Quando Sentimentos Transbordam

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No momento em que Luna se viu longe dos olhos de Ayden e Celeste, ela parou sua caminhada e admitiu para si mesma que na realidade, não havia em sua mente se quer uma ideia do que faria com o tempo livre que ela agora tinha em mãos. A sua única intenção era a de sair do dormitório o mais rápido possível, para dar à prima a chance de resolver o que quer que ela e Ayden precisavam resolver. O relógio no visor do celular dizia que ainda era cedo. O brilho nos olhos de Ayden dizia a ela que sua volta ao dormitório naquela noite não seria sequer uma opção a ser considerada. Com um suspiro de resignação, ela caminhou até o estacionamento da faculdade onde em um canto bastante afastado, uma empoeirada motocicleta estava estacionada. Luna tirou da bolsa a chave que ela sempre carregava consigo, mas raramente fazia uso, e sem capacete, subiu no veículo. O motor reclamou por algum segundos devido à falta de uso, até que com um arrancar estrondoso, ela se viu deixando o estacionamento. A velha motocicleta era a única coisa que ela havia se permitido trazer consigo de sua antiga casa. Roupas, sapatos, e lembranças, tudo ela tentou deixar para trás. Mas a moto era daquele que a fez querer tomar tal decisão. Daquele que a fez ter a atitude mais covarde de sua vida. Daquele que a fez fugir para se esconder da vergonha de ter sido fraca. Levando consigo a tão amada motocicleta de seu ex, ela tentou convencer a si mesma de que ainda existia algum resquício de coragem presente em seu ser. Roubar a motocicleta de Corey foi o primeiro grande ato de Luna em busca de uma nova vida. Trazer a motocicleta consigo era um lembrete de um passado que ela se negava a ousar repetir. E mais uma vez, ela tomou uma decisão, usando a coragem que agora já não lhe era mais tão escassa, e decidiu que sabia exatamente onde era o seu destino.

Ayvan estava sentado no sofá, ouvindo qualquer programa de TV, quando a porta de seu apartamento se abriu. Com um pulo, ele se pôs de pé, notando que Ayden provavelmente havia esquecido de trancar a porta ao sair, em toda a sua ansiedade. 

"Agora eu entendi o que ele quis dizer com 'desprotegido'." A voz de Luna soou e o coração de Ayvan deu um salto de alívio. "Te assustei?" Ela disse em tom de deboche quando percebeu a expressão presente no rosto dele. 

"Se você está aqui, suponho que meu irmão já tenha chegado ao seu destino, certo?" Ele disse fugindo da pergunta dela e ela sorriu ao perceber que nada o faria admitir que havia se assustado com sua entrada repentina. 

"Chegou e pelo que eu vi, não pretende voltar tão cedo." Ela resmungou se jogando no sofá ao lado dele e ele se virou para ficar de frente para ela. 

"Você foi expulsa do seu próprio dormitório?" Ele perguntou, de repente parecendo achar graça da situação. 

"Não é que eles me expulsaram, tá' mais para eu ter fugido enquanto era tempo." Ela disse ainda tentando soar irritada, mas a diversão era clara em sua voz. "Quis apenas livrar minha pobre e inocente mente de ser para sempre traumatizada." 

"Agora sou eu quem vai ficar traumatizado!" Ele disse e ela não pode deixar de dar risada, sabendo que ele estava sem sombra de dúvidas imaginando a cena entre Ayden e Celeste que seria capaz de traumatizar Luna. 

"Acho que dessa vez eles se acertam de vez." Luna disse, sóbria. 

"Espero que sim." Ayvan respondeu, simples. 

Dois minutos se passaram, onde só o barulho da TV quebrava o silêncio. 

"Acho que isso me faz oficialmente uma sem teto por uma noite." Luna disse e Ayvan continuou encarando a TV. Ela podia jurar que ele estava usando o silêncio como tática para fazê-la confessar mais de pressa onde é que ela estava querendo chegar com tal linha de pensamento. "Summer não tem mais um quarto de hóspedes agora com o Keith por lá..."

Quando os próximos dois minutos se passaram em puro silêncio, ela se ouviu bufar, irritada, e se jogou com mais força contra o encosto do sofá, cruzando os braços. 

Perception (Real #1)Onde histórias criam vida. Descubra agora