Ela gosta de café

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Existem situações para as quais você não se prepara. Se você é uma criança e um adulto desconhecido te oferece um doce, por exemplo, você sabe que não deve aceitar e corre para alertar seus pais, essa é uma situação para a qual você está preparado.

Brigar com o seu melhor amigo e terminar abraçando o cara que você acredita ser um serial killer no meio da rua, não.

Afasto-me do peito do loiro e enxugo as lágrimas do rosto, a camiseta dele está marcada por elas.

– O que aconteceu? – sinto os dedos dele tocando timidamente uma mecha do meu cabelo que caía sobre os olhos – Alguém fez algo ruim para você?

Sim, respondo mentalmente, meu melhor amigo acaba de me atacar com as verdades que eu tento ignorar.

– Não – respondo em voz alta – Não aconteceu nada – aperto a alça da minha mochila com força para evitar outra tempestade de lágrimas – Se me dá licença – começo a caminhar em direção à minha casa, ele me para.

– Você está com os olhos vermelhos de tanto chorar e ficou uns quinze minutos soluçando no meu peito – a expressão no rosto dele é dura, mas seus olhos o traem. Os olhos acinzentados do loiro me passam tranquilidade – Acho que tenho o direito de saber quem te magoou e, se você autorizar, quebrar a cara do infeliz.

A ideia do garoto da touca hipster batendo em alguém causa um ataque de risos em mim.

Sem que eu tenha controle sobre meu corpo, começo a gargalhar e termino segurando a minha barriga que dói por conta das gargalhadas histéricas.

– O que foi? – Ícaro sorri – O que tem de engraçado em eu entrar em uma briga? Foi isso que te fez rir, né? Ah, eu sou o máximo.

Balanço a cabeça respirando fundo para manter a compostura.

– Eu briguei com o Lucca – solto as palavras como se fossem uma confissão, com aquele tom de voz sério e o olhar ameaçador que diz "não conte a ninguém ou te mato".

– Poxa, isso deve ser horrível – ele troca o peso de um pé para o outro e pausa escolhendo as palavras que vai me dizer – Tenho certeza que as coisas entre vocês vão se ajeitar.

Lembranças sobre quando Lucca e eu brigávamos por brinquedos e doces invadem a minha mente. É claro que agora não brigamos pelo boneco do Batman que ele ganhou de natal, essa briga foi séria e envolveu meus pontos fracos.

– Eu também tenho – sorrio.

Nem mesmo para mim essas palavras soaram sinceras.

Não digo nada antes de caminhar rumo a minha casa deixando Ícaro sozinho e confuso para trás.

Eu conheço meus defeitos, sei que sou mimada, egocêntrica, orgulhosa, infantil e fraca. Como disse anteriormente, não existem pessoas fortes apenas bons mentirosos.

Eu sou uma excelente mentirosa.

O micro-ondas apita avisando sobre meu jantar, uma lasanha congelada, e vou cuidadosamente retira-la dele. Minha mãe não está em casa hoje e um recado na caixa eletrônica diz que ela não sabe se volta esta noite.

Não me dou ao trabalho de tirar a lasanha de sua bandeja, uso um pano de prato para segurar e a levo par a sala onde um copo de refrigerante de laranja com gelo me aguarda em frente a televisão ligada na Netflix.

Dou o play em um episódio aleatório de Gossip Girl enquanto degusto meu jantar solitário. Vejo os personagens interagindo, as intrigas e o glamour que os cercam. Observo bem a Garota do Blog, que ninguém sabe quem é ainda, e como ela consegue ser uma anônima fofoqueira fabulosa com a elite de Manhanttan.

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