Prazo de validade

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É comum que você acorde e não queira sair da cama, que sinta o conforto do colchão moldado pelo seu corpo durante a noite, a maciez do cobertor tocando a pele e a baba escorrendo para a fronha do travesseiro. Acredito que essa seja a melhor sensação do mundo, menos quando os pássaros estão berrando em megafones ao invés de cantar calmamente.

Gemo baixo, um som de descontentamento, e tento erguer minha cabeça e abrir os olhos. Péssima ideia.

Se você quiser saber como um vampiro se sente quando exposto a luz solar, tente abrir os olhos pela manhã e se deparar um quarto iluminado quando você está de ressaca.

– Mantenha a cabeça abaixada – a voz rouca ordena e por um segundo sinto medo de que possa ter sido sequestrada – Beba isso.

Não vejo o copo, mas sinto quando ele é pressionado contra meu lábio inferior. Bebo aquilo que pode ser veneno porque minha boca está seca e a língua parece uma lixa.

Vou me preocupar com a minha saúde quando me sentir melhor.

O gosto do líquido é horrível, caso eu sobreviva vou escrever uma matéria sobre como venenos deveriam ter um gosto bom já que é a última coisa que você experimenta na vida.

Aguarde pela minha carta raivosa, mercado negro de venenos!

– Está se sentindo melhor? – a voz pergunta.

Sinto que só ficarei bem após a invenção da máquina do tempo para que eu retorne e não beba tanto na noite anterior, mas fico em silêncio e volto a me deitar minha cabeça no travesseiro quentinho.

Esse travesseiro têm batimentos cardíacos, coisa estranha.

Hum, ele também está mais quentinho que antes.

Caramba, a respiração do travesseiro brincou com meus cabelos!

Ok, isso não é um travesseiro.

Abro os olhos com muita dificuldade e me deparo com Lucca sorrindo para mim e servindo de travesseiro.

– O que? – consigo perguntou mesmo em meu estado deplorável de pós-bebedeira.

– Oi, Anna. Tudo bem? – ele pergunta irônico – Eu não estou muito bem, tive que cuidar da minha melhor amiga que bebeu muito além da conta em uma festa ontem depois que uns pangarés a jogaram na piscina e ela dormiu. Bêbada. No chão. Na casa de um estranho.

Não sei se ele pausou as palavras para dar ênfase ou ajudar meu cérebro a processa-las.

– Ícaro...?

– Deve estar pior que você – ele suspira – Não acredito que deixou aquele cara te dar bebidas quando você não está acostumada a beber coisas com álcool. Droga, Anna! – ele passou a mão pelos cabelos – Você já foi mais esperta.

Realmente, já fui muito mais esperta.

– Acho que eu só queria saber como é se divertir como os outros adolescentes ao invés de só escrever sobre isso – murmuro encarando a camisa cinza que Lucca usa – Ai meu Deus! – me sobressalto e fico tonta – O blog, preciso postar algo e...

– Não se preocupe – Lucca acomoda melhor minha cabeça em seu busto – Eu postei algumas coisas por você no blog.

– Obrigada – fecho os olhos – Me desculpe por ser um fardo pra você essa noite.

– Você nunca foi um fardo pra mim, Nana Banana – ele começa a fazer cafuné em mim – Entretanto, só vou perdoa-la quando me prometer que não vai mais sair com o Ícaro.

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