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POV Lauren

Sabe aquela sensação de não saber o que fazer, de não saber reagir, só querer sumir do mundo até que tudo volte ao normal e perceber que tudo isso era apenas uma piada cósmica? Então, me sinto exatamente assim. Nunca pensei que um dia estaria passando por tudo isso, ainda não consigo acreditar que esse turbilhão de coisas está acontecendo. Eu estou algemada, dentro de uma viatura indo à uma delegacia. Estou tentando, mentalmente, melhorar a situação e ver o lado bom disso. "Mas não tem lado bom, Lauren!!!" você deve estar pensando mas veja bem essa situação de agora, eu estou algemada. Ok. Isso não me incomoda, não mesmo, já estou acostumada. Não que eu tenha sido presa outras vezes, mas Camila tinha alguns fetiches um pouco extravagantes. Essa viatura em que estou, tem uma rádio e está tocando uma música que eu amo: Powers do Lostboycrow. Essa música me lembra muito a Camila, a letra a descreve perfeitamente. Tudo bem, eu confesso, tudo aqui me incomoda.

Vou olhando a paisagem através da janela tentando memorizar tudo que vejo, pois talvez essa seja a última vez que passo por aqui. Vejo o Royal Victoria Hospital, são 18:27, estou quase meia hora atrasada, com certeza já estão me ligando. Com certeza algum policial está com o meu celular, mas se alguém ligar, será que ele vai atender? Eu deveria ter gravado uma caixa postal do tipo "Oi, você ligou para Lauren, fui presa, não posso atender, deixe seu recado após o sinal. Obrigada!" Ok, sei que a piada foi péssima mas veja bem, 10 anos com Camila fizeram efeito. Camila. Ah, minha Camila, meu amor, eu não sei o que faço sem você, o que será de mim, Camz? Por que eu não estou no seu lugar, Camila, por quê? Por que isso está acontecendo comigo? Eu sei que nós nunca fomos exemplos para ninguém, mas não acho que merecíamos esse fim tão trágico. Como vou criar o meu filho? O nosso filho? Você sempre quis tanto esse bebê, Camila, e agora você não vai poder presenciar isso, você se quer sabia da existência dele. Nós não merecíamos isso meu amor, não mesmo.

- Senhora Cabello-Jauregui, por favor saia do carro - O policial me tirou de meus pensamentos, estava mais para monólogo mas tudo bem. Ao sair do carro e ele pega em meu braço com força. Entramos na delegacia e ele me leva até o fim corredor onde tinha uma sala um tanto quanto sofisticada. Ele para na porta e pede licença - pelo que vejo o bruta montes sabe ser educado, nem parece que quase arrombou a minha casa. Olho para a porta e nela estava escrito "Delegado Patterson" e um homem meio rechonchudo, calvo e aparentemente ranzinza nos manda entrar.

- Delegado, esta é a senhora Cabello-Jauregui - diz o policial que finalmente largou meu braço.

- Oh, sim, obrigado policial Whitmore. Senhora, sente se por favor. - Sentei-me sem falar uma única sílaba e esperei Patterson continuar.

- Pois bem minha cara, eu sou Joseph Patterson, o delegado dessa unidade, presumo que já saiba o motivo de estar aqui, certo, senhora, como se chama mesmo? - Ele pergunta meu nome, mas demoro um pouco para responder até que Whitmore, que estava de pé ao meu lado, tocou meu braço e pediu sutilmente para que eu respondesse.

- Incrível!! O senhor envia um mandato de prisão para minha casa e ainda pergunta meu primeiro nome, delegado? Me chamo Lauren, doutora Lauren Cabello-Jauregui. - Vejo Patterson arquear a sobrancelha, surpreso com minha resposta.

- Doutora? Então a senhora é médica? - Ele pergunta, creio que já sabe a resposta, até porque eu não diria que sou doutora se eu fosse sei lá, uma escritora.

