Tenth chapter of sadness

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-"Jú, tu és importante para mim... Eu não vou aguentar se te perder..." disse Ash já meio ofegante.

A máquina que media o ritmo cardíaco de Ash começou a fazer uns barulhos esquisitos quando ele parou de falar, eu achei que ele estava a respirar pela máscara ou pelo menos a tentar ganhar ar, porque senti que tinha feito muito esforço para me dizer aquilo tudo, mas o raio da máquina começou a apitar várias vezes, até que vejo o Ash a desmaiar.

Entrei em pânico. Parece que desde que nos beijamos tudo lhe corre mal, parece que o mundo não nos quer ver juntos, sinto como se tudo o que toco se parte ou se estraga...

Eu não sabia que fazer até que reparei no botão que estava ao lado da sua cama e carreguei lá várias vezes de forma a chamar a enfermeira que estava de serviço naquele corredor. Como não sabia se era mesmo esse o botão para chamar as enfermeiras, abri a porta e gritei com todo o ar que tinha nos pulmões: "Enfermeira! Por favor, é preciso uma enfermeira e um médico aqui!" E rapidamente vejo duas enfermeiras e um médico que suponho que seja o que está de serviço a dirigirem-se a mim. Expliquei o que aconteceu muito resumidamente e sem demoras, vejo-os a deitarem totalmente a cama de Ash e a fazerem-lhe uma massagem cardíaca.

A enfermeira que está mais próxima de mim, pede-me para sair do quarto, mas eu não consigo reagir, tenho os pés pregados ao chão e parece que não consigo ouvir nada do que se passa há minha volta. A única coisa que consigo ver é a maneira como as mãos do médico se posicionam sob o peito de Ash prontas para fazer pressão e conta até três para que, aos três, comecem a transmitir-lhe ar através de um balão que outra enfermeira segurava.

Felizmente, passado uns minutos, a máquina volta ao ritmo normal, vejo que lhe voltam a colocar rapidamente a máscara de oxigénio e que regulam uns botões nas máquinas. Respiro aliviada mas sinto que tudo aquilo é culpa minha. Eu fiz com que ele se esforça-se para falar e me explicar as coisas e quase o ia perdendo, outra vez!

Justamente nesse momento, a porta do quarto volta a ser aberta, mas desta vez com muito cuidado e Harry aparece com um balão azul que dizia "as melhoras", após observar tantos enfermeiros e o médico na sala, percebe que algo de errado aconteceu. Decido sair do quarto com ele, para lhe explicar o que aconteceu, mas oculto-lhe os assuntos que foram tratados na conversa. Não quero que ele saiba. Vai dizer-me "eu avisei-te" e eu não tenho cabeça para ouvir essas, malditas, frases feitas agora.

Ainda nem consegui processar bem toda a informação que o australiano partilhou comigo e depois do que aconteceu aqui nem consigo pensar nisso.

O médico, que não faço a mínima ideia quem seja, sai do quarto e dirige-se a mim: -"O paciente está muito fraco e precisa de descansar por isso uma pessoa pode permanecer com ele, mas em silêncio total. Só irão ser permitidas visitas ao fim da tarde, porque o paciente acaba de sofrer uma paragem cardiorrespiratória e neste momento encontra-se adormecido, ele precisa de repouso absoluto. Quem é que vai ficar no quarto?"

-"Muito obrigada Doutor por ter socorrido o meu amigo. Eu irei ficar com ele no quarto." Falei com todas as certezas do mundo. Não o ia abandonar numa altura destas, mas a vontade que tenho é de ir até à saída do hospital e bater com a cabeça na parede com tanta força até ficar com amnésia para ver se esquecia tudo aquilo que aconteceu.

  Eu gostava de esquecer tudo aquilo que aconteceu. Queria acordar agora e saber que isto tudo não passava de um pesadelo horrível.  

 Acho que o mais certo a fazer é tentar desligar os sentimentos que tenho por ele durante uns dias. A saúde dele está acima de qualquer outra coisa, neste momento.

-"Tens a certeza disso Jú? Eu posso ficar com ele." Perguntou-me Harry enquanto segurava as minhas mãos e me olhava atentamente nos olhos para tentar perceber o que eu estava a sentir.

-"Tenho a certeza absoluta. Não precisas de te preocupar. Quando ele acordar, eu digo-lhe que passas-te cá. Ao fim da tarde, ficas um pouco com ele enquanto eu vou a casa. Está bem?" 

-"Claro que sim. Ao fim da tarde estou aqui, mas se precisares de alguma coisa não hesites em ligar-me!" 

Despedi-me do meu melhor amigo com um abraço bem apertado. O abraço dele é dos melhores abraços que eu podia receber agora. 

Levantei a cabeça, dirigi-me ao quarto 78, respirei fundo e fui enfrentar o mundo. O meu mundo...



Queria ter Amnésia | a.i. | hiatusOnde histórias criam vida. Descubra agora