Ele me leva até o quarto onde ele estava dormindo, fecha a porta por detrás dele e liga a luz. De início a claridade me cega, mas depois consigo ver que ele realmente está de cueca.
— Nossa, eu nunca quis tanto agradecer a minha mãe por deixar você dormir aqui. — Digo, sentando na cama desarrumada. Parecia que tinha acontecido um furacão ali, mas sabia que era porque ele saíra correndo desesperado com o chamar de Dallas.
— Sem gracinhas, Demi — ele diz enquanto pega a camisa que havia usado horas atrás e a veste. Apesar do tom reprovador em sua voz, pude notar que ele não conseguiu esconder o sorriso que surgira em sua boca ao ouvir minha provocação.
— Você é um chato. — Cruzo os braços e finjo estar chateada por vê-lo metade vestido de novo.
— Eu disse sem gracinhas, Demi. —Repetiu, enquanto sentava-se ao meu lado. — Olha, eu não vou brigar com você, nem vou dizer que o que você ia fazendo era muito errado porque você já tem 23 anos e sabe de tudo o que eu devia te dizer uma hora dessas. Você está em tratamento exatamente por causa de um incidente desses e não vejo necessidade de lembrá-la que isso a faria ficar muito mais tempo por lá. Mas, como seu namorado e seu amigo, acho que mereço saber o que é que está se passando nessa sua cabeça para você querer se matar.
— Eu não queria me matar — minto.
— Queria, sim. — Ele retruca, mas segura minha mão e a virou mostrando meu pulso, como se quisesse verificar se eu realmente não tinha me cortado. — Demi, eu não nasci ontem; pensa que ainda me engana depois de tudo que a gente viveu? — Abaixei a cabeça, derrotada e com vergonha. — Eu só quero saber o porquê. É porque eu te deixei? Ou porque eu fiz você decepcionar seu pai? Ou-
— Você não fez nada. É tudo eu, Wilmer, a culpa é toda minha, eu não devia-
— Não, não, não, não. Pare de pensar assim. Nem tudo que acontece é culpa sua. — Ele me corta, olhando em meus olhos ao dizer cada frase. Ele está assustado e eu não sei mais o que fazer para acalmá-lo quando nem eu estava em condições para estar calma. — Espere. Está dizendo que se arrepende do que aconteceu entre nós?
— O quê? Claro que não, está louco? É só que... A culpa é toda minha, Will. As vozes... Elas estão aqui de novo. Elas me dizem que você não está nem aí para mim, que ninguém está e que o melhor é que eu desista de tudo mesmo. E eu não sei mais o que fazer para afastá-las. — Sinto meus olhos marejarem com o desabafo, mas não ligo. Ele me abraça e sinto que quer juntar todos os meus cacos porque, ao contrário do que queria afirmar para mim mesma, eu estava quebrada e ele parecia ser o único que poderia me consertar. — Mas eu consegui. — Viro o rosto para ele, que está com o olhar profundamente triste e acaricio sua barba, na tentativa de confortá-lo com minha conquista. — Eu consegui impedir que elas mandassem em mim, Will. Eu não me cortei, mas não porque vocês me pararam. Foi porque eu pensei em tudo que aconteceu e percebi que isso era algo estúpido e irresponsável e totalmente sem motivos, porque nada do que essas vozes me dizem é verdade. Foi porque eu pensei em mamãe, papai, Dallas, Maddie, você e todo mundo que está por aí se preocupando comigo. Foi porque eu pensei no quanto quero sair dessa clínica e voltar a dormir sem ter medo de nada fazendo minha cabeça, porque sei que você está lá me abraçando e me protegendo de tudo.
Ele sorri orgulhoso, apesar de ainda ter tristeza em seus olhos por ter visto que eu considerei a possibilidade de me machucar de novo. Seus braços me apertam mais forte e pouso a cabeça em seu peito, deixando que ele me conforte e o sinto colocar o queixo no alto da minha cabeça.
— Eu estou muito orgulhoso de você, sabia? — Começo a chorar de novo, mas sei que não é pelo que ele disse. É por todas as vezes que reprimi meus sentimentos e que tentei tirá-lo da minha vida quando o que mais queria era tê-lo ali; por todas as vezes que eu reagi a algo sem emoções porque não queria me permitir sentir emoção alguma; por todas as vezes que ele dizia que me amava e algo dentro de mim dizia que era mentira, mesmo que seus olhos dissessem o contrário. — Isso, meu amor, chore. Estou bem aqui, pode ficar tranquila. Eu sempre vou estar. — Viro meu rosto para sentir seu cheiro e a última coisa que lembro é de sentir seus braços me deitar na cama e me abraçar apertado, como se quisesse me proteger de todos os monstros da minha própria mente.
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old ways || demi lovato
Fanfiction"E a melhor parte disso é que eu sou a única que pode fazer alguma coisa" 2015-2016 © Plágio é crime! © Correção realizada em 2016