- Sim, delegado, sou cardiologista e cirurgiã chefe da equipe médica do Royal Victoria. - Ouço um barulho de teclas de computador e percebo que no fim da sala tem uma mulher digitando tudo que digo.

- E trabalha lá há quanto tempo? - Pergunta Patterson.

- Há quatro anos. - Digo sem entender o porquê de toda aquela enrolação.

- Presumo que a senhora seja casada, correto?

- Sim... - Eu travo. Tenho que me acostumar a falar isso. - Ou melhor, sou viúva, senhor delegado.

- Tão jovem e já és viúva!! Me perdoe, eu não sabia. - Pela primeira vez Patterson parecia estar finalmente falando a verdade, sua cara de espanto foi bem verdadeira, o que me surpreendeu pois imaginava que ele teria alguma informação sobre Camila.

- Sim, delegado, fui casada por quase oito anos, minha esposa faleceu na noite passada. - Seguro as lágrimas, não posso demonstrar fraqueza, minhas mãos estão suando frio e parece que minha cabeça pesa uma tonelada.

- Whitmore, pegue um copo de água para Lauren por favor. - O policial saiu me deixando com Patterson e a mulher que continuava digitando em seu notebook. - Lauren, eu sinto muito pela sua esposa. Pelo que sei o nome dela era Camila, Karla Camila Cabello-Jauregui. Vocês se mudaram para Belfast há quatro anos. Por que vieram para cá, Lauren?

- Nós queríamos nos mudar para cá depois do casamento. Camila queria uma vida nova. Desde quando nos conhecemos até aquela época muita coisa aconteceu, ela teve alguns problemas com a família, com alguns amigos e ela se descobriu, praticamente, estéril. Queríamos viver em um ambiente novo, longe de tudo. Por isso decidimos nos mudar para cá junto com algumas amigas que, por causa do trabalho não ficam tanto aqui. - Essa era parcialmente a verdade. Não menti para o delegado, mas omiti alguns fatos, não quero falar nada sem a presença de Dinah, ela com certeza vai me defender no tribunal.

- Eu entendo, Lauren, vocês não foram o primeiro casal a se mudar para cá e ter uma vida melhor, eu compreendo o lado de vocês e suas amigas, mas vou direto ao assunto. Na noite passada um policial estava fazendo sua ronda e estacionou a viatura no final da rua Patrick Hornaday. Ele estava andando na rua e viu um corpo caído no chão em uma das esquinas. O corpo era de um homem e foi identificado pela perícia como Matthew Timothy Healy. Ele tinha 31 anos, pele clara, cabelo cacheado, alto, magro, tatuagem no peito. - Eu prendi a respiração e ele continuou. - O rapaz levou um tiro na costela e ao lado do corpo tinha uma arma modelo 380 cromada. O revólver foi levado para análise e tinham digitais nela. As digitais eram suas. Você está ciente disso?

- Sim, delegado Patterson. - Dizer aquilo ainda doía. "Ah Lauren mas você o matou" Eu sei mas... Argh, depois de tudo que aconteceu na Flórida eu ainda tinha esperança que ele voltaria a ser o Matty que eu conheci. Neste momento o policial Whitmore entrou na sala e me deu o copo de água enquanto o delegado respirava fundo como se estivesse se preparando para alguma coisa.

- Lauren, você assassinou o senhor Healy? - Perguntou Patterson

Engoli toda a água e decidi responder sem delongas.- Sim, delegado. Eu o matei.

Patterson arregalou os olhos, espantado com a minha resposta, mas não disse nada. Ele olhou no fundo dos meus olhos, deveria estar tentando ler meus pensamentos ou estava simplesmente admirando meus belos olhos verdes, mas ele simplesmente não disse nada.

- Por que, Lauren? Me dê um motivo. - Patterson perguntou depois de alguns minutos, mais curioso que espantado.

- Por que delegado? Você quer saber o por quê? Pois bem, delegado Patterson, uma vida pela outra. Matthew matou minha Camila.

Never look backOnde histórias criam vida. Descubra agora