Sangue de Lobo - Veia de Lobo

Capítulo 4 - Argumentar

Capítulo 4 - Argumentar

13 dias antes do acontecido

   Bill sabia que iria sentir falta de Mya. Mas não sabia que tanto. Da maneira como ele estava, a ansiedade era a sua companheira, e estava lado a lado com ele.

   Ela havia avisado que iria chegar um pouco atrasada, só que já haviam passado quinze minutos - tempo mais que demorado para um garoto apaixonado esperar a amada -.

   Apesar da ansiedade, um sentimento de curiosidade afligia-o instintivamente. Durante a ligação, acabou que Bill percebeu que a voz de Mya estava um pouco diferente. Mais atordoada, e de certa forma mais cansada. Porém, acima de todos esses sentimentos, reinava a tristeza. Algo tinha acontecido para que Mya ficasse daquele jeito, e Bill temia que ele (ou melhor, Myrella) fosse a causa principal disso.

   Quando ouviu passos, não muito distantes da Casa, soube logo que era sua amada. Todos os Selvagens, inclusive Fernanda, estavam na cidade: alguns devido à assuntos pessoais, outros à trabalho.

   O garoto não esperou até ela chegar nele. Abrindo a porta da frente com agonia, usou sua velocidade lupina para se deslocar para a frente, e em menos de um segundo estava na frente de Mya.

   Quando a beijou, sem conseguiu esperar mais, foi que sentiu que alguma coisa estava errada. Mya estava retribuindo o gesto, porém não de forma "apaixonada". Seus lábios se movimentavam apenas por que os de Bill os impulsionava. Era o suficiente para matar a saudade do Alfa, mas não o bastante para que se tornasse saciante.

   -Aconteceu alguma coisa? - perguntou ele, colocando o polegar cautelosamente embaixo do queixo dela e o levantando. Seus olhos estavam brilhando, de um jeito estranho e diferente. Bill não precisou usar sua visão aguçada para perceber isso. - Sua voz estava estranha durante nossa última ligação... E agora, vendo-a de perto, posso perceber que algo lhe atormenta.

   -Bill... Tem algo que eu preciso contar à você. - ela dá um passo para trás, afastando o toque do garoto dela.

   -Dá para perceber. - Bill não quis perder tempo esperando as palavras escaparem da boca de Mya. Com uma rápida olhada no rosto da garota, ele tentou juntar o máximo de informações que pôde. Porém, Mya tinha conseguido esconder qualquer resquício aparente, de forma que nada Bill conseguiu esclarecer - a não ser o fato dela estar tão agitada para significar que esteja preocupada com alguém que não seja próxima da mesma -. - Não gostaria de explicar o que aconteceu.

   Mya olhou em volta, virando-se de costas para Bill. Enquanto enfiava as pontas dos dedos nos bolsos da calça, sua mente passou a fluir por alguns instantes. Se ela dissesse o que queria dizer à ele, as consequências seriam desde uma solução rápida até à morte da Sara, já que esta poderia ser uma ameaça à população de Golden Make. Porém, se deixasse no anonimato, seria ainda pior.

   Ela tinha que arriscar. Sara já tinha matado seus pais. Mya não deixaria isso acontecer com mais ninguém.

   -É a Sara... - respondeu, virando-se. Seus cabelos negros fizeram um movimento que hipnotizou Bill. Mesmo o assunto sendo sério, ele não podia parar de perceber o quanto sua namorada era perfeita. - Eu acho que ela representa uma ameaça à cidade.

***

   O café de Ryan estava ficando frio. Há cerca de vinte minutos, a garçonete do Make's Coffee o serviu, junto à uma xícara de porcelana por cima de um pires florido - não sem durante o processo receber uma sessão de olhares dela -.

   Porém a vontade dele de desfrutar do líquido preto não existia. Ele só fez aquele pedido para que pudesse permanecer na cafeteria.

   Aquele lugar, ele descobriu, ficava na principal rua de Golden Make. Com certeza cerca de noventa por cento da população passa por ali todos os dias - e era o que ele esperava acontecer -. Sua mesa ficava perto de uma enorme janela, que voltava-se para a rua. Enquanto suas mãos brincavam com a xícara à frente, seus olhos passeavam pelas calçadas, ruas e até mesmo nos interiores dos carros - até aqueles com vidros revestidos com papel fumê -.