Por que eu ?

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Já estava próximo o dia do batizado da princesa. O rei resolveu escrever todos os convites de próprio punho, mas, como sempre pode acontecer, alguém foi esquecido. Normalmente não é tão importante assim deixar alguém de fora, mas é preciso ter cuidado para não esquecer a pessoa errada.
Infelizmente, o rei se esqueceu de certa pessoa, mas não de próprio; e essa pessoa foi justamente a Princesa Makemnoit, o que foi desastroso. Porque a princesa era nada mais nada menos que a irmã do rei, e dela ele não podia ter se esquecido. Principalmente porque a princesa Makemnoit havia se mostrado tão desagradável para com o velho rei, pai de ambos, que este se esquecera dela ao fazer testamento. Sendo assim, não é de estranhar que seu irmão a tenha esquecido também enquanto fazia os convites. Os parentes mais pobres nada fazem para que sejam lembrados. E deveriam fazer alguma coisa não acham ? Como o rei havia de se lembrar do endereço do pobre barraco em que a irmã vivia ?
Ela era uma criatura verdadeiramente rabugenta e maldosa. Em seu rosto, as rugas do desprezo se cruzavam com as do mau humor, e eram tantas que sua pele se mostrava toda pregueada. Se é que um rei podia ser desculpado por haver se esquecido de alguém, aquele rei tinha muitos motivos para esquecer a própria irmã, era esquisitíssima. A testa era tão grande quanto o resto do rosto, projetando-se para a frente como um penhasco. Quando ficava com raiva, seus olhos pequenos ganhavam um brilho azulado. Quando se enchia de ódio contra alguém, os reflexos se tornavam amarelo-esverdeados. Como seus olhos ficavam quando ela amava alguém eu não saberia dizer - isso porque nunca ouvi falar que a princesa tenha amado alguma pessoa, a exceção de si mesma.
Mas o que tornava o esquecimento do rei algo muito imprudente era o fato era de sua irmã ser tremendamente esperta. Na verdade, ela era uma bruxa, e quando enfeitiçava alguém o coitado acabava ficando um trapo, porque ela superava todas as bruxas mais malvadas em malvadeza, e todas as bruxas mais espertas em esperteza. E ela tinha verdadeiro desprezo pelo modo como todas as fadas e bruxas, tal como lemos nos contos de fadas, se vingavam. Assim sendo, depois de esperar em vão ser convidada para o batizado da sobrinha, finalmente decidiu comparecer, mesmo sem convite, e fazer que toda família se sentisse tão desgraçada quanto ela própria se sentia.
Vestiu seu melhor vestido e dirigiu-se ao palácio, onde o feliz monarca, que havia se esquecido que a esquecera, recebeu-a muito bem. A princesa Makemnoit, então, juntou-se ao cortejo que se dirigia à capela real. Quando todos estavam reunidos, ela deu um jeito de se aproximar da pia batismal e jogar alguma coisa na água; depois disso, comportou-se de forma muito respeitosa até o momento em que molharam a cabeça da criança. Naquele instante, ela girou o corpo três vezes e falou baixinho as seguintes palavras, mas alto o suficiente para que as pessoas mais próximas pudessem ouvir:

Leve de espírito por meu encantamento,

Leve de corpo em toda extensão,
Em braços humanos serás como o vento,
E levarás a teus pais a destruição !

Todos acharam que ela tinha enlouquecido e que repetia versos sem sentido. Apesar disso, ficaram intrigados. O bebê, ao contrário, começou a rir, soltando gritinhos de prazer; ao mesmo tempo que a ama, que a segurava, estremeceu e emitiu um grito abafado, porque pensou ter sofrido uma paralisia: de repente, já não sentia o peso da criança em seus braços. Ela, contudo, segurou a princesinha com força e não disse nada. Mas o mal estava feito.

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