Quando a Confiança se Constrói

657 92 36
                                    



Um fato sobre relações interpessoais é que há sempre uma espécie de troca. Trocam-se palavras, trocam-se presentes, trocam-se mensagens, e é claro, trocam-se germes. Quando Ayvan ficou doente, duas semanas atrás, Ayden soube que seus dias saudáveis estavam contados. Assim que Ayvan melhorou, Ayden já estava gripado. Luna, meras vinte e quatro horas depois de seu momento de fraqueza com Ayvan na casa dos gêmeos já demonstrava os primeiros sintomas. A pobre Celeste não demorou muito a ser contaminada. Por esse motivo, demoraram exatamente duas semanas para que os quatro jovens estivessem juntos novamente durante o almoço na faculdade. 

"Vou enviar a conta para vocês." Celeste disse assim que se sentou para comer. Sendo ela a última contaminada, ela foi também a última a se recuperar. "Não quero nem saber quem vai pagar, mas saibam que os remédios para febre e dor no corpo não saem de graça."

"Bom saber que já está bem Celeste." Ayvan disse fingindo não saber do que ela falava. 

"Obrigada pela preocupação." Ela disse irônica e ele riu. Luna não ousou se pronunciar. 

Desde o momento em que ela acordou no apartamento dos gêmeos ela se recusava e encarar o acontecido de frente. Ayvan havia estado sonolento demais para dizer qualquer coisa significativa naquele momento, mas os gestos dele a deixaram sem reação.

Uma, duas, três tentativas. Luna grunhiu quando pela terceira vez ela não conseguiu se soltar do aperto de ferro dos braços que a cercavam e a mantinha presa no sofá . 

"Vamos Ayvan, preciso ir antes do Ayden voltar." Ela disse baixinho mesmo sabendo que ele não ouviria. 

"Fica." Foi a inesperada resposta dele. Os olhos de Luna se arregalaram ainda mais quando ele roçou a ponta do nariz entre os cabelos dela. 

"Agora eu sei como você convence as garotas, garanhão." Ela disse sorrindo e fazendo mais força para se levantar. Enfim, ele parecia estar acordado o suficiente para deixá-la sair. "Seu charme é difícil de resistir."

Ele sorriu um sorriso safado e ela não pode deixar de sorrir também. Sem dizer mais nada, ela se foi.

Duas semanas depois e nenhum dos dois havia esquecido a cena. Duas semanas depois e ninguém havia tocado no assunto. Até agora.

"Ayvan, esqueci de dizer mais cedo, mamãe ligou e disse que ela e o papai já estão de passagens compradas para o dia de Ação de Graças." Ayden disse tirando o irmão de seus devaneios. "Eles compraram com um mês de antecedência mas não vão poder ficar para o Natal."

"Achei que britânicos não comemorassem o dia de Ação de Graças." Celeste falou e foi Ayvan quem respondeu.

"Mamãe é americana. Se mudou para Londres alguns meses depois de a gente nascer."

"Quer dizer então que foi amor a primeira vista?" Luna disse parecendo curiosa devido a resposta de Ayvan.

"Na verdade, ela e o nosso pai demoraram um pouco para se entender. Ela costuma dizer que se apaixonou por nós primeiro. O velho Ethan Jones é que veio de brinde e não nós." Ayden disse e somente quando o silêncio após sua fala durou mais de um minuto inteiro é que ele levantou o olhar do seu hambúrguer para encarar os amigos à sua frente.

"Acho que eu me perdi um pouco na narrativa Ayden." Foi Celeste quem se pronunciou. Luna não demorou a entender o que a fala dos gêmeos significava, mas foi Ayvan quem confirmou as suspeitas dela.

"Kelly Jones não é nossa mãe biológica. Jhulia Cameron, nossa mãe biológica, abandonou o nosso pai assim que nascemos. Ela foi embora com o dono de uma agência de modelos umas duas semanas depois do nosso nascimento. Ela havia pousado para um catálogo de grávidas na agência dele e lá eles se conheceram. Mamãe, Kelly nesse caso, se mudou para Inglaterra por que conseguiu uma posição como assistente social na nossa cidade. Ethan Jones, pai solteiro e estudante Universitário foi o primeiro caso dela." Ayvan concluiu a narrativa e esperou a reação que logo viria. Era um assunto que não o incomodava mais. Toda a cidade onde eles costumavam morar sabia do caso. Nunca antes eles mesmos haviam tido que narrar a história, mas não era algo novo para eles. Era uma verdade que sempre lhes foi parte da vida.

Perception (Real #1)Onde histórias criam vida. Descubra agora