Quando o Cuidado Aquece

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"Então, chegamos a conclusão de que..." Celeste lia com afinco as linhas escritas em uma das milhares de folhas à sua frente. O semestre já estava praticamente na metade e ela e Ayvan estavam tentando adiantar ao máximo o trabalho deles.  Naquela terça feira, no entanto, Ayvan não parecia muito disposto a participar das discussões. "Você ouviu alguma palavra do que eu disse até agora Ayvan?" Ela perguntou cruzando os braços, irritada.

Ayvan grunhiu em voz alta. Há mais de uma semana o sol não dava as caras. Pesadas nuvens de chuva mantinham a todos presos em casa na expectativa de quando elas liberariam suas cargas. Dois dias atrás, logo após Ayden convencê-lo de que era seguro arriscar uma corrida no parque, a chuva finalmente chegou. Encharcados, os gêmeos voltaram para casa e decidiram que a ideia de sair havia sido estúpida. Agora que sua cabeça doía e todo o seu corpo parecia pesar uma tonelada, ele tinha certeza de que o banho de chuva não havia mesmo valido à pena. 

"Desculpa Cel, tô' morrendo de dor de cabeça e não vou ser muito útil hoje." A constante convivência durante as várias semanas desde o inicio do semestre havia criado entre eles uma amizade e um senso de conforto mútuo que o permitia chamar ela pelo apelido que ele havia ouvido Luna usar incontáveis vezes. "Acho melhor a gente continuar isso outra hora."

"Concordo." Celeste disse e logo se pôs a arrumar a bagunça de folhas e livros no intuito de ir para casa. "Se cuida e se precisar de alguma coisa antes do seu irmão chegar, me liga." Ayvan acenou com a cabeça e ela terminou de guardar as coisas. Ele teria rido da forma como Celeste havia citado Ayden, caso sua cabeça não estivesse doendo tanto. A garota se recusava a se quer dizer o nome de Ayden desde o dia em que, duas semanas atrás, logo após o vídeo da festa ter sido liberado, um tal de Simon Hunter havia tentado chamá-la para sair. Aparentemente, Ayden havia presenciado a cena e colocado o cara para correr. Celeste não estava satisfeita.

"Você teria dito não!" Ayden exclamava exasperado quando no almoço, eles discutiam o acontecido.

"Era minha escolha, você não tinha o direito!" Ela disse tão exasperada quanto ele e dali para frente, havia resolvido dar a ele o tratamento de silêncio. 

Ayvan e Luna apenas reviravam os olhos quando a atitude infantil dos dois os tirava demasiadamente do sério. 

Assim que Celeste deixou o apartamento, ele suspirou. Ayden estava em mais um encontro com a insistente Sara Thompson, sendo assim, ele teria todo o fim de tarde e boa parte da noite de paz. Cansado, ele tomou um banho quente no intuito de espantar o frio que parecia estar impregnado até em seus ossos. Tirou os óculos quando os olhos lhe pareceram pesar uma tonelada. Estava com fome, mas nada que ele tinha à disposição era apelativo. Cereal não era uma opção. Ele queria algo quente e se rechaçou por não poder cozinhar. Vencido pelo cansaço, ele se direcionou ao sofá no intuito de ligar a televisão em algum canal de música e tentar relaxar um pouco. Seu caminho até o sofá foi interrompido por algumas batidas leves na porta. Franzindo o cenho ele foi até a porta.

"Celeste?" Uma voz abafada chamou do outro lado da porta. Mesmo abafada, era inconfundível. 

 "Luna." Ele cumprimentou ao abrir aporta. Por um instante ele quis apenas gritar de volta e dizer que Celeste já havia ido para casa. A ideia se foi tão rápida quanto veio. "A Celeste já foi. Terminamos mais cedo hoje." Ele disse sem ser capaz de esconder a careta de dor ao sentir mais uma forte pontada em sua cabeça. 

"Por quê?" Ela perguntou enquanto observava as bochechas coradas e olhos cansados dele mas uma vez, sem o óculos para obstruir a beleza de suas íris. Sua postura não estava ereta como de costume, os ombros curvados. Alguma coisa estava erada.

Perception (Real #1)Onde histórias criam vida. Descubra agora