Capítulo 2 - Trair

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Capítulo 2 - Treinar

14 dias antes do acontecido

Scott olhava para Ivyla de uma forma especial. Desde que fora transferido de cidade e, assim, mudando para a Make High School, havia sentido uma forte conexão com a garota, o que foi se tornando mais forte e persistente conforme o tempo ia se decorrendo.

Mas sua timidez atrapalhava seu caminho em vários momentos. Teve vezes em que ele mal conseguiu falar com a garota. Porém, a partir daquele momento, Scott jurara que tentaria ao máximo conquistar Ivyla. E era o que faria.

-Tem algo de errado com minhas amigas. - disse a garota, mexendo a ponta de seus dedos furtivamente contra a tela de seu celular. O modo como seus olhos corriam no visor do celular proporcionava que a emoção sentida por ela era preocupação.

Scott, sentado ao seu lado, tentou pensar em algo para lhe dizer. O vento que corria pelo Golden Park fazia seus cabelos balançarem livremente no ar, bagunçando sua nova franja e a colocando no lugar novamente. Com um movimento da mão, ele leva a franja para o alto da cabeça, deixando sua testa exposta.

-E eu odeio não saber de nada! - exclama por último, bloqueando seu celular com frustração. Sua cabeça pende para baixo, enquanto seus olhos avaliavam a grama que cobria grande parte do parque.

Scott decide mentalmente que, se queria acabar com sua timidez, então o momento que poderia aderir seria aquele. Se arrastando pelo banco de madeira os poucos centímetros que os separavam, o garoto joga seu braço por sobre o ombro dela. No começo, ele se sentiu envergonhado pelo gesto - achando até que suas bochechas tinham se avermelhado durante o processo -, mas quando Ivyla encosta o alto de sua cabeça contra a dobra de seu pescoço, ele sentiu que a timidez era deixada de lado, deixando no lugar uma sensação de coragem e bravura.

-Você acha que eu estou me preocupando à toa? - perguntou ela, com uma voz melancólica, que deixava à mercê toda a bravura presente em seu corpo. - Em relação às minhas amigas?

-Acho que não. - disse ele, sentindo seu perfume suave de várias fragrâncias, misturadas de uma maneira aromática. Senti os finos fios de cabelo contra sua pele deixava-o ainda mais envergonhado, ao mesmo tempo em que ele ficava mais feliz por tê-la ali. - Elas são suas amigas, e você está preocupada com elas. Não vejo problema algum nisso.

Ivyla se afasta lentamente do amigo, até que suas costas novamente ficaram encostadas contra as do banco. Scott se sentiu triste pela distância que ficara entre eles, mas nada disse.

A garota coloca uma mecha rebelde de seu cabelo atrás da orelha, e pigarreia um pouco antes de dizer:

-Acho que elas estão escondendo algo de mim. Algo de importante. - a forma como foi dita essas orações fora em voz baixa, como um sussurro jogado ao vento.

Scott respira fundo antes de dizer, pois não queria gaguejar. Não mais. Não perto de Ivyla.

-O que a leva a tomar essa conclusão? - perguntou. Olhou na sua direção, não querendo demonstrar fraqueza, mas também não querendo adquirir uma pose autoritária.

-Praticamente tudo. Tanto Mya quanto Sara se tornaram... estranhas... - disse, em falta de uma palavra mais apropriada para a situação. -..., de uma hora para outra. E o fato delas não terem mencionado comigo torna tudo ainda mais suspeito. Se elas preferem tanto deixar algo no profundo segredo, então é porque há algo envolvido.

Mas antes que Scott pudesse se pronunciar, Ivyla se intromete:

-E como a boa e preocupada amiga que sou, vou investigar à fundo o que está acontecendo entre elas. E é aí que entra você. - disse, dirigindo-se ao garoto subitamente.

-É aí que entro aonde? O que você precisa, da qual vou ajudá-la?

-Preciso que me ajude com a investigação. Se há algo de estranho entre Mya e Sara, então nós descobriremos logo.

***

-E isso é tudo o que eu sei. - disse Myrella, ao término de sua narrativa sobre seus conhecimentos do paradeiro da Cura. - E é então que você diz que irá me ajudar.

Bill tinha ficado quieto durante toda a narração, apenas recebendo as informações e as armazenando em seu cérebro. Seus músculos entraram em petrificação, e mesmo ao final da explicação da Ômega, sua posição não mudou nada. Foi aos poucos que se percebeu os indícios de movimento, até que Bill Jordan troca de posição, possivelmente por não se sentir confortável.

-A história é muito convincente, devo admitir. - disse ele, esfregando a nuca com a mão. - Provavelmente você seria uma ótima escritora para livros de ficção.

Myrella, em vez de se sentir magoada pelo comentário, explode em uma gargalhada alta e histérica, tanta que os ouvidos aguçados de Bill doeram, diante de uma mudança súbita no volume do som.

-Por favor, poderia fazer a gentileza de não gritar enquanto ri. - pediu ele, tentando colocar raiva, alerta e educação em uma mesma frase. - Se não se lembra, ninguém sabe que está aqui.

-Eu me lembro desse detalhe. - disse Myrella, com a risada aos poucos morrendo em sua garganta. - Me desculpe, mas é que não consegui me controlar!

-Mas o que causou mesmo esse ataque de risadas? - perguntou Bill, com a testa franzida.

-A sua desconfiança, ora. Você acha mesmo que eu inventei toda essa história que acabei de lhe contar sobre a Cura?

-Infelizmente, vindo de você se pode esperar qualquer coisa.

O movimento que Myrella fez a seguir quase não foi capaz de ser perceptível à olhos humanos. Ela movimentou seu corpo para frente, empurrando o de Bill para trás, até que as costas dele encostassem na parede mais próxima. Bill não se deixou intimidar, mas sentiu que estava traindo Mya com a simples aproximação do corpo de Myrella ao seu.

-E pode mesmo. - disse ela, sussurrando de forma graciosa perto do ouvido do garoto. Os batimentos cardíacos dele aceleraram, batendo contra as costelas com fervorocidade.

Então a audição dele captou um ruído. Foi tão rápido que, se a concentração não fosse plena, teria passado despercebido.

-Espere... - disse ele, em parte pelo ruído; em parte por querer manter distância da garota. Quando há espaço entre os dois, Bill anda na direção da porta da Casa, mantendo a concentração naquele ponto.

Havia alguém lá fora. E pelo modo como andava - a forma como pisava no Chão Natural (apelido do chão da floresta, devido à este ser forrado de folhas caídas), o modo como os barulhos eram mais constantes que o normal. -, Bill não conhecia. Não era de seu bando. Não era um Selvagem.

Havia um invasor em seu território.

Continua...

Sangue de Lobo - Veia de LoboOnde histórias criam vida. Descubra agora