Capítulo 11 - Mare

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  Acordei sentindo um gosto ruim na boca. Não estava sentindo fome alguma e meus lábios estavam secos. Pouco tempo depois, uma enfermeira entrou no meu quarto. Era a mesma que uma vez tinha me aplicado uma injeção e com essa lembrança, hesitei em falar com ela.

Ela permaneceu parada e me observando por um instante, em silêncio. Eu não estava olhando para ela, mas conseguia sentir seu olhar sobre mim mesmo com os olhos fixados numa cadeira perto da porta.

— Hoje teremos uma exposição de arte — ela começou, soando cautelosa. — E todos irão fazer uma pintura. Você vai receber os materiais quando for tomar café da manhã.

Assenti com a cabeça. Aquilo não parecia uma pergunta ou um convite, mas uma afirmação.

Quando cheguei na área verde de Autumn Falls, Dylan estava distribuindo um kit de duas telas, algumas tintas e alguns pincéis.

Assim que terminei de comer, fui até Dylan pegar o meu kit. Estava ansiosa para pintar e... para falar com ele.

— Boa tarde — ele falou, sorrindo.

Eu balancei a cabeça, dando um sorrisinho.

— É pra fazer duas pinturas ou só uma? — perguntei, confusa.

Dylan parecia não ter entendido a pergunta mas logo se deu conta do que se tratava.

— Ah, não — respondeu. — A outra tela é pro caso de uma das pinturas der errado.

Ah.

Peguei minhas telas e tintas, e observei-o por alguns momentos.

— Faça algo bem legal — Dylan falou.

Assenti.

— Vou tentar.

Eu pedi à enfermeira Elounor para que me deixasse pintar no meu quarto, assim seria mais fácil para que eu me concentrasse e ninguém veria minhas obras antes da hora. Foi Dylan quem me acompanhou de volta ao meu canto, e nenhum de nós falou sobre o dia anterior. Eu estava... feliz. E com vergonha. Apenas abaixei a cabeça dando um sorriso tímido antes de entrar e o vi rapidamente se despedir com um movimento da cabeça.

...

Todos de Autumn Falls estaríamos no evento. Funcionários, pacientes e eu deduzi que Dylan também estaria. Eu não o tinha visto mais durante aquele dia — para falar a verdade, não entendia bem os horários os quais ele estava em Autumn Falls, mas desejei do fundo do meu coração que ele estivesse ali naquela noite. Especialmente naquela noite. Eu tinha feito duas pinturas. Uma seria a que eu levaria para a exposição e, a outra, uma que eu tinha feito especialmente para Dylan.

A tela da exposição era o desenho de um céu estrelado com uma lua cheia. Da última vez que eu vi uma lua cheia, estava com Dylan, então usei toda a imaginação que fosse possível. Nas estrelas, usei um tom de cinza — o mesmo que usei na lua. Eu não tinha muita ideia do que estava fazendo, mas não tive ideia melhor. Não era como se pintar fosse uma das minhas coisas favoritas na vida mas me mantinha distraída e concentrada por um tempo.

A enfermeira Elounor tinha sugerido que eu ficasse bem bonita para aquela noite, mas eu não sabia exatamente como fazer isso. Apenas coloquei uma camisa que não estivesse tão surrada, prendi o cabelo num rabo de cavalo e passei um pouco de maquiagem — que eu nem sabia como passar direito, mas acho que no final deu tudo certo.

Eu ainda vivia me perguntando se no final as coisas ainda davam certo ou se isso ficou no passado — junto com a minha sanidade, talvez.

Abaixei os olhos procurando minhas sandálias e as avistei debaixo da cama. Sentei e puxei-as para os meus pés. Quando desci os olhos para os meus pés, vi uma pequena mancha no pé esquerdo. Passei os dedos por cima, tentando entender de onde surgira aquilo, não lembrava de tê-la visto antes.

Incontrolável / Com Amor, MareOnde histórias criam vida. Descubra agora