Procura-se

277 29 15
                                    


"Duas pessoas só guardam um segredo se uma delas estiver morta.

Elizabeth Wellis era um número invisível, o que significa que não era convidada para festas na piscina e sempre que alguém esbarrava nela no corredor não se desculpava porque nem percebia.

Talvez ela tenha pedido por socorro para alguém, mas essa pessoa também não a enxergou o suficiente para ver que era um pedido.

Sinto muito por não ter enxergado seu sofrimento, Elizabeth.

Entretanto, sempre a vi.

Elizabeth, Jeremy e eu compartilhamos um segredo. Surpreso, Jeremy? Não deveria.

Acontece que a pobre Beth descobriu aquilo que o nosso garotão não queria que ninguém soubesse e passou a ser ameaçada por ele como punição. Alguém ousa defende-lo e dizer que não percebeu como ele a maltratava, mandava bilhetes maldosos e humilhava sempre que possível? Creio que essas foram as poucas vezes em que Beth se tornou totalmente "visível".

Eu guardei o seu segredo pela Beth, Jeremy. Infelizmente, sempre tive consciência de que ela era a única pessoa que sabia e quando descobri – sozinha, diga-se de passagem – não revelei para ela não ser afetada. Isso acaba agora.

Duas pessoas só guardam um segredo se uma delas estiver morta, eu estou viva e te denunciando.

Jeremy gosta de garotos e ouso dizer que como ele te, tanto "asco" disso deve ser o passivo da relação.

Sejam venenosos e rezem pela alma da pobre Beth.

Beijinhos, Secret."

O diretor Gregory concedeu a todos os alunos dois dias de folga – um quando encontraram o corpo da pobre Beth e outro no enterro dela. Não fiquei surpresa ao ver que Lucca e eu éramos os únicos alunos do Saintine presentes e confirmei tudo que estava na carta de suicídio dela pessoalmente ao ver seus pais.

A polícia de Oasis acompanha o blog, eles viram a carta no bolso da garota e mesmo assim não investigaram o caso ou tentaram afastar o pai dela da mãe. Vê-los ignorar a morte dela e a razão pela qual cometeu tal ato só me faz querer vomitar.

Ver os familiares dela chorando enquanto velavam seu corpo só serviu para criar questionamentos em mim. Será que ela alguma vez fez de uma daquelas pessoas sua confidente? Pediu por ajuda e foi ignorada? Quantos dos presentes realmente se importavam com ela e quantos vieram apenas para não parecer feio?

– Nana Banana? – Lucca me acorda do meu devaneio com um milk-shake de morango em mãos.

– Obrigada – pego o copo das mãos dele e fico grata pelo frio que emana dele diretamente para meus dedos.

Lucca fecha a porta do carro e deixa o saco pardo do fast-food em meu colo. Não demora muito para que o motor ganhe vida e ele comece a dirigir em direção a trilha tão familiar.

– Sinto que você precisa de mais do que apenas milk-shake e batatas-fritas, mas não quer assumir.

Ele está certo, fui tola se acreditei por cinco segundos que meu silêncio e cara de desanimo passariam despercebidos para meu melhor amigo.

– Só não estou lidando bem com toda essa situação – suspiro – Conversei com a Beth algumas veze e ela nunca me pediu ajuda, eu só...

Desisto de falar e tomo um grande gole do meu milk-shake. Lucca não precisa das palavras não ditas para compreender o que quero dizer.

SeuSegredo.ComOnde histórias criam vida. Descubra agora