Prólogo

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18 anos atrás.

  Era uma manhã ensolarada quando eu a vi pela primeira vez. Seus cabelos pretos dançando com a brisa que passava através da janela do sexto andar do prédio em que eu trabalhava. Por um momento, senti como se o tempo tivesse parado — ou, pelo menos, desacelerado consideravelmente. Não conseguia sequer distinguir de tão hipnotizado que me sentia. Ela não estava olhando para mim — ao invés disso, apoiava seu queixo na sua mão direita, e encarava distraidamente para o céu.

  Não sei por quanto tempo fiquei ali, só me dei conta do meu próprio corpo e do restante do mundo ao meu redor quando senti um cutucão no ombro. Quase saltei de susto.

  — Puta merda — resmunguei.

  Meu colega de trabalho, Will, deu uma risadinha.

  — Foi mal, não quis te assustar — seus olhos se estreitaram enquanto ele me encarava. — O que foi? Por que tá com essa cara?

  Dei de ombros.

  — Que cara?

  Uma de suas sobrancelhas se elevou, e eu sabia que tentar mentir — ou até mesmo omitir — para Will era inútil.

  Levantei meu olhar para a janela do sexto andar, mas a moça não estava mais lá. Suspirei. Acredito que uma parte de mim se sentiu até aliviada, porque o sentimento que eu tive quando a vi foi tão... intenso, que eu tinha a sensação de que precisava me preparar para lidar com encontrá-la outra vez. De repente, minha mente deu um salto para questionamentos do tipo: como posso me aproximar dela? Será que vamos estar trabalhando no mesmo setor? Mas minhas perguntas foram interrompidas por um limpar de garganta de Will.

  — Vamos entrar, já tá em cima da hora de bater o ponto — repliquei, evitando seu olhar, mas sabia que mais cedo ou mais tarde, cederia e contaria a ele. Porque ele era um intrometido e... bem, Will era meu amigo.

  Felizmente, não demorou muito para que ele começasse a tagarelar sobre como foi o seu fim de semana.

  — Na próxima festa lá no apê, não vou te deixar faltar — ele prosseguia, sem que eu sequer tivesse espaço para responder. E talvez fosse melhor assim. Não tinha muito o que falar sobre festas para as quais eu não tinha o menor interesse em ir. — E também quero te apresentar à Agatha.

  Agora foi minha vez de arquear uma das sobrancelhas, em questionamento.

  — Está ficando sério mesmo? — quis saber, com um tom provocativo em minha voz. Will sempre fora o tipo de pessoa que evitava relacionamentos sérios.

  Ele abaixou a cabeça, passando uma das mãos por sua nuca, num gesto rápido, mas não respondeu. Eu apertei o botão 6 do elevador. Antes que o mesmo pudesse começar a fechar suas portas, Will e eu avistamos de longe um "colega" de trabalho que eu, particularmente, detestava. Apertei o botão de fechar as portas várias vezes seguidas.

  Will me encarou com uma expressão de julgamento que me deu vontade de rir, e colocou o braço entre as portas antes que elas se fechassem, e o rapaz entrou. Seu nome devia ser Bryan, Bruno ou Bob... Enfim, algo com B.

  — Obrigado — Bob falou, passando a mão pela gravata. — Bom dia, pessoal.

  Eu não tinha exatamente um motivo digno para não gostar do Bryan, eu só... não gostava. Mas  também nunca o tratei mal por isso, não faria isso com ninguém.

Incontrolável / Com Amor, MareOnde histórias criam vida. Descubra agora