Quando um Sorriso Encanta

852 110 26
                                    

No inicio da segunda semana de aulas, os gêmeos já se viam um pouco mais acostumados à nova rotina. Ayden soltava com menos relutância o braço de Ayvan ao deixá-lo na porta de sua sala, enquanto o próprio Ayvan lhe sorria agora com um tanto a mais real de confiança. A rotina não era assim tão ruim Ayden tinha que notar. O Campus era enorme, mas ele sabia que a chegada deles, "os gêmeos britânicos", não havia passado despercebida. Ayvan era motivo de sussurros por onde passavam, mas ele sabia que no caso do irmão, não demorariam a se acostumar à sua condição. No seu caso, no entanto, não era somente o par de óculos de sol que chamavam a atenção. Sara, a garota da aula de terça feira, já havia conseguido uns minutos a sós com ele entre um seminário e outro, e ele sabia, pelos olhares apreciativos que as amigas da moça agora lhe lançavam, que havia agradado à nova clientela. Seu bom nome já estava sendo feito. Ele sorriu consigo mesmo de seu pensamento e seguiu seu caminho rumo a mais uma segunda feira. A sala já estava quase completamente cheia quando ele chegou, atravessar Ayvan seguramente pelo Campus todas as manhãs tinha seu preço, mas Ayden não se importava com a atenção que recebia ao chegar com a turma completa. O professor, um senhor de meia idade e olhos cansados mal lhe direcionou os olhos e logo já estava de volta a analisar suas anotações para o seminário que viria a seguir. Ele seguiu em direção ao meio da sala, onde uma cadeira próxima ao corredor estava vaga. A cadeira ao lado era ocupada apenas por uma bolsa, e ele deu de ombros ao se sentar e esperar que a aula finalmente começasse. Não demorou mais do que cinco minutos para que o professor chamasse a atenção da classe para si, e neste exato momento, alguém mais chamou a atenção da turma. Uma loira bonita entrava na sala a passos rápidos e logo ele viu que era ela a dona do material solitária na cadeira ao lado da sua. Ayden cerrou os olhos quando percebeu quem se sentava ao seu lado. Ele se orgulhava continuamente de ter uma boa memória. Sabia o nome de todas as garotas com quem se relacionava, e nunca havia feito o erro de trocar-lhes os nomes. A garota que sentava ao seu lado, no entanto, ainda não tinha um nome com o qual ser associada em sua mente, mas ele conhecia aquele rosto.

"Por acaso você é cego cara?"

"Não, o gêmeo cego na verdade sou eu."

A cena da recepção deles ao novo prédio onde iriam morar o havia rondado a mente por uns dias depois do acontecido. O escárnio na voz de Ayvan era como um soco forte na base de seu estômago. Ayden sabia que o irmão era forte, mas não tão imune ao preconceito como ele gostava de fingir ser.

"Temos um prazo de cinco minutos de tolerância de atrasos depois que a porta se fecha." O velho professor dizia com sua voz monótona que devia ser proibida àquela hora da manhã. "Eu gostaria de dizer que não aprecio quando os alunos fazem uso desta tolerância." E com um olhar mal disfarçado lançado na direção da loira ao seu lado, o professor iniciou sua explicação.

Luna não pode conter um bufar irritado. Seu dia mal havia começado e já estava sendo uma droga. Celeste, sua prima e colega de quarto, havia aterrado o despertador com sua pilha de roupas mal arrumadas. Ambas só acordaram quando o movimentar no corredor havia feito barulho suficiente a ponto de despertá-las. Sua blusa favorita estava suja de café. Ela torceu o pé enquanto tentava pentear o cabelo e calçar as botas de salto alto ao mesmo tempo. Seu celular chamou três minutos antes da aula começar e ela havia entrado de volta depois que o professor já estava iniciando a aula. Era uma ligação de engano, ela descobriu, quando o senhor do outro lado da linha lhe informou que gostaria muito de falar com Nelly, sua neta. Agora, o infeliz professor ainda lhe embaraçava na frente de toda a turma. E o gêmeo de olhar maníaco vizinho da sua irmã estava sentado ao seu lado. Era tudo o que ela podia desejar para uma bendita segunda feira de manhã. Só podia ser seu dia de sorte.

"Acho que isso caiu do seu bolso." O garoto ao seu lado lhe estendeu a mão, e ela estava pronta para pegar o objeto que ele segurava quando ela se deu conta do que era.

Perception (Real #1)Onde histórias criam vida. Descubra agora