Prólogo

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Um ano atrás

Uma terrível tempestade estava ameaçando cair sobre Santa Kennedy, uma cidadezinha localizada nas ilhas norte da Nova Zelândia. As nuvens acinzentadas cobriam toda a paisagem urbana, antes límpida. Os trovões castigavam o céu mais ao longe.

Alexia Grimes estava cada vez mais impaciente de onde estava e tentava se proteger da chuva e do vento frio que açoitava o começo da noite, segurando do melhor jeito um humilde agasalho com as iniciais do time de hóquei do colégio, erguendo-o sobre os braços finos por cima da cabeça, na melhor tentativa de salvar sua roupa.

A loira de olhos verdes andava de um lado para o outro. Após um suspiro longo e pesado, ela observou os postes de luz se apagarem aos poucos, deixando a estrada abandonada em que se encontrava no escuro com uma aparência incrivelmente assustadora, sendo iluminada apenas pela lua. A música alta que vinha da casa abandonada no fim da estrada dava-lhe dor de cabeça e ela revirou os olhos para toda aquela situação que era, no mínimo, idiota.

A verdade era que nem ela entendia o motivo do encontro ser marcado. Tinha quase cem por cento de certeza de quem era a pessoa que se escondia por trás das mensagens ameaçadoras que ela andava recebendo e ele ou ela, quem quer que seja, não tinha motivos para se encontrar já que fora desmascarado. Afinal, o que ele iria fazer? Chorar por perdão e depois pedir desculpas? Se aquele retardado realmente fosse dar as caras e enfrentá-la, ela precisaria estar devidamente preparada para chamar a polícia antes de chutá-lo na bunda.

Lexi ouviu um trovão chicotear no céu e sentiu os pingos gelados da chuva de outono molharem sua pele. O casaco já estava ensopado. A garota estava quase caindo fora dali, quando galhos se remexeram ao seu lado e ela parou de andar de volta para a direção da festa. Seus olhos percorreram as árvores que circundavam a velha rodovia esburacada, procurando pelo rosto conhecido que era motivo de seu ódio. Sua visão era limitada por culpa da chuva e ela não viu o momento em que a pessoa, vestida de preto da cabeça aos pés e com um capuz, aproximou-se por trás e cobriu sua boca, impedindo que gritasse.

O primeiro instinto da garota fora morder as mãos enluvadas que a impossibilitavam de pedir socorro, mas a pessoa parecia estar esperando por isso e soltou a loira, empurrando-a bruscamente para o chão. Lexi até tentou se equilibrar, porém os saltos dificultaram seu trabalho e ela caiu, arregalando os olhos quando o encapuzado levantou uma foice e aproximou-se dela.

— É mal-educado matar as pessoas sem perguntar quais são as suas últimas palavras. — ela debochou, porém sua voz fraca denunciou seu medo.

O encapuzado sorriu satisfeito, Alexia Grimes era orgulhosa demais para baixar guarda e não tinha sensação melhor do que ver o pavor estampado no seu rosto de porcelana. A abelha rainha de Santa Kennedy, perfeita e aparentemente sem nenhum defeito, agora não passava de uma qualquerzinha com medo de pagar pelos seus pecados.

Poucos minutos antes da lâmina acertar seu rosto, Lexi rolou para o lado, sentindo o asfalto molhado entrar em contato com sua pele. Ela levantou-se e reuniu todas as forças que conseguia nas pernas para começar a correr.

A chuva abafava seus passos desesperados, seus cabelos loiros estavam emaranhados e grudados à face por conta da lama. Seu uniforme branco de enfermeira estava rasgado.

Foi nessa hora que tudo fez sentido.

Era o primeiro dia de aula. Todos os adolescentes da cidade estavam na festa dos veteranos e Lexi podia apostar de olhos fechados que a maioria dos alunos já estavam bêbados demais para lembrar de seus nomes. Mesmo com a mensagem enviada para suas amigas poucos minutos antes, dizendo que elas deveriam se encontrar à meia-noite em frente à casa, nenhuma delas havia retornado dizendo que iria. A festa sem nenhum responsável por perto, a grande quantidade de bebidas e as fantasias para ninguém conseguir identificar ninguém, tudo era uma armadilha. Ninguém iria ouvir se ela gritasse por ajuda e ninguém iria lembrar de que Alexia Grimes existia.

Lexi entrou em pânico.

Era o dia perfeito para matá-la.

Ela continuou correndo, sabendo que agora sua vida não era mais uma brincadeira. O assassino realmente estava ali para matá-la. Os saltos que usava estavam machucando-lhe os pés e ela fez a infelicidade de parar para tirá-los no meio do caminho.

 — O que quer de mim? — ela gritou quando ouviu passos atrás de si, suas mãos imediatamente voaram para seu pescoço, onde ela procurou desesperadamente pelo estetoscópio que fazia parte da sua fantasia para usá-lo como defesa, mas não o achou. — Desculpas? Dinheiro? Eu posso pagar.

Os galhos novamente mexeram-se e ela virou-se na direção do som. O medo controlava seus músculos e seu coração estava quase saltando pela garganta. Da sombra das árvores, a figura humana saiu e aproximou-se da garota em um piscar de olhos. Antes mesmo que Lexi dissesse alguma coisa, o anônimo avançou sobre a loira e como ela estava em desvantagem, conseguiu facilmente agarrá-la pelos ombros.

Lexi começou a debater-se e querendo salvar sua vida, acabou acertando uma cotovelada no rosto da pessoa. Ela olhou a cena espantada e quando sentiu o aperto ficar mais fraco, escapou e continuou correndo até que uma pancada forte em sua cabeça a fez ficar tonta e cair no chão.

A escuridão logo começou a invadir sua consciência e ela respirava grandes quantidades de oxigênio enquanto se arrastava com dificuldade pelo asfalto que arranhava sua pele. Ela sentiu a lâmina afiada rasgar seu ombro e a última coisa que viu foram as mãos enluvadas da pessoa retirando cuidadosamente o capuz, revelando um sorriso vitorioso por debaixo da máscara branca que cobria apenas metade de seu rosto.

A garota não conseguiu ficar surpresa ao ver quem era por debaixo da fantasia. A foice veio novamente em sua direção e ela sentiu uma dor tão forte no peito que foi incapaz de continuar com os olhos abertos.

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