Tyller
É véspera de natal, está se formando uma tempestade, típica de uma dia 24 de Dezembro aqui em Dallas no Texas, estou jogado no sofá decidindo o que farei hoje a noite, esse é o primeiro natal que passamos longe da Eliie e eu ainda estou um pouco confuso com tudo isso, na verdade não pensei nisso quando decidi vim morar na casa do Charlie e deixei nossa casa. Ele simplesmente chegou em casa falando que precisava ter uma conversa muito séria com todo mundo, então nos reuniu na sala e começou a falar com sua lábia perfeita de jornalista .
- "Já faz certo tempo que estou planejando isso e espero que todos entendam, é meu terceiro ano na faculdade e tá ficando complicado ir pra lá todo dia, ta cansativo, são 2 horas de viagem pra ir e 2 pra voltar, eu to gastando muito do meu salário só pra colocar gasolina na moto por causa do trajeto, e foi pensando nisso e em várias outras coisas que eu tomei uma decisão, eu vou sair de casa ... eu sei que você vai fazer o maior drama mãe, mas não tenho outra escolha, eu tenho que terminar meu curso e também to atrás da minha independência, quero que todos entendam, eu não estou fugindo de vocês , eu só quero poder viver a minha vida."
Depois disso mamãe fez o drama dela, sobre ele ser muito novo pra isso e não ter maturidade pra morar sozinho, mas venhamos e convenhamos, o Charlie é o mais responsável de nós três, ele assumiu todas as responsabilidades depois que o papai morreu, éramos novos demais, eu só tinha 11 anos, o Dyllan 13 e ele 15 , ele abriu mão do basquete pra começar a ajudar nas despesas da casa, estudou e conseguiu passar em 4º lugar pro curso de jornalismo da faculdade local e depois conseguiu o 3º lugar pro mesmo curso na estadual, ele dispunha de uma comunicatividade impecável e usou a história da mamãe contra ela mesma, que saiu aos 15 anos de casa e mudou de estado pra conseguir melhores condições de vida e no mais, ele já tinha comprado metade dos móveis que precisaria e já tinha pagado 6 meses do aluguel da casa. Dyllan que estava no 3º período da faculdade de Direito logo se encorajou e conseguiu fazer com que Charlie deixasse ele morar em sua casa, no meu caso foi diferente, assim que soubemos que passei no vestibular pra Engenharia Agrônoma todos festejaram, menos mamãe, ela surtou, achou que eu iria abandoná-la e esquecê-la assim como meus irmãos e então tivemos longas discussões sobre o assunto, até que ela me expulsou de casa, disse que se era isso que queríamos, deixá-la sozinha o resto da vida que fosse de uma vez .
Quando cheguei em casa depois do serviço no dia seguinte minhas malas estavam feitas, e as dela também, tentei convencê-la que não era isso que queríamos, mas ela já tinha comprado as passagens de avião pra casa da sua meia irmã em Oklahoma, não tive muita escolha, então acabei me mudando pra casa de Charlie, o que gerou algumas discussões, mas tudo acabou voltando ao seu devido lugar quando ele usou sua sensatez e viu que o melhor a se fazer era ficarmos unidos. E agora estou aqui, na dúvida do que fazer nesse natal.
Fico em casa e comemoro sozinho ? Saio e encho a cara até não lembrar de mais nada ? Me perco em pensamentos e possibilidades até que ouço o barulho da tranca da porta.
-"E ai bocó, já decidiu o que vai fazer hoje a noite ? Os caras da fraternidade vão sair depois do jogo, talvez vão pro bar do Bishop, se não souber o que fazer, vai pra lá. To pensando em passar lá antes de sair com a Hillary mais tarde." Diz Charlie entrando com algumas sacolas de papel, ele foi o encarregado das compras da semana.
-" É, eu tava mesmo pensando em sair pra beber, já que você e o Dyllan ficam ai amarrados a essas garotas e se esquecem de que ainda tem um irmão mais novo, babacas." Finjo um drama.
-" Ah cala a boca, sabe que se eu tivesse escolha faria alguma coisa pra gente, mas sabe como é a Hillary, ela ainda não acredita que está namorando o incrível Charlie Strong e pensa que tem que ficar comigo 24 horas por dia, mas sabe de uma coisa, eu não faria diferente se tivesse me namorando." Diz ele sorrindo.
-" Ah vai se fuder cara." Digo enquanto me levanto pra ir tomar banho.
Deixo que a água quente leve todos os meus pensamentos ruins, desde onde a Eliie - nome da minha mãe, parei de chamá-la de mamãe depois que a vi entrando no táxi e indo embora - estaria agora, o que estaria fazendo ou se estaria pensando na gente. Já fazia 6 meses que estávamos separados e quase não tocamos no assunto aqui. Depois de ouvir 3 músicas dos Avett Brothers decido sair do banheiro, penso no "look arrasador" - nós três inventamos isso assim que cheguei, sempre pensamos nas roupas pra mostrarmos quem somos - pra essa ocasião, então coloco minha calça jeans escuras colada na batata da perna, meu par de all star de cano médio, minha camisa escura do Bon Jovi e meu blusão dos Maddox.
Estava pronto, pra sair, pra ir e voltar, pra curtir ou pra me embebedar, eu ainda não sabia ao certo, só sabia que não ia ficar me martirizando por não termos a Eliie com a gente.
Depois de passar na faculdade pra espiar o jogo e ver a surra que os outros caras estavam levando, decido ir até o bar do Bishop antes que o pessoal do time chegasse. Eles entrariam ali pra comemorar a vitória e eu não estava afim de ouvir os gritos deles. A tempestade que começa a se mostrar ativa vem chegando cada vez mais rápido e os primeiros pingos começam a cair sobre minha cabeça, aperto o passo até conseguir ver o bar no fim da rua.
Não sei porque chamamos o bar do Bishop de velho, se lá é o point das noitadas de todo mundo, tem tevês modernas com vários shows passando e até mesmo rola uns ao vivos de vez em quando, tem barman e bargirl e até uma pista de dança.
Quando ouço o primeiro trovão ecoando longe, agradeço aos céus por já estar na rua do bar, vejo suas luzes fortes de longe, escuto a gritaria que rola la dentro, vejo alguns estudantes entrando e outros sendo barrados na entrada, quando me aproximo já tiro minha identidade falsa da carteira e exibo minha cara de menino sério. O segurança já me conhece, venho aqui quase toda semana depois das aulas dia de sexta e sábado, a faculdade é um saco as vezes.
Ele pega minha identidade, confere minha foto e me devolve ela. Entro e vou direto pra mesa em que eu sempre fico, onde tenho a visão periférica de todo o resto do bar e ainda por cima uma televisão do meu lado .
Noto todo mundo que chega e os que tentam entrar e são barrados, vejo que a noite vai ser longa, peço uma cerveja e observo uns veteranos do curso de Física jogando sinuca, quem diria que eles também saiam pra se divertir.
Noto um cara sentado no balcão do bar, com o cabelo pra trás e um ligeiro bagunçado familiar, o reconheço pelo blusão, que coincidentemente também é dos Maddox. Dyllan estava sentado de costas conversando com o cara do bar.
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Faça seu lar .
RandomQuem nunca quis sair de casa e ir morar com o melhor amigo ? Quem nunca quis sair de casa e aproveitar a vida ? Rebeldia ? Não, liberdade ! Charlie, Dyllan e Tyller são os irmãos mais fodas da faculdade, todos os anos eles passam o natal com sua fam...