cedo, mas depois da festa de ontem decidi ficar a descansar, até porque, minha cara amiga, ontem foi uma noite louca e eu já não tenho idade para estas festas." Ri-me com o comentário extremamente dramático de Mady. Ela é, na minha opinião, um William Shakespeare, mas na versão feminina.
-"Não digas isso, pareces uma idosa do lar a falar! Até porque, se não te lembras por alguma razão a festa foi em tua casa e não na minha!" Disse um pouco chateada, porque estava severamente preocupada com o que realmente tinha acontecido na festa.
-"Ei! Jú tem calma. Pareces levemente irritada... É claro que me lembro do motivo, não é todos os dias que se celebram vinte e quatro anos! Mas que se passa? Estas assim pelo que aconteceu na festa?" Calma? Penso mentalmente. Como é que ela diz para ter calma depois do que eu assisti naquela festa? Ela não pode estar a falar do mesmo que eu, de certeza! Acabei por lhe perguntar: -"A que é que te referes, concretamente Mady?"
-"Tu sabes... Aquilo que aconteceu ao Ash... Ele estava todo bêbado e acabou por ser abalroado por um camião que circulava na minha rua a grande velocidade! Até tive pesadelos com o barulho aterrador da ambulância." Fiquei petrificada, em silêncio absoluto.
O Ash foi atropelado? Então aquilo que eu achava que era um pesadelo, aconteceu realmente? Senti o meu coração a acelerar conforme pensamentos negativos enchiam a minha cabeça...

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Queria ter Amnésia | a.i. | hiatus
FanfictionLondres é uma cidade muito grande, tal como todos nós sabemos. Por isso, quais seriam as hipóteses de Júlie se apaixonar pela pessoa errada? Muito poucas. Depois de uma noite cheia de bebedeiras, a celebrar o aniversário da melhor amiga, tudo muda...