-"Jú, tu és importante para mim... Eu não vou aguentar se te perder..." disse Ash já meio ofegante.
A máquina que media o ritmo cardíaco de Ash começou a fazer uns barulhos esquisitos quando ele parou de falar, eu achei que ele estava a respirar pela máscara ou pelo menos a tentar ganhar ar, porque senti que tinha feito muito esforço para me dizer aquilo tudo, mas o raio da máquina começou a apitar várias vezes, até que vejo o Ash a desmaiar.
Entrei em pânico. Parece que desde que nos beijamos tudo lhe corre mal, parece que o mundo não nos quer ver juntos, sinto como se tudo o que toco se parte ou se estraga...
Eu não sabia que fazer até que reparei no botão que estava ao lado da sua cama e carreguei lá várias vezes de forma a chamar a enfermeira que estava de serviço naquele corredor. Como não sabia se era mesmo esse o botão para chamar as enfermeiras, abri a porta e gritei com todo o ar que tinha nos pulmões: "Enfermeira! Por favor, é preciso uma enfermeira e um médico aqui!" E rapidamente vejo duas enfermeiras e um médico que suponho que seja o que está de serviço a dirigirem-se a mim. Expliquei o que aconteceu muito resumidamente e sem demoras, vejo-os a deitarem totalmente a cama de Ash e a fazerem-lhe uma massagem cardíaca.
A enfermeira que está mais próxima de mim, pede-me para sair do quarto, mas eu não consigo reagir, tenho os pés pregados ao chão e parece que não consigo ouvir nada do que se passa há minha volta. A única coisa que consigo ver é a maneira como as mãos do médico se posicionam sob o peito de Ash prontas para fazer pressão e conta até três para que, aos três, comecem a transmitir-lhe ar através de um balão que outra enfermeira segurava.
Felizmente, passado uns minutos, a máquina volta ao ritmo normal, vejo que lhe voltam a colocar rapidamente a máscara de oxigénio e que regulam uns botões nas máquinas. Respiro aliviada mas sinto que tudo aquilo é culpa minha. Eu fiz com que ele se esforça-se para falar e me explicar as coisas e quase o ia perdendo, outra vez!
Justamente nesse momento, a porta do quarto volta a ser aberta, mas desta vez com muito cuidado e Harry aparece com um balão azul que dizia "as melhoras", após observar tantos enfermeiros e o médico na sala, percebe que algo de errado aconteceu. Decido sair do quarto com ele, para lhe explicar o que aconteceu, mas oculto-lhe os assuntos que foram tratados na conversa. Não quero que ele saiba. Vai dizer-me "eu avisei-te" e eu não tenho cabeça para ouvir essas, malditas, frases feitas agora.
Ainda nem consegui processar bem toda a informação que o australiano partilhou comigo e depois do que aconteceu aqui nem consigo pensar nisso.
O médico, que não faço a mínima ideia quem seja, sai do quarto e dirige-se a mim: -"O paciente está muito fraco e precisa de descansar por isso uma pessoa pode permanecer com ele, mas em silêncio total. Só irão ser permitidas visitas ao fim da tarde, porque o paciente acaba de sofrer uma paragem cardiorrespiratória e neste momento encontra-se adormecido, ele precisa de repouso absoluto. Quem é que vai ficar no quarto?"
-"Muito obrigada Doutor por ter socorrido o meu amigo. Eu irei ficar com ele no quarto." Falei com todas as certezas do mundo. Não o ia abandonar numa altura destas, mas a vontade que tenho é de ir até à saída do hospital e bater com a cabeça na parede com tanta força até ficar com amnésia para ver se esquecia tudo aquilo que aconteceu.
Eu gostava de esquecer tudo aquilo que aconteceu. Queria acordar agora e saber que isto tudo não passava de um pesadelo horrível.
Acho que o mais certo a fazer é tentar desligar os sentimentos que tenho por ele durante uns dias. A saúde dele está acima de qualquer outra coisa, neste momento.
-"Tens a certeza disso Jú? Eu posso ficar com ele." Perguntou-me Harry enquanto segurava as minhas mãos e me olhava atentamente nos olhos para tentar perceber o que eu estava a sentir.
-"Tenho a certeza absoluta. Não precisas de te preocupar. Quando ele acordar, eu digo-lhe que passas-te cá. Ao fim da tarde, ficas um pouco com ele enquanto eu vou a casa. Está bem?"
-"Claro que sim. Ao fim da tarde estou aqui, mas se precisares de alguma coisa não hesites em ligar-me!"
Despedi-me do meu melhor amigo com um abraço bem apertado. O abraço dele é dos melhores abraços que eu podia receber agora.
Levantei a cabeça, dirigi-me ao quarto 78, respirei fundo e fui enfrentar o mundo. O meu mundo...
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Queria ter Amnésia | a.i. | hiatus
FanficLondres é uma cidade muito grande, tal como todos nós sabemos. Por isso, quais seriam as hipóteses de Júlie se apaixonar pela pessoa errada? Muito poucas. Depois de uma noite cheia de bebedeiras, a celebrar o aniversário da melhor amiga, tudo muda...